um plano arriscado

15 dias depois

O céu da Europa tinha um tom acinzentado que parecia refletir perfeitamente o que se passava dentro de Zaria. Já se passaram quinze dias desde que deixara a Coreia e embarcara naquela turnê-relâmpago, estrategicamente arquitetada por seu empresário para desviar os holofotes do escândalo. Na superfície, era um mês de promoções, ensaios e aparições em programas de rádio e TV. Mas por trás disso, era um mês quieto. De distância. De ausência.

Zaria passava as manhãs ensaiando com sua equipe e as tardes em entrevistas — sempre sorridente, polida, dizendo o que era esperado. À noite, sozinha no quarto do hotel, ela retirava os brincos, a maquiagem, o figurino, e com eles, todas as camadas de proteção. Era ali, deitada na cama king size, que ela se permitia sentir. A saudade de Yuna, o peso da escolha, o medo do futuro.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, Yuna estava imersa em um mundo completamente diferente. As gravações da série haviam começado a todo vapor. O set era agitado, com diretores gritando indicações, câmeras em movimento constante e atores repassando falas nos cantos. Yuna, como protagonista da série, precisava estar atenta, presente e envolvida. E ela estava. Pelo menos, tentava.

Era sua primeira grande produção desde a exposição, e apesar da felicidade calculada que mostrava diante da equipe, sua mente insistia em vagar para longe. Para Paris. Para Zaria.

A distância parecia cruel. Ainda se falavam, é claro. Mas eram mensagens rápidas, perdidas no meio de agendas apertadas e fuso-horários desencontrados.

"Zaria❤️: Boa sorte na gravação de hoje. Estou torcendo por você."

"Yuna❤️: E você nos ensaios. Fico tão orgulhosa de te ver nesse palco. Brilha muito. Cloud está com saudades de você e eu também."

Mensagens mornas, sem profundidade, como se temessem mergulhar demais e não conseguirem voltar à tona.

Naquela noite, Yuna estava no trailer reservado para seu descanso. Deitada no sofá, vestindo um moletom largo, assistia pela quarta vez a um vídeo de Zaria cantando "Years without you" ao vivo — uma canção autoral, delicada, sobre separações e reencontros. Os olhos marejados e o coração apertado. Foi quando seu celular vibrou.

Kang Jiwon. Seu velho amigo e confidente. Ela não se surpreendeu ao ver o nome dele. Desde o início da confusão, ele fora um dos poucos que estivera ao seu lado sem questionamentos, apenas oferecendo apoio.

Jiwon: E aí, estrela, pronta pra ganhar o Daesang da TV esse ano? — disse ele, assim que ela atendeu, com sua voz carismática.

Yuna soltou uma risada fraca.

Yuna: Talvez. Se meu coração deixar eu me concentrar...

Jiwon: Eu sabia. Te conheço bem demais, amiga. Você tá bem?

Yuna: Estou sobrevivendo.

Jiwon: Você não merece só sobreviver, Yu. Você merece viver isso intensamente. E eu acho que... bom, tive uma ideia. Meio maluca, talvez, mas escuta até o fim, tá?

Ela sentou-se, ajeitando o moletom nos ombros, curiosa.

Yuna: Okay. Fala logo.

Jiwon: E se eu fosse... o seu "rival romântico"? — disse ele com uma risada abafada.

Yuna: Como assim?

Jiwon: Tipo... eu e a Zaria estamos juntos. Em segredo. E você é a amiga que sabe disso, que nos ajuda a ficarmos discretos. Isso explicaria a proximidade entre vocês duas, os encontros, as fotos. Você seria a "ponte" que nos liga. A narrativa muda: não é você quem está envolvida com ela, é você quem acoberta o "casal proibido". É simples. A mídia adora uma história assim. E eu topo fazer esse papel. Publicamente.

Yuna ficou em silêncio, o celular pressionado contra a orelha. Não sabia se ria, se chorava ou se considerava de fato.

Yuna: Jiwon, você está propondo se jogar no meio da fogueira só pra nos proteger?

Jiwon: Sim. Porque pra mim, é mais fácil. Sou homem. Ninguém vai me questionar tanto. E, sinceramente, ser vinculado a uma artista do porte da Zaria não seria ruim pra mim também. Meus trabalhos estão muito centrados em Seul. Um escândalo "com glamour" pode ajudar a expandir minha imagem. E, mais importante: quero ver você sorrindo de novo. Isso já é suficiente.

Yuna mordeu o lábio, emocionada.

Yuna: Isso é... loucura. Mas também é muito generoso.

Jiwon: Você não precisa decidir agora. Só queria que você soubesse que tem opções. Que não precisa enfrentar isso tudo sozinha. Sei o quanto ela significa pra você. E o quanto você se importa com o futuro dela. É injusto você sempre ter que abrir mão de tudo que ama. Você merece viver um dorama também.

Yuna encostou a cabeça na parede do trailer, os olhos fixos no teto metálico.

Yuna: E se ela não aceitar? Se for demais pra ela?

Jiwon: Aí vocês conversam. Com calma. Quando ela voltar. Mas saber que há um plano, uma alternativa... talvez isso já traga um pouco de paz.

Ela suspirou profundamente.

Yuna: Obrigada, Jiwon. Sério. Você é um dos maiores presentes que a vida me deu.

Jiwon: Eu sei. Agora vai dormir, você tá com voz de panda deprimido.

Yuna: Eu sou um panda deprimido no momento. Boa noite, amigo. Até logo.

Yuna riu, sentiu o coração um pouco mais leve.

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Na manhã seguinte, em Paris, Zaria se preparava para mais um ensaio. Estava exausta. As olheiras começavam a despontar mesmo sob a base cuidadosamente aplicada. Mas nada incomodava tanto quanto a ausência de Yuna. Ela se pegava revendo fotos, vídeos curtos, mensagens de voz trocadas no meio da madrugada. Tudo parecia tão distante agora.

Enquanto aguardava a equipe ajustar o som, ela sentou-se em um canto do estúdio, abraçada ao violão. Seus dedos começaram a dedilhar uma melodia nova, uma mistura de saudade e esperança. Compôs alguns versos, como se fossem cartas não enviadas para Yuna.

"É estranho o quanto o silêncio grita

Quando a ausência tem o teu nome

Eu finjo sorrisos na vitrine da fama

Mas é na solidão que eu te chamo..."

Fechou os olhos. Deixou as lágrimas escorrerem. Por alguns instantes, não era a estrela. Era só Park Yejin, uma garota apaixonada e confusa.

No fundo, ambas sabiam: aquele tempo distantes não era um fim. Era um intervalo necessário. Uma pausa para entenderem que tipo de amor estavam dispostas a viver. E até onde estavam dispostas a ir para proteger esse amor.

E, mesmo separadas por um oceano, ambas dormiram um pouco mais tranquilas.

Yuna com uma fagulha de esperança plantada no peito.

Zaria, com uma canção inacabada.

As duas, ligadas pela incerteza, mas unidas por tudo o que ainda queriam construir.