As primeiras notificações começaram a pipocar no celular de Zaria às oito da manhã.
Uma, duas, dez.
Quando ela abriu o Twitter, a tag estava nos trending topics: #ZariaJiwonCouple. Em segundos, centenas de milhares de comentários se espalhavam como pólvora.
> "O casal do ano!"
"Finalmente entendemos tudo: Yuna era a amiga-cúmplice!"
"Meu Deus, Zaria e Jiwon são perfeitos juntos!!"
"Sempre achei que ela escondia o jogo! O Jiwon sempre foi muito discreto."
Zaria piscou, surpresa diante da velocidade da avalanche.
O plano… tinha funcionado.
Ela se virou no sofá, onde Yuna ainda estava esparramada com uma xícara de chá na mão, lendo as notícias no tablet, e Jiwon, jogado na poltrona, com um sorriso vitorioso no rosto.
— Conseguimos! — Jiwon disse, levantando a xícara de café em um brinde improvisado.
Yuna bateu sua caneca contra a dele com um sorriso enorme.
— À mentira mais bem-sucedida do ano! — brincou.
Zaria riu, ainda sentindo a adrenalina percorrendo suas veias.
Era loucura. Era arriscado. Mas havia dado certo.
O primeiro site de notícias publicou as fotos: Zaria e Jiwon rindo juntos, Jiwon segurando a porta do café para ela, um toque rápido no ombro.
Foi o suficiente.
Em questão de minutos, os principais portais haviam replicado a história, cada um adicionando suas próprias especulações.
> "Fontes afirmam que Zaria e Kang Jiwon se conhecem há meses!"
"Yuna sempre acompanhava Zaria nos bastidores. Agora entendemos: ela estava ajudando o casal a manter segredo!"
"Jiwon e Zaria: amor nos bastidores do estrelato!"
Jiwon abriu o Instagram e mostrou uma publicação para as duas:
— Olha isso. — disse, quase gargalhando.
Era uma montagem feita por fãs: fotos de Zaria e Jiwon sorrindo em momentos diferentes, com coraçõezinhos desenhados ao redor.
Yuna soltou uma gargalhada alta.
— Eles são rápidos demais.
Zaria esfregou o rosto nas mãos, rindo junto, a tensão que a consumia nas últimas semanas começando a se dissolver.
— A assessoria do Jiwon soltou uma nota agora. — Yuna disse, lendo em voz alta: —
> "Kang Jiwon e Zaria têm uma amizade sólida construída ao longo do tempo. Eles compartilham um vínculo especial como amigos e colegas da indústria. Pedimos respeito à privacidade de ambos."
Ela ergueu as sobrancelhas em aprovação.
— Fofo, ambíguo, e evita perguntas. Perfeito.
— E deixa a imaginação da mídia correr solta. — Jiwon completou, piscando.
Zaria se encostou no sofá, deixando a cabeça tombar para trás, olhando o teto.
Ela queria gritar de alívio.
Finalmente, a narrativa começava a mudar.
Depois de meses sendo perseguida com insinuações sobre sua vida amorosa, questionamentos maldosos sobre Yuna, e manipulações sorrateiras, agora havia um novo alvo para os tabloides se concentrarem.
E o melhor: tudo isso desviava a atenção da verdade real entre ela e Yuna — algo que, naquele momento, precisava ser protegido a qualquer custo.
— Vocês acham que vão vasculhar muito? — Zaria perguntou, virando a cabeça para encarar os dois.
Yuna sorriu de forma calma e confiante.
— Vão. É inevitável. Mas eles querem histórias românticas, não escândalos. Jiwon é o namorado perfeito para os olhos do público: educado, gentil, sem passado problemático. Você é a princesa intocável. Vão adorar esse conto de fadas.
Jiwon estendeu a mão e bagunçou os cabelos dela de forma brincalhona.
— Confia em nós, Zaria. Agora eles vão caçar pistas do nosso namoro inventado enquanto você vive sua vida de verdade.
Zaria sorriu de volta, sentindo um calor reconfortante no peito.
Ela não estava mais sozinha nesse campo de batalha.
— E se perguntarem diretamente pra gente? — ela insistiu, sempre pensando nas possibilidades.
Yuna riu.
— A gente desvia. Dá risada. Diz que são bons amigos. O clássico "sem comentários". — Ela piscou. — A mídia adora preencher as lacunas sozinha.
Jiwon ergueu a caneca em um novo brinde.
— Ao caos controlado!
Zaria soltou uma gargalhada, verdadeira e leve, sentindo o peso do mundo escorregar de seus ombros.
Ela sabia que isso era apenas o começo. A atenção da mídia podia ser imprevisível. Mas, ela não estava reagindo ao que jogavam contra ela. Estava jogando o próprio jogo.
E com aliados como Yuna e Jiwon ao seu lado… ela sentia que podia vencer qualquer coisa.
Pegou seu celular e tirou uma foto rápida dos três ali, sentados no sofá bagunçado, em meio a xícaras e tablets abertos em portais de fofocas.
— Para a posteridade. — disse, rindo.
Yuna se inclinou e sussurrou, de forma que só ela pudesse ouvir:
— E para lembrarmos que somos imparáveis juntas.
Zaria olhou para Yuna e soube — sentiu, de maneira tão profunda que quase doeu — que tudo aquilo, todo o caos, todo o risco… valia a pena.
Porque ela finalmente estava vivendo a própria história.
E dessa vez, era ela quem escrevia as regras. (...)
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O ambiente no escritório da gravadora era denso.
Desde a manhã, rumores zuniam pelos corredores como abelhas irritadas: Zaria estava envolvida em um escândalo — mas, curiosamente, dessa vez, a maré parecia a favor dela.
O presidente da empresa, senhor Han, folheava nervosamente uma pilha de impressões dos artigos mais recentes.
> "Zaria e Jiwon: o casal secreto?"
"Namoro de ouro? As marcas já demonstram interesse no novo casal de celebridades."
Ele soltou um suspiro pesado. Escândalos de namoro geralmente eram péssimos para artistas, mas alguma coisa naquela situação era diferente. A imagem de Zaria, de alguma forma, estava sendo elevada com a história. Ela parecia mais humana, mais real. E a popularidade dela — e do grupo adormecido VENUS — disparava.
Antes que ele pudesse pedir um parecer ao jurídico, a porta do escritório se abriu.
Zaria entrou.
Mas ela não veio sozinha.
Ao lado dela, caminhando com passos decididos, estava uma mulher elegante de terno preto — Minji, uma empresária muito respeitada dentro da indústria, e empresária pessoal de Yuna.
O olhar de Zaria era inquebrável.
Sem esperar ser convidada, ela se sentou na poltrona em frente à mesa de Han. Minji ficou atrás dela, como uma sombra poderosa.
Kang, seu antigo empresário, estava lá, parado ao lado da mesa, com uma expressão contida e tensa. Ele estava morrendo de medo de Zaria mudar de ideia e expor suas falcatruas.
Zaria cruzou as pernas com elegância e disse, com a voz doce mas cortante:
— Estou aqui para oficializar minha decisão. Quero que a Srta. Minji assuma a gestão total da minha carreira a partir de agora.
O senhor Han ergueu as sobrancelhas, pego de surpresa.
— Zaria… isso é uma decisão muito séria. Seu contrato ainda prevê que o senhor Kang seja o seu responsável…
Zaria sorriu de forma quase triste.
— Eu sei. — disse. — Mas também sei que, pelas cláusulas, tenho direito de solicitar a troca de gerência mediante justificativa adequada. E eu tenho mais do que justificativas. — Ela lançou um olhar gélido para Kang.
Ele cerrou a mandíbula, mas permaneceu calado.
Han folheou alguns papéis na pasta à sua frente, confuso.
— Você quer apresentar alguma reclamação formal?
— Ainda não. — Zaria disse, com um tom calmo que assustava mais do que se estivesse gritando. — Em respeito à história que construí aqui, prefiro resolver de forma amigável. Mas se for necessário, estou pronta para levar tudo adiante com meus advogados.
Han se recostou na cadeira, finalmente entendendo que Zaria tinha algo mais forte do que simples capricho. Ela tinha provas. Motivos. E, pior: ela estava preparada.
Zaria então virou o rosto para Kang, olhando-o como quem olha um estranho.
— Você deveria ter me protegido. Essa era sua função. — disse, com uma dor sincera atravessando sua voz. — Mas preferiu me trair. E eu não sou como você. Não vou destruir sua carreira. Só estou exigindo que você fique longe da minha.
Minji se adiantou pela primeira vez.
— Já estamos cuidando da transição de forma legal. — disse, com profissionalismo. — Zaria tem novos projetos em andamento, e ela precisa de uma equipe que trabalhe a favor dela, não contra.
O silêncio pesou.
Kang abriu a boca, talvez para se defender, mas Zaria levantou a mão, interrompendo-o sem sequer erguer a voz.
— Não. — disse apenas. — Esta é a última conversa que teremos. Se fosse da minha escolha, eu não teria encontrado você de novo.
Ele fechou a boca. O rosto dele estava vermelho, de raiva e de vergonha.
Han soltou um suspiro resignado.
— Muito bem. — disse. — Se é isso que deseja… providenciaremos o afastamento do senhor Kang da sua equipe imediatamente. A senhorita Minji poderá assumir.
Zaria assentiu.
— Obrigada. — disse, com a cortesia de quem está encerrando uma era.
Levantou-se com a mesma elegância com que havia chegado.
Antes de sair, lançou um último olhar para Kang.
— Espero que você aprenda que proteger alguém é diferente de controlá-lo. Adeus.
E então, saiu da sala.
Minji a seguiu de perto.
Quando passaram pela recepção, todos os olhares se voltaram para elas. Zaria não se abalou. Seus passos eram firmes, sua cabeça erguida.
Do lado de fora, o céu de Seul estava limpo, iluminado, como se o universo tivesse decidido dar a ela um novo começo também.
Minji parou ao lado dela na calçada, sorrindo de lado.
— Você foi brilhante lá dentro. Firme e forte.
Zaria suspirou, sentindo o peso da liberdade recém-conquistada.
— Obrigada por estar comigo.
Minji sorriu.
— Agora vamos começar a trabalhar de verdade. Tem um mundo inteiro esperando por você, Zaria. Sem amarras. Sem sombras.
Zaria olhou para o horizonte da cidade, os arranha-céus se erguendo contra o azul vibrante do céu.
Ela sorriu também.
— É isso que eu sempre quis. E agora… — ela fechou os olhos, absorvendo o momento — agora é só o começo.
E com passos determinados, ela seguiu em frente, pronta para conquistar o mundo em seus próprios termos.