Brasil - o palco do para sempre

Seul, 6 meses depois

O auditório do teatro estava tomado por flashes e perguntas, mas Yuna permanecia serena no centro do palco, sentada diante dos repórteres. À sua frente, microfones coloridos, olhos atentos e bocas sedentas por manchetes. À sua volta, banners da nova série dominavam as paredes: Savage finalmente estrearia naquela semana, e o evento de lançamento era o mais aguardado da temporada.

Ela usava um terninho preto sofisticado, cabelos soltos que deixavam transparecer sua elegância natural. O brilho de sua pele vinha além da maquiagem ou luz de estúdio — vinha de paz. De amor. De plenitude.

Nos bastidores, escondida em uma área reservada entre a equipe técnica, Zaria assistia tudo. Um boné preto e óculos escuros escondiam sua identidade, mas o sorriso delicado no rosto denunciava o quanto aquela mulher ali no palco era tudo para ela.

Zaria tinha desembarcado em Seul no dia anterior, depois de um longo circuito de shows. Estava exausta, mas vibrando. Finalmente teria férias. E o melhor: férias ao lado de Yuna. Da mulher que, há seis meses, dividia com ela não apenas uma casa, mas a vida.

Elas estavam vivendo como sempre sonharam. Entre ensaios, gravações, compromissos e café da manhã juntas aos domingos. Entre segredos que deixaram de ser segredos. A imprensa, com o tempo, perdeu o interesse. Elas não precisaram anunciar. Bastou viver. O namoro falso com Kang Jiwon, era tudo o que precisavam para manter suas vidas no eixo certo.

Enquanto o apresentador conduzia a coletiva, Yuna sorria, orgulhosa.

— Minha personagem em Savage foi um desafio delicioso. Ela tem coragem, contradições e coração. Trabalhar com tantos talentos me fez crescer como atriz e como pessoa. Essa série me transformou.

Uma jornalista ergueu a mão.

— Yuna, esse foi seu papel mais intenso até hoje. Como está emocionalmente após viver essa personagem por tanto tempo?

Yuna inclinou a cabeça, refletindo por um segundo antes de responder com a honestidade que sempre encantava a todos.

— Eu estou muito bem. Feliz, realizada. Acho que a arte tem esse dom de curar e ensinar. E eu estou em um momento da minha vida onde tudo faz sentido. Profissionalmente, mas principalmente... pessoalmente.

Os olhos dela se desviaram discretamente para o canto do auditório, onde sabia que Zaria estava. E, ainda que ninguém percebesse, aquele olhar dizia tudo. Zaria sorriu de volta. Discretamente. Orgulhosa. Emocionada.

Pouco depois da coletiva, Yuna se retirou para o camarim. Quando a porta se fechou atrás dela, ela ouviu uma batida baixa.

— Pode entrar — disse, girando a cadeira.

E então, Zaria entrou. Com um sorriso nos lábios e aquele olhar que só ela sabia dar.

— A atriz mais linda da Coreia ainda arrasando corações — Zaria brincou, abraçando seus ombros e beijando sua bochecha com carinho.

Yuna fechou os olhos, sentindo aquele abraço.

— Estou feliz que tenha vindo, amor — sussurrou Yuna no ombro da namorada.

— Claro que vim. Você acha mesmo que eu perderia esse momento?

— Você quase não teve tempo para descansar. Devia estar dormindo.

Zaria sorriu.

— Não iria conseguir. Fiquei pensando em como seria te ver ali no palco, falando de tudo o que conquistou. Eu estou tão orgulhosa... quase chorei.

— Eu também chorei, por dentro. De te ver aqui. De saber que... a gente venceu. Tudo.

Elas se separaram um pouco, mas ainda de mãos dadas.

— E então? — perguntou Zaria. — Está tudo pronto pra amanhã?

Yuna assentiu, os olhos brilhando.

— Já deixei a mala no carro. Vou direto do estúdio para o aeroporto. Mal posso esperar para conhecer o Brasil.

— Eu também estou ansiosa! Um cantor me convidou pra uma participação especial em São Paulo, e eu achei perfeito. Uma cidade nova, um país novo... e você do meu lado. Preciso disso. A gente precisa dessas férias.

Yuna sorriu. Aquela era a viagem que elas tanto sonharam. Depois de meses intensos, finalmente teriam tempo para andar de mãos dadas por ruas desconhecidas, mergulhar em águas novas, e dormir até tarde sem despertador.

— Acho que vai ser o melhor capítulo das nossas vidas — disse Yuna, encostando a testa na de Zaria.

— Acho que sim — respondeu Zaria. — O Brasil nos espera. Com sol, mar, e liberdade.

Antes de saírem do camarim, Yuna se virou mais uma vez para Zaria e disse:

— Sabe o que mais me emociona?

— O quê?

— Que, depois de tudo, eu posso te chamar de lar.

Zaria apertou sua mão.

— Somos a calmaria uma da outra.

As duas saíram discretamente do prédio, acompanhadas por Minji, sempre a cúmplice fiel. No carro, riam das memórias recentes, dos sustos que viveram e da leveza que agora as envolvia. Era muito divertido ter ela como a empresária de ambas, porque assim, tudo se tornou melhor e sem preocupações. Minji era perfeita no que fazia. (...)

Na manhã seguinte, o avião decolava em direção ao hemisfério sul. Pela primeira vez em meses, não havia ansiedade nos olhos de Zaria, nem cansaço nos ombros de Yuna. Apenas amor. E uma vontade incontrolável de viver.

Porque quando duas almas se encontram no tempo certo, nem os holofotes, nem os boatos, nem a distância podem apagar o que elas decidem construir juntas.

E elas decidiram construir tudo. A começar por aquele verão ao redor do sol.

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A brisa quente do litoral soprava suavemente sobre a pele delas, carregando o cheiro do mar e da vegetação densa que cercava a ilha. Era noite, e o céu sobre o Brasil estava limpo, bordado de estrelas. O som das ondas beijando as pedras era o único ruído que rompia o silêncio daquela pequena ilha particular no litoral da Bahia, onde Zaria e Yuna passavam seus primeiros dias de férias.

Zaria andava descalça pela areia fina, usando apenas um vestido fino de linho branco. Seus cabelos estavam soltos, um pouco úmidos da última caminhada até o mar. Ela olhava o céu com um sorriso, ainda desacreditada do paraíso onde estavam. Nunca se sentira tão longe de tudo e tão perto de tudo que amava.

Yuna vinha logo atrás, com uma taça de vinho em uma das mãos e um brilho nos olhos que denunciava sua felicidade. Ela usava uma blusa de alças finas e shorts de linho, os pés também descalços, os cabelos presos de qualquer jeito — mas nunca estivera tão bonita aos olhos de Zaria.

Elas caminharam até um pequeno deque montado com tochas e velas, iluminando a noite de forma tênue e mágica. Sobre uma mesa baixa, uma cesta com frutas frescas e um pequeno rádio tocando baixinho uma bossa nova suave.

— Esse lugar parece um sonho — Zaria sussurrou, olhando o céu. — O calor, o som do mar, as estrelas... É como se o tempo tivesse parado só pra gente.

Yuna se sentou ao lado dela, as pernas cruzadas, os olhos fixos no rosto da namorada.

— Talvez tenha parado mesmo — respondeu com um sorriso. — Ou talvez a gente só tenha aprendido a andar no ritmo certo.

Zaria virou o rosto, surpresa pela serenidade daquela frase.

— O que foi isso? Um verso de música?

— Não. É só a forma como eu me sinto com você. A gente aprendeu a viver, amor. Eu amo dividir a vida com você.

Elas se entreolharam, o mundo pareceu conter a respiração. Então Yuna deslizou a mão para o bolso do short e puxou uma pequena caixinha de veludo preto.

Zaria arregalou os olhos, o coração acelerando sem aviso.

— Yuna...

— Shhh. Espera. — Ela se ajoelhou diante de Zaria, com o céu estrelado como testemunha, e a lua refletida no mar como bênção.

— A gente se conheceu num corredor, lembra? Numa empresa, entre sonhos e medo. Você era a menina do violão, das músicas doces e da voz que parecia vir de outro planeta. Eu era só uma garota prestes a ser lançada no estrelato, que se escondia atrás de piadas. Nós demoramos quase 10 anos para nos reencontrar.

Zaria riu, os olhos já marejados.

— E mesmo com o tempo, a distância, as reviravoltas, a gente nunca deixou de se encontrar. Quando te reencontrei naquele escritório, tantos anos depois, eu entendi que o universo nunca erra. Ele só espera a hora certa.

Yuna abriu a caixinha, revelando um anel de ouro rosé com uma pedra opalescente cintilando sob a luz das velas. Delicado. Único. Como elas.

— Você é o amor da minha vida, Park Yejin. A mulher com quem eu quero acordar todos os dias, mesmo que seja às cinco da manhã pra te ver sair em turnê. A mulher com quem quero dividir a vida, os cafés, os filmes repetidos e as bagunças de domingo. Ter rolês aleatórios com seus amigos, que agora, são meus também. E cuidar do nosso pequeno filho, Cloud.

Ela respirou fundo.

— E por isso, nessa noite quente do Brasil, no lugar mais lindo que eu já vi, eu te peço: aceita casar comigo?

Zaria levou as mãos ao rosto, as lágrimas escorrendo sem controle. Seu coração estava tão cheio que parecia que não cabia dentro do peito. Ela se levantou e puxou Yuna para um abraço apertado, longo, onde nenhuma das duas conseguiu falar de tanta emoção.

Então, ainda entre lágrimas e sorrisos:

— Sim. Mil vezes sim!!

Yuna colocou o anel em seu dedo, com mãos trêmulas e um sorriso bobo no rosto.

— Está perfeito — Zaria sussurrou, olhando a aliança. — Você é perfeita.

As duas se beijaram com amor. Um beijo cheio de carinho e novas promessas. Elas sentaram de novo no deque, abraçadas, olhando o céu.

— Sabe — Zaria começou — durante muito tempo eu achei que nunca teria isso. Paz. Amor. Um lar. A gente viveu numa bolha de regras, aparências, contratos e segredos. Mas quando você voltou pra minha vida, foi como respirar de verdade pela primeira vez. Você me livrou do peso que era o meu antigo relacionamento. Me mostrando a cada dia, como é ser amada com respeito, cumplicidade e zelo.

Yuna virou o rosto, ouvindo cada palavra com o coração aberto.

— Você sempre foi meu refúgio, mesmo quando eu nem sabia disso. E agora, morando com você, vivendo com você... eu tenho certeza. Você é minha casa. Minha única certeza. E eu nunca mais quero viver longe de você.

— Nem eu — respondeu Yuna, beijando sua têmpora. — Agora a gente pode sonhar sem medo, minha futura esposa.

Sob as estrelas e o som do mar. O calor do Brasil envolvia seus corpos como um abraço da natureza. Onde duas mulheres, apaixonadas, prontas para escrever o futuro de mãos dadas. Viviam a melhor fase de suas vidas, com a promessa de um amor que resistiu ao tempo e floresceu como o mais raro dos milagres.

Porque amar, no fim das contas, é isso: encontrar alguém que te veja por inteiro — e ainda queira ficar.

— Tem uma coisa que eu preciso fazer — disse Zaria, com aquele sorriso tímido, mas cheio de amor. — Uma última surpresa pra essa noite perfeita.

Yuna observou sua movimentação. A jovem cantora pegou o violão que estava ali por perto.

— Zaria... o que você tá aprontando?

Zaria ajeitou o violão no colo e fitou Yuna com um olhar que carregava anos de história. Ela dedilhou as primeiras notas de “Years without you”, a música que havia composto no começo de tudo, quando seus sentimentos por Yuna ainda eram apenas faíscas tentando se transformar em fogo.

A melodia encheu o ar como uma promessa antiga sendo renovada. E então ela começou a cantar.

"It’s been too long since we were us again

("Já faz muito tempo desde que fomos nós novamente)

But tonight, I feel you under my skin...

(Mas esta noite, eu sinto você sob minha pele)

I tried to move, but my heart won’t bend

(Eu tentei me mover, mas meu coração não vai dobrar)

It knows where it belongs — and it belongs to you

(Ele sabe onde pertence - e pertence a você)."

Yuna sentiu um nó se formar em sua garganta. A letra era intensa, com um significado forte para elas, cada verso era um retrato de um tempo que só elas entendiam.

Os olhos de Yuna se encheram de lágrimas. Ela não tentou disfarçar. Deixou-se levar, sentindo-se de volta àquele passado que parecia tão longe, mas que agora se tornava presente de novo — ali, na ilha, com a mulher que ela amava cantando com o coração aberto.

Quando Zaria chegou ao último verso, sua voz tremia de emoção.

Ela finalizou com um acorde suave, antes de encarar Yuna com um sorriso encantador.

Yuna estava chorando. Chorando como há muito tempo não chorava — não de tristeza, mas de emoção pura. Ela segurou o rosto de Zaria entre as mãos e sussurrou:

— Você é minha música favorita.

Zaria riu baixinho, os olhos brilhando com lágrimas.

— E você é meu refrão eterno.

Elas se beijaram sob o céu estrelado, com a promessa de um futuro cantado em acordes e vivido em amor. Para sempre.

Porque aquele sentimento ia além dos palcos, elas encontraram um amor que nenhuma performance ensaiada poderia encenar — verdadeiro, imperfeito e profundamente delas.

Fim.