Rafael estava sentado em sua poltrona de couro preta, um copo de uísque meio vazio repousando no braço. O silêncio do seu apartamento parecia pesar mais naquela noite, quebrado apenas pelo tic-tac do relógio antigo na parede. Os olhos dele, profundos e sombrios, estavam fixos no nada, mas sua mente fervilhava em pensamentos tão obscuros quanto a penumbra ao seu redor.
Anna.
Ela estava em todos os seus pensamentos, como uma chama ardente que queimava sem piedade. Mas não era apenas desejo o que ele sentia. Era mais do que isso. Era uma necessidade desesperada, quase visceral, de tê-la inteiramente para si. Que ela não pudesse existir em nenhum outro lugar, com ninguém além dele.
O pensamento o consumia como um vírus perigoso. Cada vez que imaginava Anna perto de outra pessoa, outro homem, seu sangue ferver. A raiva subia como uma onda selvagem, e ele se pegava engolindo em seco para não explodir.
“Ela tem que ser só minha.”
A frase ecoava na sua cabeça, uma ordem silenciosa, um juramento feito no mais profundo do seu ser.
Rafael se levantou devagar, caminhando até a janela que dava para a cidade iluminada. Observou as ruas lá embaixo, onde tudo parecia calmo, mundano, mas ele sabia que ali, naquele mundo comum, Anna podia estar vulnerável demais. Vulnerável demais para alguém como ele.
— Não posso deixar que isso aconteça — murmurou baixinho.
Ele virou-se para o quarto, onde os objetos de luxo contrastavam com o vazio que sentia dentro. Era um homem acostumado a controlar tudo — negócios, pessoas, situações. A máfia era seu território, e nele ele era rei. Mas diante de Anna, sentia-se inseguro, como se a qualquer momento pudesse perder o controle.
Foi então que uma ideia começou a tomar forma, perigosa e tentadora.
—
"Aprisioná-la".
Não fisicamente, pelo menos não ainda. Mas criá-la um mundo só deles, onde ela não precisasse, nem pudesse, escapar.
Rafael fechou os olhos, deixando as imagens invadirem sua mente.
Imaginar Anna vivendo sob sua proteção, seu domínio. Não como uma prisão fria, mas como um refúgio onde ela estaria segura, onde ninguém pudesse machucá-la, onde ele fosse o único que a entendesse, a possuísse — corpo e alma.
Ele se lembrou do orfanato, daquela menina que viu pela primeira vez, tão frágil, tão só. Uma joia escondida no meio do caos. Desde aquele momento, sabia que ela não podia ser de mais ninguém.
Ele a queria toda.
—
Rafael sentia um conflito interno brutal. Sabia que o que pensava era obsessivo, perigoso. Mas sua vontade era mais forte do que qualquer argumento racional.
Ele estava disposto a cruzar linhas que jamais tinha cruzado, a mergulhar num abismo para proteger o que acreditava ser seu destino.
Mas e se Anna não quisesse? E se ela fugisse? A simples ideia fazia seu peito apertar. Ele precisava garantir que isso não acontecesse.
—
No dia seguinte, Rafael começou a traçar seus planos. Discretamente, colocou seus homens para monitorar os passos de Anna — não com a intenção de assustá-la, mas para garantir que ele soubesse onde ela estava, com quem falava, o que fazia.
Era um jogo perigoso, e ele estava jogando para ganhar.
A obsessão por ela ultrapassava qualquer limite.
—
Enquanto isso, Anna seguia com sua rotina sem saber que, em algum lugar distante, um olhar vigilante a acompanhava. Ela sentia, vagamente, que algo estava mudando, que alguém estava muito perto, mesmo que invisível.
Por vezes, o coração dela disparava sem motivo, e os arrepios percorriam a pele, como se o perigo estivesse prestes a chegar.
Ela não sabia, mas Rafael já a estava cercando — não só de olhos, mas de intenções.
—
Numa noite quente, Rafael voltou a pensar nela enquanto a cidade dormia. Deitou-se na cama, mas não conseguiu descansar. A cabeça estava cheia de imagens dela — o sorriso tímido, o olhar sincero, o cheiro doce que ficava impregnado na memória.
“Eu não posso deixar que ela se vá,” ele sussurrou para a escuridão.
O desejo de tê-la só para si era tão forte que doía. Era uma chama que queimava tudo ao redor, consumindo a razão.
—
Ele se levantou de novo, pegou o celular e digitou uma mensagem:
“Anna, eu vou cuidar de você. Não vou deixar ninguém chegar perto do que é meu.”
Era um aviso, uma promessa, uma ameaça velada.
—
Do outro lado, Anna leu a mensagem e sentiu um frio intenso. Não sabia o que pensar. Aquilo não era apenas um homem interessado. Era algo mais profundo, sombrio e assustador.
Ela sabia que precisava ter cuidado.
Mas, no fundo, sentia-se estranhamente atraída por aquele mistério, por aquele poder que Rafael exercia — mesmo que isso pudesse significar sua prisão.
—
Nos dias seguintes, ela começou a notar que havia algo errado. Pequenos detalhes que antes passavam despercebidos: olhares que pareciam segui-la, movimentos estranhos nas sombras, o toque inquietante da sensação de estar sendo vigiada.
Ela não sabia ainda o nome do homem que a observava tão de perto, mas já sentia a presença dele, forte e ameaçadora.
—
Rafael, por sua vez, não escondia seu ciúme cada vez que sabia que ela falava com alguém. A obsessão crescia em ritmo acelerado. Não era só desejo físico, mas uma necessidade desesperada de controle.
Ele queria ser o único nome nos pensamentos dela, a única voz que ela escutasse.
—
Naquela noite, sentado na escuridão, Rafael murmurou para si mesmo:
— Eu vou fazê-la minha, nem que eu precise prender seu coração na escuridão comigo.
E assim, nas sombras da cidade, o jogo entre Anna e Rafael se tornava cada vez mais intenso, carregado de desejo, medo e uma obsessão que não tinha volta.