Felizes para...

Toronto, 2025.

No outro dia.

Aqui está seu crachá, Felipe.

Carlos, não tinha noção de como tu me ajudou a conseguir essa vaga. Você nem sabe o quanto.

Eu sei sim. Você é um bom rapaz. E era muito comprometido, sabe falta gente que nem você para trabalhar comigo. Você deve ter percebido quando esteve comigo no estágio. O pessoal não quer enfrentar desafios, que se dane à empresa desde que não precisem se estressar.

A quanto tempo trabalha aqui, Carlos?

Eu trabalho desde o fim do meu estágio.

Como eu?

Sim, como você. Mas faz muito muito tempo isso, lá por volta dos anos 80. Nessa época o chefão não era esse garoto. Era o pai da Catarina. O senhor Victor. Sabe, né? O que? Dizem que o casamento deles é apenas de fachada.

Ué porquê?

Parece que foi um acordo entre a família Laggerdoff e a família Lemes, ninguém sabe o porquê do porquê, mas é coisa do alto escalão. A gente não se mete nisso.

Carlos, obrigado por ter me feito passar pelo "teste de aço".

Não há de quê, foi um bem que te fiz, aproveite.

PARIS, 2018.

No lobby do hotel.

Ângelo que bom que voltaste. Catarina o espera no restaurante.

Obrigado Daniel.

Na mesa de número 14.

Olá, Ângelo.

Melhorou Catarina. Melhorei, acho que melhorei. Está sendo bom ficar aqui fora. Perto da piscina. Vendo os turistas comerem seus croissants.

Fico feliz. Mas Catarina, você tem todo o tempo do mundo para se recuperar.

Ângelo, há um problema.

O que foi?

Irei perder a empresa dos meus pais se não me casar contigo.

*

Na mesa.

Catarina, isso não é uma opção. Não podemos nos casar. Tudo bem que nós nos conhecemos desde criancinhas, mas isso é loucura. Faz pouco vi seus pais mortos. Isso é decisão de alguém que não está bem. E eu entendo. Você precisa de repouso agora, não pensar nesse tipo de coisa. Não vai perder a empresa pra ninguém.

Na verdade. Vou sim.

Do que está falando? Me explique melhor.

Seu pai, Ângelo. Seu pai persuadiu todos os acionistas.

Mas você se mantém com os 51% da empresa, não há problema nisso. A questão é que as ações da empresa despencaram tanto que os Hotéis Laggerdoff só subiram e seu pai só vai se aquietar se houver um casamento entre a única Laggerdoff que resta com o único filho do maior acionista da empresa. É isso. Ele vai pensar que ganhou o mundo, mas nós ainda estaremos no comando da empresa. Mesmo que ele morra, você é o filho dele. E eu sempre estarei ligada aos hotéis.

*

Eu preciso pensar.

Pense o quanto antes, precisamos agir rápido. É isso ou seu pai piorará a situação cada vez mais.

Não há outros Laggerdoffs que podem nos ajudar?

Não possuem ligação com a rede de Hotéis, são primos de tios de primos que vivem afastados um do outro pelo mundo, nunca os conheci. Por favor, Ângelo. Pense com consideração.

É que... Eu sou gay. 

*