O BEBÊ KATLÔNIO

Os soldados, ao verem o bebê, ficaram aterrorizados e murmuraram entre si, decidindo o que fazer. Suas armaduras cinza, marcadas por arranhões discretos, tilintavam enquanto se aproximavam com os rostos endurecidos pelo ódio.

— Isso com certeza é um mau presságio! Eles estão tentando nos destruir por dentro. É fingimento desses monstros para nos matar! — pensou um dos soldados, com o coração acelerado.

— Ei, vocês viram esse símbolo? É o símbolo dos Três Príncipes de Ákatlon! Não sei como esse bebê veio parar aqui, mas temos que dar um fim nele imediatamente. Ele é claramente um símbolo de destruição! — exclamou o soldado que encontrou o bebê com os olhos castanhos arregalados.

Os demais soldados concordaram rapidamente e seus olhos brilhando com fanatismo.

— Estaremos fazendo um favor ao reino, eliminando esse descendente daqueles monstros que desde os tempos antigos poluem Turfazia com sua presença imunda! — acrescentou um dos guerreiros, apontando sua espada para o bebê com um olhar de desprezo.

— Mate esse bebê imediatamente! — gritou outro soldado, segurando o ombro do companheiro com força.

— Mate! Mate! Mate! — ecoaram os soldados próximos, incitando o ataque com vozes carregadas de ódio.

O mais forte do grupo ergueu sua espada, imbuindo-a com magia poderosa que faiscava no ar.

— Desapareça, ser detestável! — bradou o soldado, atacando o bebê com toda a força.

No instante em que a lâmina se aproximou, o símbolo do terceiro olho na testa do bebê brilhou intensamente, ativando uma barreira protetora.

A defesa refletiu o ataque com força redobrada, lançando os soldados próximos para longe em uma explosão que sacudiu o chão.

O comandante do grupo, que observava tudo de longe, correu até os portões para entender o tumulto.

Os soldados ainda estavam atordoados, seus corpos revolvendo-se no chão, tentando se recompor.

— O que vocês estão fazendo? Estão loucos? — rugiu o comandante ao ver seus homens espalhados pelo campo.

— Senhor, estamos apenas cumprindo nosso juramento de destruir todas as ameaças ao reino! Encontramos este bebê dos katlônios e decidimos eliminá-lo. Ele não é um bebê comum, pois carrega o símbolo dos Três Príncipes de Ákatlon! — justificou um dos soldados, ainda ofegante.

O comandante o encarou friamente, seus olhos analisaram o bebê com cautela.

{Apesar de ser apenas um bebê, ele não chorou em momento algum...}

{...Bem, agora levarei este bebê ao rei para que ele decida o destino desta criança.}

Pegando o bebê dentro da caixa, o comandante aninhou-o com cuidado, sentindo sua pele marrom clara e observando seus olhos laranja-claros, um tom distinto nunca visto em Dirfázia.

Ao chegar na sala do trono, as portas de mármore branco se abriram.

O rei estava sentado em seu imponente trono, observando o comandante com curiosidade.

— Meu rei, durante uma patrulha, encontramos isto. — disse ele, abrindo a caixa com cuidado.

Os olhos verdes do rei se estreitaram, sua voz carregada de desprezo disse:

— Um bebê dos katlônios… Mas ele carrega o símbolo dos Três Príncipes de Ákatlon!

— Por que trouxe este ser imundo à minha presença? Mate-o imediatamente!

O comandante engoliu seco, lembrando do que acontecera anteriormente.

Desembainhou sua espada com hesitação.

Mas então—

A porta da sala do trono se abriu e Charles, o conselheiro do rei, entrou.

Com sua túnica cinza longa e olhos roxos-lavanda, ele encarou o bebê com surpresa.

— Meu rei, eu imploro! Não mate esta criança.

— Podemos criá-lo à nossa maneira, transformá-lo em um soldado poderoso. Assim, usaremos seu poder contra os katlônios!

O rei refletiu por um instante.

Então acedeu.

— Está bem, Charles. Mas saiba que tudo será de sua responsabilidade. Se algo der errado, mataremos este katlônio imediatamente!

Charles saiu da presença do rei com um sorriso vitorioso.

Lançando uma magia sobre a criança que escondeu o símbolo em sua testa, ele declarou:

— Esta criança se chamará Arthur.

Cinco anos se passaram, e Arthur estava com sua mãe de criação sob a sombra de uma macieira, onde o vento suave balançava as folhas.

— Mamãe, por que eu tenho que ficar aqui preso no castelo? Por que não posso sair e brincar com as outras crianças? — perguntou Arthur com seus olhos cheios de curiosidade.

A mulher suspirou, fechando os olhos por um instante antes de responder com um tom seco.

— Arthur, você deve ficar aqui porque o rei assim decidiu. Não o questione.

Ele franziu a testa com um olhar insistente.

— Mas, mamãe, por quê? Eu não fiz nada de errado...

Ela apertou o pano em suas mãos com força.

{Eu perdi cinco anos da minha vida cuidando dessa criança, fingindo um afeto que não sinto. Não aguento mais isso...}

Sua respiração acelerou, e antes que percebesse, sua mão acertou o rosto de Arthur com força.

Ele caiu no chão com a bochecha marcada e vermelha.

Por um instante, ela esperou pelo choro.

Mas ele não chorou.

Arthur se levantou lentamente, olhando para ela sem qualquer rancor.

Vendo as lágrimas escorrendo pelo rosto da mãe, ele se aproximou e a abraçou com ternura.

Antes que ela pudesse reagir, passos ecoaram ao longe.

— Ei! Nós vimos você bater na criança que o rei acolheu! Você será devidamente punida. — anunciou um soldado, com um sorriso cruel no rosto.

A mulher se virou com seus olhos arregalados de pânico.

— Não! Por favor, eu—

O soldado a agarrou pelos cabelos, ignorando seus gritos, e a arrastou para longe.

Arthur permaneceu imóvel, paralisado, observando enquanto ela desaparecia.

Lágrimas escorriam lentamente por seu rosto.

Ele não sabia, mas aquela seria a última vez que veria sua mãe de criação.

Mais tarde, Charles o chamou para uma sala, onde o encarou com firmeza.

— A partir de agora, durante três meses, você será treinado por soldados diferentes para aprender a manusear uma espada. Quando as aulas de magia começarem na Academia Mágica de Dirfázia, você será enviado para lá.

Arthur piscou, tentando assimilar a informação.

— Academia... mágica?

— Sim. A academia é frequentada apenas pelos filhos dos nobres mais influentes do reino. Comporte-se bem e não crie problemas.

O conselheiro estreitou os olhos.

— Lembre-se: você só está vivo porque eu pedi ao rei. Não me faça me arrepender dessa decisão.

Arthur engoliu seco, sentindo o peso das palavras.

Os dias passaram, e o treinamento começou.

Mas os soldados não apenas ensinavam.

Eles usavam o treinamento como desculpa para espancá-lo, descontando nele seu ódio pelos katlônios.

A cada dia, o menino era humilhado e agredido, mas jamais reclamava ou chorava.

Apesar das surras, ele aprendia rápido.

Seus movimentos com a espada tornavam-se mais precisos e fortes.

Nos treinos finais, após três meses, ele bloqueou golpes e contra-atacou com uma força surpreendente para sua idade.

Por um momento, parecia que iria vencer um soldado.

Mas então—

Outro guerreiro interveio, empurrando-o ao chão, frustrando sua vitória.

Seus olhos eram cheios de desprezo.

Meses depois, a Academia Mágica de Dirfázia anunciou a abertura para novos alunos, e Arthur foi levado até lá em uma carruagem junto com Charles.

Enquanto o veículo seguia pelo caminho, ele olhava pela janela.

Pensava que, ao entrar na academia, sua vida finalmente mudaria para melhor.

Ele mal percebeu o tempo passar, e quando deu por si—

A carruagem já havia parado diante dos portões.

Charles desceu primeiro, lançando um olhar severo.

— Lembre-se do que eu disse. Comporte-se.

Arthur respirou fundo, tentando esconder sua ansiedade.

— Sim, senhor! — respondeu determinado, com um leve brilho nos olhos.

As portas da academia começaram a se abrir lentamente.

Uma luz intensa escapava pelas frestas, iluminando seu rosto e aquecendo sua pele.

Ele sentiu que algo novo estava prestes a começar.