Capítulo 1: Serva da Moon

O ar gélido da manhã mordiscava minha pele exposta enquanto o toque suave da minha mãe me despertava do sono. Seus olhos cansados revelavam preocupação sob a luz fraca do nosso quarto no porão.

"Seraphina, acorde. Lilith exigiu café nos aposentos dela há quinze minutos."

Gemi, puxando o cobertor fino mais apertado ao redor dos meus ombros. "Deixe ela esperar."

"Você não pode se dar ao luxo de mais uma punição." A voz da minha mãe falhou. "Por favor, querida."

A realidade voltou com tudo. Eu não era mais Seraphina Lua, filha do respeitado guerreiro Gamma Silas Moon. Eu era apenas Seraphina a Ômega, serva da matilha que um dia nos respeitou.

"Tudo bem." Balancei as pernas para fora do colchão gasto, estremecendo quando meus pés descalços tocaram o piso frio de concreto.

Nossos aposentos eram muito diferentes da cabana confortável que ocupávamos até três anos atrás. Agora vivíamos no porão sem janelas da casa da matilha, com espaço suficiente apenas para dois colchões finos e uma pequena cômoda. O cheiro de mofo impregnava tudo, apesar da limpeza diária da minha mãe.

Vesti o uniforme padrão de Ômega — calças e camisa cinzas que ficavam largas no meu corpo — e rapidamente trancei meu cabelo loiro. A tintura estava desbotando nas raízes, revelando meu preto natural. Eu tinha começado a tingir depois da nossa queda, desesperada por qualquer mudança que me fizesse sentir como outra pessoa.

Minha mãe me entregou uma caneca fumegante. "Beba algo quente primeiro."

Aceitei o chá com gratidão. "Alguma notícia do Pai?"

Seus olhos ficaram nublados. "Não. A Prisão da Montanha Prateada não permite visitantes ou mensagens."

Três anos desde que meu pai foi incriminado por roubar o tesouro da matilha e conspirar com matilhas inimigas. Três anos de servidão e humilhação.

"Preciso ir. Lilith vai usar qualquer desculpa para me denunciar." Esvaziei minha xícara e beijei a bochecha da minha mãe.

"Lembre-se—"

"De manter a cabeça baixa. Eu sei." Completei seu lembrete diário com um sorriso triste.

O trajeto do nosso porão até os luxuosos aposentos de Lilith me levava pelo salão principal da casa da matilha. A luz da manhã entrava pelas janelas altas, iluminando o piso polido que refletia meus passos apressados. Membros da matilha passavam, a maioria evitando contato visual. Alguns sussurravam atrás das mãos quando eu passava.

"Filha do traidor."

"Escória Ômega."

Mantive o olhar fixo à frente, recusando-me a mostrar como suas palavras me feriam. Minha loba, Luna, rosnou em nossa consciência compartilhada. Somos mais do que eles sabem.

Não mais, lembrei-a silenciosamente.

Parei na cozinha para preparar o café de Lilith — forte, com duas colheres de açúcar e um toque de creme. Exatamente como ela sempre tomava quando éramos melhores amigas.

A lembrança da nossa amizade de infância torceu como uma faca no meu peito. Éramos inseparáveis desde os cinco anos, compartilhando segredos, sonhos e travessuras. Até que a desgraça do meu pai mudou tudo.

Equilibrei a caneca de café cuidadosamente enquanto subia a grande escadaria para a ala leste, onde Lilith, filha do Beta Malachi Thorne, residia em luxo. Bati levemente com os nós dos dedos na porta dela.

"Entre." Sua voz carregava aquele tom arrogante familiar.

Empurrei a porta e entrei em um quarto duas vezes maior que toda a nossa moradia no porão. A luz do sol entrava pelas janelas do chão ao teto, destacando o tapete macio e os móveis elegantes.

"Você está atrasada." Lilith estava sentada na penteadeira, aplicando rímel com precisão praticada.

"Eu peço desculpas." Mantive minha voz neutra enquanto me aproximava com o café dela.

A visão além dela me fez congelar. Orion Nightwing, o mais jovem dos trigêmeos do Alfa, estava recostado sem camisa na cama desarrumada. Seu peito musculoso tinha marcas leves de arranhões, e seus olhos castanhos frios encontraram os meus com diversão.

"A Ômega finalmente chega," ele disse arrastadamente, se espreguiçando como um gato satisfeito. "Pensei que você nunca traria o café da Lilith."

Minhas bochechas queimaram de humilhação. Mesmo depois de três anos, ver um dos trigêmeos — meus protetores de infância transformados em atormentadores — em situações tão íntimas com Lilith enviava dor perfurante pelo meu peito.

"Não fique aí parada olhando," Lilith disparou. "Coloque aí."

Coloquei a caneca na penteadeira dela, com cuidado para não derramar uma gota. "Vai precisar de mais alguma coisa?"

Lilith inspecionou seu reflexo, ajeitando seu cabelo ruivo perfeitamente estilizado. "Como estou, Orion?"

"Deslumbrante," ele respondeu, seu olhar faminto confirmando suas palavras.

Ela sorriu maliciosamente, lançando-me um olhar de soslaio. "Lembra quando tínhamos catorze anos e você me contou que tinha uma queda pelo Ronan? Como isso parece engraçado agora."

A lembrança da minha confissão infantil para minha então melhor amiga doeu. Os trigêmeos — Kaelen, Ronan e Orion Nightwing — tinham sido nossos companheiros de infância antes de serem enviados para o treinamento de Alfa. Quando retornaram aos dezesseis anos, tudo mudou.

"Quer dizer, olhe para você agora." Lilith gesticulou com desdém para minha aparência simples. "Como se algum Alfa fosse querer uma Ômega."

Mantive minha expressão vazia apesar dos rosnados de Luna. "Será só isso?"

"Ah, quase esqueci." Lilith estendeu a mão para seu café, então puxou a mão para trás, derrubando a caneca diretamente no meu peito. O líquido quente encharcou minha camisa fina, escaldando minha pele.

Ofeguei, pulando para trás enquanto o café pingava pela minha frente.

"Ops." O sorriso de Lilith não chegou aos olhos. "Que desajeitada eu sou."

Orion riu da cama. "Melhor limpar isso, Ômega."

Mordi minha língua até sentir o gosto de sangue. "Vou trazer outro café."

"Nem se incomode." Lilith me dispensou com um gesto. "Apenas limpe essa bagunça e saia."

Com mãos trêmulas, limpei o derramamento com uma toalha próxima, ignorando a sensação de queimação no meu peito. Minha loba implorava para que eu revidasse, mas ambas sabíamos que era melhor não fazer isso.

"Ah, e Seraphina?" Lilith chamou quando eu alcancei a porta. "Ouvi dizer que a Alcateia das Águas Negras está visitando na próxima semana. Talvez você finalmente encontre seu parceiro e escape dessa existência patética." Sua risada era como vidro quebrado. "Embora quem iria querer a filha de um traidor?"

Fechei a porta sem responder, então me apoiei contra a parede, lutando contra as lágrimas. A frente da minha camisa estava manchada de marrom, grudando desconfortavelmente na minha pele avermelhada. Mais um uniforme arruinado, mais uma humilhação para suportar.

Encontrar meu parceiro era minha única esperança de escapar da Matilha Lua Crescente Prateada. Mas Lilith estava certa — quem me quereria?

Enquanto eu descia as escadas, uma figura alta no uniforme preto da guarda do Alfa se aproximou. Corbin, o guarda pessoal de Kaelen Nightwing, usava sua habitual expressão severa.

"Seraphina Moon."

Meu coração afundou ainda mais. "Sim?"

"Kaelen está chamando você." Os olhos de Corbin passaram pela minha camisa manchada antes de voltarem ao meu rosto. "Ele parecia muito furioso."

Perfeito. O mais velho dos trigêmeos me convocando enquanto estava com raiva — exatamente o que eu precisava depois da tortura matinal de Lilith. O que quer que Kaelen quisesse, não podia ser bom.

Enquanto eu seguia Corbin em direção ao escritório do Alfa, o pavor pesava em meu estômago. Os trigêmeos já foram meus amigos, meus protetores. Agora eles eram meus pesadelos.

E eu estava caminhando diretamente para a toca do mais perigoso deles.