Acordei sobressaltada com o toque suave da mão da minha mãe no meu ombro. A luz do sol filtrava através das cortinas finas do nosso pequeno quarto, lançando um brilho quente sobre o assoalho gasto.
"Feliz aniversário, minha doce menina," ela sussurrou, seu sorriso cansado, mas genuíno.
Ela segurava um pequeno cupcake com uma única vela acesa. Mesmo em nossa pobreza, ela havia encontrado uma maneira de tornar este dia especial. O gesto fez meu coração doer.
"Faça um pedido, Sera," ela insistiu, seus olhos se enrugando nos cantos.
Fechei os olhos e soprei a vela, sabendo exatamente o que desejar – escapar desta matilha, liberdade dos trigêmeos e justiça para meu pai. Quando abri os olhos, minha mãe me observava com uma mistura de amor e tristeza.
"Dezoito," ela disse suavemente, colocando uma mecha do meu cabelo loiro tingido atrás da orelha. "Lembro-me de quando você nasceu como se fosse ontem. Seu pai estava tão orgulhoso."
A menção ao meu pai enviou uma pontada familiar pelo meu peito. "Sinto falta dele," admiti.
"Ele estaria tão orgulhoso da mulher forte que você se tornou." Ela me entregou o cupcake. "É de baunilha. Troquei um turno extra pelos ingredientes."
Dei uma pequena mordida, saboreando a doçura. "Você não deveria ter—"
"Bobagem. Não é todo dia que minha filha faz dezoito anos." Ela sentou na beira da minha pequena cama. "A cerimônia de acasalamento é hoje à noite."
Quase engasguei com o cupcake. "Não vou."
A expressão da minha mãe tornou-se suplicante. "Sera, você precisa ir. Todos os lobos não acasalados em idade são obrigados a comparecer."
"Nós duas sabemos que é apenas para show. É a cerimônia da Lilith." Não consegui esconder a amargura na minha voz. "Os trigêmeos deixaram clara a escolha deles."
"Ainda assim, haverá outros lobos não acasalados lá. Nunca se sabe—"
Interrompi-a com um aceno de cabeça. "Ninguém quer uma Ômega como companheira, mãe. Especialmente não a filha de um suposto traidor."
Ela apertou minha mão com força. "Não diga isso. Seu pai era inocente. E você vale mais do que aquilo a que eles te reduziram."
Apertei sua mão de volta, sem ter coragem de argumentar mais. Ambas conhecíamos muito bem a realidade da nossa situação.
"Vamos," eu disse, mudando de assunto. "Devemos ir para a cozinha antes que a Sra. Collins mande alguém nos procurar."
A cozinha já estava agitada quando chegamos. Como Ômegas, éramos designadas para as tarefas mais servis – descascar legumes, esfregar panelas e limpar depois que os membros da matilha de classificação mais alta cozinhavam as refeições propriamente ditas.
Eu tinha acabado de descascar uma montanha de batatas quando Elina, uma das criadas Beta, se aproximou de mim.
"Seraphina," ela disse baixinho, "Lilith está pedindo por você nos aposentos dela."
Meu estômago se contorceu. Claro que Lilith iria querer me ver logo hoje. "Ela disse o que queria?"
Elina balançou a cabeça. "Não, mas ela parecia... satisfeita com alguma coisa. Isso nunca é bom."
Sequei minhas mãos em um pano de prato e olhei para minha mãe, que me lançou um olhar preocupado. "Vou ficar bem," garanti a ela, embora ambas soubéssemos que provavelmente era mentira.
O caminho até os aposentos de Lilith parecia uma marcha para minha execução. Cada passo na grande escadaria me lembrava o quanto eu havia caído na hierarquia da matilha. Uma vez, eu havia sido bem-vinda nesses corredores como amiga. Agora, era convocada como uma serva.
Bati na porta de Lilith, preparando-me para qualquer tormento que ela tivesse planejado.
"Entre," veio sua voz presunçosa de dentro.
Entrei em seu quarto luxuosamente decorado, mantendo os olhos baixos como era esperado de uma Ômega. "Você pediu para me ver?"
"Seraphina! Sim, entre." A voz de Lilith pingava falsa doçura. Ela estava reclinada em sua cama acolchoada, cercada por pacotes lindamente embrulhados. "Eu queria compartilhar minhas notícias empolgantes com você."
Permaneci em silêncio, esperando que ela continuasse.
"Hoje é seu aniversário, não é?" Ela inclinou a cabeça, seu cabelo perfeitamente estilizado caindo sobre um ombro.
"É," respondi secamente.
Seu sorriso se alargou. "Que adorável. O meu é na semana que vem, como você sabe. E veja o que meus futuros companheiros já me deram."
Ela gesticulou grandiosamente para os pacotes ao seu redor. "Gostaria de ver?"
Não era realmente uma pergunta. Ambas sabíamos que eu não tinha escolha a não ser ficar ali e testemunhar qualquer exibição que ela tivesse planejado.
"Este," ela disse, segurando um deslumbrante vestido azul meia-noite que cintilava na luz, "é do Ronan. Não é divino? Ele disse que a cor o lembrava da luz das estrelas na água."
O vestido era requintado, claramente feito sob medida e sem dúvida caro. Forcei minha expressão a permanecer neutra, mesmo enquanto meu coração se contorcia.
"E estes," ela continuou, levantando um par de sapatos de grife com solas vermelhas, "são do Orion. Ele disse que só o melhor serviria para os pés de sua Luna."
Engoli em seco, lembrando como uma vez, anos atrás, Orion havia me carregado para casa depois que torci meu tornozelo durante uma corrida da matilha. Agora, ele estava comprando calçados de luxo para Lilith.
"Mas isto," a voz de Lilith baixou para um sussurro reverente enquanto ela abria uma caixa de veludo, "isto é do Kaelen."
Dentro estava um impressionante colar de diamantes com um pingente de lua crescente, o símbolo da matilha. Era mais do que apenas uma joia – era uma declaração de intenção, uma promessa da posição de Luna.
"Ele mandou fazer especialmente," ela se gabou, segurando-o contra a garganta. "Os diamantes representam as estrelas que guiam nossa matilha, e a lua crescente..."
"A marca da Luna," completei baixinho.
Seus olhos brilharam com triunfo. "Exatamente. Cada um deles me deu presentes dignos de sua futura Luna. Não é comovente?"
Cada palavra era uma faca cuidadosamente colocada, projetada para me cortar onde eu era mais vulnerável. O pior era que sua estratégia estava funcionando. Apesar de tudo o que os trigêmeos haviam feito comigo, ver uma evidência tão clara de que eles a haviam escolhido parecia uma ferida fresca.
"Estou feliz por você," menti, as palavras com gosto de cinzas na minha boca.
Lilith riu, o som afiado e zombeteiro. "Não, você não está. Mas é isso que torna tudo tão delicioso, Seraphina. Você pode ficar aí e fingir o quanto quiser, mas nós duas sabemos a verdade."
Ela se levantou da cama, vindo ficar diretamente na minha frente. "Você os queria para si mesma. Sempre quis. Mas eles me escolheram. Eles sempre vão me escolher."
Algo dentro de mim mudou com suas palavras. Talvez fosse porque era meu décimo oitavo aniversário, ou talvez eu estivesse simplesmente cansada de abaixar a cabeça. Qualquer que fosse o motivo, me vi olhando diretamente nos olhos dela.
"Nós éramos amigas uma vez, Lilith. Melhores amigas."
Seu sorriso vacilou ligeiramente. "Isso foi há muito tempo."
"Não faz tanto tempo assim," rebati. "Antes do meu pai ser acusado, você passava todos os dias na minha casa. Compartilhávamos tudo."
"As coisas mudam," ela disse com desdém, virando-se para admirar seu colar no espelho.
"Sim, elas mudam. Mas nunca entendi por quê." Dei um passo em sua direção, sentindo uma estranha nova coragem. "Meu pai foi acusado de roubar da matilha e trair os Alfas. Mas o que eu fiz para merecer seu ódio?"
O reflexo de Lilith me encarou de volta, sua expressão endurecendo. "Você realmente não sabe?"
"Não," disse honestamente. "Um dia éramos inseparáveis, e no outro, você estava liderando a carga para tornar minha vida miserável. Tudo porque meu pai foi acusado de algo que ele não fez."
"Não fez?" Ela girou, olhos faiscando de raiva. "Seu pai era um ladrão e um traidor. As evidências eram claras."
"Evidências que seu pai forneceu," lembrei-a, um fato que sempre me pareceu suspeito.
Um lampejo de algo – culpa? desconforto? – cruzou seu rosto antes que ela o mascarasse com desprezo. "Meu pai cumpriu seu dever com a matilha. Assim como estou cumprindo o meu ao me tornar Luna."
"É disso que se trata? Você queria tanto ser Luna que destruiu nossa amizade por isso?"
"Você está delirando," ela disparou. "Vou ser Luna porque os trigêmeos me escolheram. Porque sou digna deles."
Estudei seu rosto, vendo além da maquiagem perfeita e da crueldade calculada, a garota insegura por baixo. "Você estava com ciúmes," percebi em voz alta. "Mesmo naquela época."
Suas bochechas ficaram vermelhas. "Saia."
Mas eu não podia parar agora. Anos de perguntas exigiam respostas. "Diga-me, Lilith, o que eu fiz de errado?"
As palavras pairaram no ar entre nós, um desafio que não podia ser ignorado.