Capítulo 5: Culpa e um Vislumbre de Vida

O coração de Kaelen batia forte enquanto ele subia as escadas correndo. Seu lobo arranhava sua pele, desesperado para se libertar. Um pensamento aterrorizante se repetia em sua mente: e se ela tiver ido embora?

Guardas e servos se dispersavam de seu caminho enquanto ele avançava em direção ao terraço. O sol da tarde queimava forte sobre sua cabeça, fazendo a superfície de concreto cintilar com o calor.

"Onde ela está?" ele rugiu.

Um servo apontou para um pequeno grupo amontoado no canto do terraço. Kaelen abriu caminho entre eles para encontrar Seraphina sendo carregada em uma maca. Sua pele estava vermelha e com bolhas do sol, seus lábios rachados e secos. Seu peito mal se movia.

"Levem-na para os aposentos dela agora!" ele ordenou, seguindo de perto enquanto eles desciam apressadamente as escadas.

Dentro do pequeno quarto de Seraphina, eles a colocaram na cama. A Sra. Moon já estava lá, lágrimas escorrendo pelo seu rosto envelhecido enquanto ela passava um pano úmido na testa da filha.

"Minha menina," ela soluçou, suas mãos tremendo. "O que fizeram com você?"

A curandeira, uma Beta mais velha chamada Rose, trabalhava rapidamente, verificando o pulso e a respiração de Seraphina. Sua expressão permanecia grave.

"Desidratação severa, exaustão pelo calor," ela murmurou. "Sua loba está tentando curá-la, mas ela foi levada longe demais."

Kaelen ficou para trás, observando impotente enquanto tentavam reanimar Seraphina. Seu cabelo loiro estava espalhado pelo travesseiro, seu belo rosto anormalmente pálido sob as queimaduras de sol. Ela parecia pequena, frágil – nada como a mulher desafiadora que o havia encarado apenas horas atrás.

A Sra. Moon olhou para cima, finalmente notando Kaelen. Seus olhos endureceram instantaneamente.

"Você," ela sibilou, levantando-se. Apesar de ser uma Ômega, não havia nada submisso em sua postura agora. "Você fez isso com ela."

Kaelen enrijeceu. "A punição foi—"

"Punição?" A voz da Sra. Moon se elevou. "Por quê? Por um colar que ela nunca roubou? Minha filha nunca pegou nada que não fosse dela. Nunca!"

"Há evidências—"

"Há ódio!" ela retrucou. "Nada além de ódio de vocês três, quando uma vez não suportavam ficar longe dela."

Suas palavras o atingiram como golpes físicos. Imagens passaram por sua mente – a jovem Seraphina correndo atrás deles na floresta, sua risada ecoando enquanto brincavam nos riachos, o jeito como ela lhe trazia flores silvestres que ela mesma colhia.

"Você se lembra, Alpha Kaelen?" A voz da Sra. Moon baixou para um sussurro áspero. "Você se lembra como vocês três garotos davam sobremesas extras para ela? Como você a ensinou a nadar no lago? Como você chorou quando ela pegou febre aos nove anos e não saiu da cabeceira dela até que acordasse?"

Cada lembrança o perfurava como um punhal. Atrás dele, ouviu a porta abrir, sentiu seus irmãos entrando, mas não conseguiu se virar para encará-los.

"O que aconteceu com aqueles meninos?" a Sra. Moon exigiu. "O que transformou seus corações em pedra?"

Kaelen olhou fixamente para a forma imóvel de Seraphina. Ela parecia morta. O pensamento enviou uma onda de náusea através dele.

"Ela vai..." Ele não conseguiu terminar a pergunta.

Rose olhou para cima de onde estava trabalhando. "Estou fazendo tudo o que posso, Alfa. Mas o corpo dela passou por um estresse tremendo. Sua loba está enfraquecendo."

A Sra. Moon desabou de volta na cadeira ao lado da cama, pegando a mão inerte de Seraphina na sua. "Minha doce menina," ela sussurrou. "Por favor, não me deixe."

Kaelen sentiu algo molhado em suas bochechas. Com choque, percebeu que eram lágrimas – suas lágrimas. Ele não chorava desde... desde antes. Antes da traição. Antes de seu coração endurecer contra ela.

Mas agora, vendo Seraphina lutar por cada respiração, algo se quebrou dentro dele. O que eles tinham feito? O que ele tinha feito?

"Sinto muito," ele sussurrou, as palavras parecendo totalmente inadequadas.

A Sra. Moon não olhou para ele novamente, seu foco inteiramente em sua filha. Os minutos se estenderam dolorosamente enquanto Rose continuava trabalhando, misturando ervas e tinturas, colocando compressas frias no corpo de Seraphina.

De repente, o nariz de Seraphina se contraiu. Uma vez, duas vezes. Então – um espirro. Suas pálpebras tremeram.

"Seraphina?" a Sra. Moon chamou, esperança iluminando seu rosto cansado.

Outro espirro, mais forte desta vez. O peito de Seraphina subiu em uma respiração mais profunda. Seus dedos se contraíram no aperto de sua mãe.

"Ela está respondendo," disse Rose, com alívio evidente em sua voz. "Sua loba está reunindo forças."

Kaelen sentiu seus joelhos fraquejarem. Ela estava viva. Ela viveria.

Mas o alívio foi rapidamente perseguido por uma vergonha tão profunda que ameaçava sufocá-lo. Ele não merecia estar aqui quando ela acordasse. Não merecia ver o alívio em seus olhos ou aceitar o perdão que não havia conquistado.

Sem mais uma palavra, ele se virou e saiu do quarto antes que Seraphina pudesse abrir os olhos e ver suas lágrimas. No corredor, ele se apoiou contra a parede, tentando recuperar sua compostura.

"Alfa?" Um guarda se aproximou cautelosamente. "A Ômega...?"

"Ela vai viver," Kaelen disse asperamente. "Tragam comida e água para ela imediatamente. E informem à equipe – a punição acabou. Ela deve descansar e se recuperar."

O guarda assentiu e se afastou apressadamente. Kaelen se endireitou, ajeitando os ombros e dirigindo-se aos seus aposentos. Cada passo parecia mais pesado que o anterior.

Quando chegou ao seu quarto, encontrou Ronan e Orion sentados tensamente na beira de sua cama. Lilith estava enrolada dormindo entre eles, alheia à tempestade que se formava no ar.

"É verdade?" Orion perguntou imediatamente, seu rosto incomumente sério. "Sobre Seraphina?"

"Sim," Kaelen confirmou, sua voz áspera. "Ela quase morreu naquele terraço."

O rosto de Ronan empalideceu. "Mas ela está—"

"Ela vai viver. Por pouco." Kaelen andava pelo quarto, incapaz de ficar parado com o tumulto que rugia dentro dele. "A mãe dela estava lá."

Seus irmãos trocaram olhares. Todos se lembravam da Sra. Moon de antes – seus sorrisos gentis, suas mãos curadoras quando eles esfolavam os joelhos, os biscoitos que ela assava e que eles roubavam do peitoril da janela.

"O que ela disse?" Ronan perguntou baixinho.

"Ela me lembrou de coisas que tenho tentado esquecer." Kaelen parou perto da janela, olhando para o céu que escurecia. "De quem costumávamos ser. De quem Seraphina costumava ser para nós."

Um silêncio pesado caiu sobre o quarto. Mesmo dormindo, Lilith parecia sentir a tensão, movendo-se desconfortavelmente.

"Vocês já se perguntaram," Kaelen finalmente disse, ainda de costas para seus irmãos, "se entendemos tudo errado? Sobre Seraphina?"

Nenhum respondeu imediatamente. Ele ouviu Orion se levantar, seus passos atravessando o quarto para servir uma bebida.

"O pai dela roubou de nós," Orion finalmente disse, mas sua voz carecia de convicção. "Ele traiu a confiança do nosso pai."

"E nós a fizemos pagar por isso mil vezes," Kaelen respondeu, virando-se para encará-los. "Talvez isso seja o suficiente."

A expressão de Ronan estava perturbada. "O que você está dizendo, Kael?"

"Estou dizendo que vi ela quase morrer hoje por causa das nossas ordens. Por causa do nosso ódio." Ele passou a mão pelo cabelo. "E percebi que não conseguia me lembrar exatamente por que começamos a odiá-la tanto em primeiro lugar."

As acusações de seu pai contra Silas Moon vieram depois. A ruptura com Seraphina havia começado antes disso – um muro de ressentimento e mágoa que crescia lentamente e que eventualmente se endureceu em crueldade.

"Ela nos machucou," disse Orion, mas suas palavras soavam vazias até para seus próprios ouvidos.

"Machucou?" Kaelen desafiou. "Ou apenas presumimos que sim?"

Memórias surgiram involuntariamente – o décimo quarto aniversário de Seraphina, a carta que ele havia escrito para ela, derramando seu jovem coração. A rejeição que veio depois. A maneira como ela de repente parou de procurá-los, começou a evitar seus olhares. Então Lilith havia entrado, preenchendo o vazio com seus sorrisos ansiosos e corpo disposto.

Ronan olhou para a mulher adormecida entre eles, e depois de volta para seu irmão. "É complicado."

"É errado," Kaelen disse firmemente. "O que nos tornamos. O que fizemos com ela."

Lilith se mexeu, seus olhos piscando para abrir. Ela se espreguiçou preguiçosamente, aparentemente inconsciente da conversa tensa.

"O que há de errado, Alfa?" ela murmurou, estendendo a mão para Orion.

"Nada que lhe diga respeito," Kaelen disse friamente. "Deixe-nos."

Os olhos de Lilith se arregalaram com seu tom. "Mas—"

"Agora, Lilith." A voz de Ronan não deixava espaço para discussão.

Parecendo magoada e confusa, Lilith juntou suas roupas e saiu do quarto. Quando a porta se fechou atrás dela, Kaelen voltou-se para seus irmãos.

"Orion, Ronan..." ele disse, sua voz pesada com o peso de anos de verdade enterrada. "Me digam... o que aconteceu? Por que vocês dois de repente odiaram Seraphina?"