— Abby… você não deve confiar nesses charlatões. Quem venderia um suposto artefato poderoso?
Abby colocou o livro na mesa — Na verdade ela não ia vendê-lo, eu apenas percebi ele enquanto conversava com ela e ofereci uma quantia a ela.
— Você subornou uma velha por um suposto livro mágico? Espera, ela sequer aceitou? – Cass colocou a mão na boca como se estivesse surpresa pela ação da garota.
— Engraçadinha, é claro que ela quis. Depois de muita relutância... – Abby coçou seu nariz olhando para o lado.
Olhando mais de perto, o livro possuía símbolos escritos pela capa e haviam marcas de queimado por ele. Ele era encapado em couro grosso e possuía um cheiro estranho e distinto de metal.
Cass pegou o livro e tentou o abrir, porém ele se recusava a ser aberto, como se possuísse uma força invisível o impedindo de ser aberto.
— O livro precisa de alguma chave para ser aberto? – perguntou Cass para Abby
— Na verdade também não sei, tentei encontrar a senhora para perguntar, mas ela já havia sumido.
“Claro, ela deve ter pego o dinheiro e se mandado, já deve nem estar neste país mais.” – Pensou Cass.
— Pelo menos ela disse o que está escrito aqui? – Cass disse passando a mão sobre os estranhos símbolos.
— Mais ou menos. Ela disse que é um tipo de linguagem muito antiga, então ela não sabe ao certo o que está escrito. Mas disse que este símbolo significa “Desejo”. – Abby apontou para o último símbolo da capa.
— E por isso eu decidi chamá-lo de “Livro do Desejo” – disse a garota com um tom de orgulho.
Interrompendo a conversa. Uma das criadas de Abby abriu a porta.
— Senhorita Cassandra. Sua mãe está lhe chamando.
— Tudo bem. Já estarei descendo. – respondeu Cass.
Cass foi até seus pais à frente da casa. O clima estava muito mais frio do que quando haviam chegado. Era um frio de fazer os ossos tremerem e as mãos congelarem.
— Mãe, pai, estamos indo tão cedo? – perguntou Cass, curiosa. Normalmente eles ficariam até de tarde, mas não fazia muitas horas desde que chegaram.
— Sim, parece que virá uma nevasca, será melhor estar em casa quando ela chegar. – Engel pegou seu relógio de bolso e o olhou, o guardando logo em seguida mantendo seu olhar sério.
Como estavam no meio do inverno, o clima era muito mais frio que o de costume e nevascas ocorriam frequentemente.
Cass estremeceu quando se lembrou da vez que sofreu um acidente por conta de uma.
Aquela não era uma nevasca tão devastadora por ser uma nevasca de outono, porém seus ventos eram fortes o suficiente para derrubar sua carroça.
Ela também ficou preocupada com seus irmãos, Alice era bem capaz de cuidar deles, e também haviam inúmeros empregados ajudando. Mas e se Alexandria convencesse os empregados de deixá-los saírem? Aquela garota era assustadora convencendo as pessoas.
“Ela é assim com dez anos, imagina como será quando adulta? Certamente será uma das nobres mais influentes do império…”
Cassandra se aproximou e deu um abraço em Abby, ela se sentiu até um pouco mais quente com isso.
— Até a próxima vez. Só não esteja maior que eu da próxima vez que nos encontrarmos… – disse Cass enquanto fazia uma cara de choro
— Nós nos veremos daqui dois dias em seu aniversário, não vai ter passado tanto tempo assim. – respondeu Abby com o rosto vermelho de frio – E não se preocupe, no seu debut já estarei do seu tamanho.
Cass se virou em direção a Hera e fez uma última reverência à mulher.
[...]
Cass acabou adormecendo na viagem de volta, porém o sono não durou muito, sendo acordada por um pesadelo.
Sua mãe leva um susto pelo súbito despertar da filha.
— Está tudo bem, filha? O que ouve? – perguntou Fleur preocupada.
— Está tudo bem. Tive apenas um pesadelo… – Cass estava suando frio e seu coração estava acelerado, fazendo seu corpo ter uma falsa sensação de calor.
Fleur saiu de seu lugar e se sentou ao lado de Cass. Colocando a garota deitada sobre suas coxas e acariciando sua cabeça.
Ela não disse nada, porém cantarolou uma canção que costumava cantar para ela quando pequena. O que fez Cassandra dormir novamente em seu colo.
[...]
Depois de mais algum tempo, eles finalmente chegaram em casa. Frederick, o mordomo chefe da família, se aproximou deles com uma reverência.
— Senhor, Senhora, Senhorita. É bom ver que tenham chegado em segurança. As crianças estão dormindo no quarto de Alice, enquanto Alice está na sala, esperando por vocês.
— obrigado Frederick. Mande preparar um chá para nós. — disse Engel retirando seu casaco com neve e o entregando a uma empregada.
Frederick era um homem na casa dos cinquenta ou sessenta anos e estava sempre com um terno azul marinho. Seu cabelo grisalho estava sempre penteado para trás com suas entradas à mostra.
Ele possuía uma flor feita de tricô no peito de seu termo que foi dada por Alice quando mais nova.
— Sim senhor. — Frederick fez uma reverência antes de sair.
Cassandra e Engel foram para a sala com Alice, enquanto Fleus foi verificar se as crianças estavam dormindo.
Chegando na sala. Cass viu sua irmã sentada separando alguns papéis ao lado da lareira. Ela ainda usava o mesmo pano branco cobrindo seus olhos, porém estava com um casaco mais adequado ao frio e estava com seu cabelo preso em um rabo de cavalo.
A luz quente da lareira contrastava com sua pele pálida e com o ambiente gélido, acentuando ainda mais sua beleza.
Assim que entraram Alice se virou na direção deles.
— Ah, vocês chegaram. – a garota deu um sorriso para seu pai e irmã. — Estou revisando alguns papéis sobre as locações na área norte de kaltehaut… e também tentando mudar esse nome…
Engel assentiu e se sentou em silêncio em sua poltrona, tirou seu cachimbo e o acendeu. Enquanto Cass se sentou ao lado de sua irmã e ficou a olhando mexer na papelada por um tempo.
Não muito tempo depois, Fleur também se juntou a eles se sentando ao lado de Engel. Nesse momento a nevasca já havia começado. E Cass se sentia muito desconfortável.
Se fosse antigamente, esse seria um momento alegre. Todos reunidos em casa, uma nevasca assustadora, porém tranquilizante ao mesmo tempo.
Porém tudo que Cass conseguia sentir era tensão entre todos eles, tudo que ela desejava no momento era ficar em silêncio. Era como se caso alguém falasse qualquer coisa, toda a família seria inundada por uma avalanche.
Então tudo que ela podia fazer era ficar sentada, olhando sua irmã organizando os papéis, seus pais se olhando vez ou outra e segundo a mão um do outro.
Era como uma bomba prestes a detonar, e o principal catalisador sendo ela.