Deitada em sua cama. Cassandra não conseguia aquietar seu coração.
A nevasca ainda soprava fortes ventos do lado de fora, jogando galhos de árvore para longe.
Cass ainda estava pensando na situação em que estava.
Sua irmã mais velha estava constantemente viajando e quando estava em casa vivia trancada no quarto. Seus pais estavam mais quietos que o normal, pareciam receosos sobre algo de extrema urgência.
E já faz alguns dias que ela vem tendo o mesmo pesadelo horrível.
Tudo parece estar desmoronando sobre seus olhos. E Cass sentia que tudo era sua culpa, já que tudo começou com seu aniversário se aproximando.
“Ainda lembro do rosto do papai se contorcendo enquanto falava sobre meu debut…" – Cass pensou enquanto mordia os lábios fazendo uma careta.
“Algo me diz que aquele foi o último momento “feliz” que tivemos em família.”
Pensando em arejar sua mente, Cass foi dar uma volta pela casa.
Seus longos corredores vazios, com inúmeros quartos. A noite fria deixou os corredores ainda mais sombrios.
Apenas algumas empregadas ainda estavam acordadas, ou por insônia, ou terminando seus deveres.
Após andar um pouco pela casa, Cass decidiu que passaria no quarto de seus irmãos para verificar se estavam bem.
Como irmã mais velha, Cass se sentia responsável pelos pequenos, e como já estava lá, não teria problema se fosse ver como estavam.
Enquanto atravessava o corredor, Cass escutou murmúrios saindo de algum dos quartos. Procurando um pouco, ela logo percebeu que eles vinham do quarto de sua irmã.
Alice estava conversando com alguém dentro de seu quarto.Tentando ouvir um pouco, ela logo reconheceu a voz de sua mãe.
A voz dela parecia um pouco rouca, como se estivesse chorando, mas ela ainda podia ouvir parte da conversa.
[…]
— Se você deseja tanto ir no lugar dela, mande uma carta pedindo por isso! – Sua voz estava rouca, e demonstrava estar irritada com algo.
— Eu já tentei fazer isso, eles não me responderam. Vocês são os únicos que podem impedir isso, não deixem ela ir para aquele lugar. – A voz de Alice também parecia muito mais triste e irritada deixando de lado sua calma convencional.
— Filha. Cassandra já está planejada para ir a casa do arquiduque desde seu nascimento… Nós também não gostamos da ideia de deixá-la ir, mas é isso o que precisamos fazer. — A voz de Fleur parecia mais abatida.
[...]
Cassandra deu um passo para trás assustada. Entendendo a situação, Cass logo supôs que esse era o motivo de tanto desconforto e receio entre eles.
No reino, existem cinco arquiduques, vinte e cinco duques e cinquenta barões. Com cada um tendo seu próprio domínio de região, onde os arquiduques são a principal autoridade, abaixo apenas do imperador.
Sendo assim, Cass seria mandada para um dos cinco arquiduques em questão, sendo o mais provável o arquiduque Bote der Himmel, por ser o responsável pela região de Eisiger Gipfel, Goldroute e Meeresebenen.
Arquiduque Bote era um homem na casa dos trinta, ele possuía cabelos longos e loiros.
Ele é o criador de inúmeros decretos e projetos de reforma, também é uma figura muito importante na revolução industrial, sendo grande apoiador de diversas empresas.
Ele também é responsável pela região onde barão Engel é responsável, então faria sentido que fosse ele…
“Não posso acreditar, a mãe e o pai me venderam?” – Cass ainda estava atordoada pela situação.
Ela logo saiu de perto do quarto de Alice, indo direto a seu próprio quarto.
Se jogando em sua cama, Cass queria imaginar que o ocorrido não passava de pesado que lhe assolava.
Com sua imaginação correndo solta com ideias e mais ideias sobre o que havia acontecido para levar a essa situação.
[...]
No dia siguiente.
Cass ainda estava atordoada pela revelação. Ela passou a noite toda acordada e estava com olheiras sobre seus olhos.
Ammy entrou pela porta e arqueou as sobrancelhas. A garota normalmente dorme até tarde, então ver-la acordada era algo incomum.
— Srta. Cassandra? A senhorita já está acordada? – perguntou a empregada enquanto trazia um Bule de chá com algumas bolachas.
— Não consegui dormir bem ontem a noite… Por conta da nevasca.
— Senhorita. Talvez devêssemos colocar uma muda de roupas mais adequadas para o dia. – A empregada comentou enquanto olhava pela janela.
A tempestade expulsou as nuvens e permitiu que o sol brilhasse. Ainda estava frio e a neve ainda cobria o telhado das casas. Porém agora tudo estava iluminado pelo brilho do sol.
Dando um suspiro, Cass trocou suas roupas, colocando um longo vestido azul sem mangas, prendeu seu cabelo com laços da mesma cor e colocou luvas longas para esquentar suas mãos.
— Avise a Frederick que irei sair, mande-o preparar uma carruagem para o centro. – Cass precisava digerir melhor toda essa situação, então ela pensou em uma solução.
— Claro. Para onde a Senhorita vai?
— Ao teatro Sonnenlicht. – Respondeu Cass com seus olhos ainda distantes.
Hoje será a estreia de uma peça no teatro. Mesmo antes de sua estréia, a peça está causando bastante repercussão por seu elenco de peso e por sua temática.
Cass planejava ir assistir-lá com sua família caso a estréia seja bem recebida. Porém ela dúvidava muito que isso seria possível daqui pra frente.
Ela também não se sentia muito confortável em casa agora.
Cass foi ao escritório de seu pai. Chegando lá, Cass viu senhor Engel fumando seu cachimbo enquanto lia alguns documentos.
Sentados em um pequeno sofá que ficava no escritório estavam Alexandria e Notte.
O garoto estava adormecido nos ombros da garota enquanto ela estava lendo um livro com algumas figuras.
— Bom dia pai… – disse Cass ao seu pai. Após isso ela foi em direção as crianças e as deu um beijo em suas testas.
— Pai, eu estarei saindo agora. Vou ir ao centro e depois irei ver a estreia no teatro.
Engel olhou para sua filha e depois assentiu. — Tudo bem. Leve Ammy e um guarda junto a você. – Em seguida ele prestou atenção novamente para suas papeladas.
— Tudo bem. – Assentiu Cass.
[...]
Cass estava no centro de Schnee. As ruas de pedras cobertas por gelo estavam inundadas de pessoas saindo ou indo a seus trabalhos.
Como atualmente era final de ano, as escolas estavam fechadas e os estudantes estavam passeando pelas ruas. Ela também não tinha nenhuma obrigação com os estudos, por ser de alta classe, seus ensinos sempre foram em casa.
Cass estava passeando pelas ruas a pé, ela havia deixado sua carruagem há algumas quadras e foi caminhar.
O ar gelado fazia seus pulmões doerem e seu nariz ficar vermelho, enquanto que o sol a esquentava parcialmente.
Alguns trabalhadores estavam limpando a estrada para melhorar a circulação e evitar possíveis acidentes, enquanto algumas pessoas também limpavam seus telhados retorcidos.
Algumas pessoas que a reconheciam acabavam saudando ela de vez em quando, enquanto outras aparentavam estar sussurrando sobre ela.
O ar, além de gélido, também era muito mais puro que em outras capitais. Em muitas cidades haviam grandes empresas que deixavam o local com um cheiro nojento, porém, com os esforços do seu pai e do duque Matias, eles conseguiram alocar as empresas para as proximidades da cidade, mantendo apenas as pequenas empresas, deixando a cidade com um ar mais limpo.
Enquanto passeava pelo parque central da cidade, Cass percebeu que haviam pequenas lojas que abriram recentemente e que ela não teve tempo de visitá-las.
Ela logo percebeu uma loja específica, o que a deixou intrigada. A loja não se destacava com as demais, porém Cass não conseguia deixar de prestar atenção nela.
“Loja de antiguidades e itens mágicos Mitternachtslicht”.