Capítulo 6: Peça de inverno

 As luzes se apagaram, com apenas as luzes do palco iluminado o local. Uma grande cortina vermelha se abriu, revelando os atores.

 A peça contava a história de dois jovens de famílias rivais, que por um acaso acabam se apaixonando.

 A história começa com duas famílias que brigam por gerações, uma sendo chamada de Dracony e a outra de Anvil.

 A peça parece ser uma crítica sobre guerras que ocorrem entre o sul e o norte, já que as pessoas da família Dracony possuem uma pele branca e pálida, e usam roupas de frio, já os Anvil possuem uma pele mais escurecida e vivida, representando os habitantes de climas quentes do norte.

 Há não muitos anos, uma guerra estourou entre dois países vizinhos e alguns países do norte, e isso deixou uma forte marca nas pessoas de Kaltest.

 Logo em seguida, foram apresentados os personagens principais, Lilian Anvil e Mond Dracony.

 Mond foi enviado a uma viagem, onde por um mero acaso, conheceu Lilian, e se apaixonou pela garota, que por sua vez, seguiu o conselho de sua família e manteve distância do garoto, entregando muitos momentos engraçados, como quando ele tentou convidá-la para dançar ela o rejeitou derramando seu vinho no garoto.

 Esse foi um dos momentos que Cass pôde se divertir junto à plateia abaixo. Dava um pouco de pena do garoto… mas ver ele se humilhando pela atenção da garota era divertido para todos.

 Logo a viagem teve de acabar, o garoto saindo derrotado pela garota, porém com ela demonstrando sinais de relutância em deixá-lo ir.

 As cortinas se fecharam, com o diretor falando que teria alguns minutos de intervalo para a plateia e os atores descansarem. 

 Cass usou esse tempo para cumprimentar alguns nobres que estavam assistindo o teatro. Ela se encontrou com Abby que também cumprimentava conhecidos, elas conversaram um pouco até que Abby foi puxada por sua mãe mais uma vez.

 Enquanto os minutos passavam, a garota começou a sentir um forte aperto em seu peito, seguido de falta de ar e seu coração batendo acelerado.

 Era um pressentimento ruim, algo que engolia o ambiente alegre, o tornando mais frio e seco.

 Cass pode perceber uma movimentação estranha em frente ao corredor que levava aos assentos de honra. 

O silêncio se instaurou no salão, apenas os sons de passos podiam ser ouvidos vindo em direção ao salão. Até que Cass viu algo que a fez parar de respirar.

 Uma figura que parecia fora de lugar mesmo em meio a tanto luxo, alguém que fazia Cass se sentir como uma plebéia suja diante do próprio imperador.

 Um homem andava lentamente em direção ao salão, seu longo cabelo dourado descia como uma cascata de ouro puro, seus olhos cansados pareciam carecer de emoções, ou talvez expressarem tantas que Cass era incapaz de entender o que queriam dizer. Ele vestia um longo manto branco folgado que dava a sensação de relaxamento.

 O homem andou até uma cadeira e se sentou olhando para o além, parecendo uma pintura em meio a noite escura. Um de seus servos que Cass sequer tinha percebido levou a ele uma xícara de café.

 Ele pegou a xícara e degustou de um gole do líquido. Mesmo com sua estatura alta e magra, ainda era possível ver seus músculos e algumas cicatrizes em seu braço.

 As pessoas à sua volta pareciam se tornar borrões e vultos, alguns pareciam ter admiração em seus rostos, enquanto outros possuíam terror aparente em seus olhos.

 Cass observou ele de longe por algum momento, até que sentiu como se ele pudesse saber que ela estivesse o olhando e se virou, dando apenas pequenos olhares para o homem.

 Ela se sentia mais desconfortável ainda, sua respiração estava pesada e só não estava suada por conta do suor congelar com o frio do lugar que continuava rasgando seu pulmão a cada inspiração que dava.

 Enquanto conversava com um nobre de sua idade sobre a possível conclusão da peça, ela ouviu sons de passos atrás dela, e então, uma sombra veio a encobri-la.

 Ela era alguém alta para sua idade, então ela ficou extremamente nervosa sobre quem era.

— Senhorita Cassandra, que prazer te encontrar aqui. — Era a voz de um homem, era suave e relaxada como a de quem acabara de acordar.

 Cass prendeu a respiração e ficou paralisada ao perceber quem era. Se virando, Cassandra viu arquiduque Himmel parado em sua frente com seu rosto sereno.

— Se– senhor Himmel, é– é um prazer vê-lo também. — Cassandra se curvou ao homem, ela ainda estava prendendo sua respiração pois sentia que, se respirasse, sua cabeça seria desconectada do corpo no mesmo instante.

— Fiquei surpreso ao vê-la aqui sozinha, seus pais não vieram? — Himmel parecia não se importar de verdade perguntando apenas por conveniência.

— E– Eles estão em casa agora, vim sozinha! — Ela estava com dificuldade para falar com o homem.

 Desde que descobriu sobre ser enviada à casa do arquiduque, Cassandra imaginou inúmeras formas de tentar escapar do homem, porém agora, todas foram quebradas.

 Ela sentia que nenhuma forma de escapar dele seria possível, esse encontro foi uma facada nela, nada que tentasse adiantaria, e ainda teria a chance dela ser morta apenas por contestar sua vontade.

— Entendo… — Ele olhava para o lado com desdém e falta de emoção, seu rosto parecia cansado e nem parecia ter escutado o que Cass falou. — Parece que já é hora de voltar. Adeus Srta. Engel.

 Ele voltou de onde veio assim como havia chegado, Cass finalmente pode respirar, sentindo seu pulmão sendo rasgado pelo ar gélido.

 Ela sentia gosto de sangue em sua boca, até que finalmente percebeu que havia mordido sua língua com força e agora começou a sangrar e doer.

 Este encontro pôde ter sido tão breve, porém simplesmente à mutilou de todas as formas, se antes ela tinha qualquer forma de esperança, ela foi completamente destruída assim que viu Himmel.

 Tudo que Cass podia fazer agora, era temer o momento em que seria tirada de sua casa e teria que conviver com o homem o tempo todo.