Enquanto andava pelos corredores, Cass pensava em como iria questionar seu pai sobre o Himmel e sua ida.
Fleur e Alice pareciam seriamente preocupadas e perturbadas com essa ideia, mas não poderiam fazer nada a respeito.
Seu pai é o único que deve ter alguma autoridade para decidir se ela vai ou fica, sendo essa sua única saída.
Ela chega ao escritório de seu pai e vê que além dele, Fleur e Alice também estão lá.
O silêncio se instaura na sala quase na forma de penumbra, a tensão entre todos era tão densa que podia ser tocada.
— Cass, feliz aniversário querida. – Fleur disse, com um sorriso forçado em seu rosto.
— Feliz aniversário Cass. – Alice também a parabenizou.
Cass agradeceu, mordendo os lábios — Obrigada.
— Gostariam de falar comigo? – perguntou Cass.
Barão Engel, arrumou sua gravata enquanto respondia:
— Sim. Primeiramente, feliz aniversário.
— Obrigada…
O homem abriu uma gaveta em sua escrivaninha e tirou uma carta azul com um brasão feito em cera dourada.
— Essa é… É uma carta do arquiduque Bote, ele mandou avisar que virá hoje ao jantar em comemoração de seu aniversário. — Engel parecia levemente preocupado, sua voz quase não saia.
— …
Cass ficou em silêncio, fechou os olhos, e se perdeu em seus pensamentos.
— Cassandra? — Ele perguntou preocupado.
Ela cerrou os punhos, mordendo os lábios de sua boca.
O arquiduque virá hoje. Cass contava com mais tempo – Talvez desse até algum tempo para se preparar e pensar em uma forma de escapar.
Mas agora não havia escapatória, ela teria que questionar seu pai ali e agora.
— MAS QUE DROGA É ESSA? — Cass bateu com as mãos na mesa enquanto gritava, lançando um olhar cortante para seu pai.
Engel pareceu surpreso com a atitude incomum da garota, Fleur que estava ao lado se assustou e desfez o sorriso forçado.
Alice permaneceu calma no lugar, porém parou de sorrir como de costume.
— ME EXPLIQUEM, QUE MERDA É ESSA DE ARQUIDUQUE BOTE? E PORQUE EU DEVO IR COM ELE?
Engel surpreso, olhou para Fleur ao seu lado e depois olhou para Alice.
— Onde você… Onde você escutou isso? – Ele perguntou com surpresa.
— O QUE LHE ADIANTA SABER DISSO? Saber disso vai me impedir de ser levada? Porque eu acho que não!
Cass estava irreconhecível para seu pai, sua pureza e alegria tinham sido arrancadas há muito tempo – substituídos por amargura e um sentimento de traição que envenena toda a sala.
Ela sentia vontade de socar todos eles por abaixarem a cabeça diante disso, Alice foi a única que tentou lutar contra a ideia e ainda assim foi repreendida por sua mãe.
Lançando um suspiro pesado, Sr. Engel começou a explicar a Cass:
— Tudo bem… Alice, leve sua mãe para o quarto. Essa não vai ser uma conversa muito simpática. — Engel disse segurando a mão de Fleur.
— Não, eu quero ficar com minha filha. — Disse Fleur.
Ela segurava a mão de Engel com força e seus olhos lacrimejavam, estando prestes a chorar.
— Tudo bem amor, eu resolvo isso, essa conversa não será boa para você. — O barão tentou acalmá-la.
Fleur assentiu e permitiu que Alice a guiasse até seu quarto.
— Você não quer se sentar? Isso vai levar um tempo…
— Estou bem assim! — Respondeu Cass.
— Muito bem… essa seria uma conversa inevitável, com a aproximação de seu debut. O que exatamente você deseja saber? — Ele pegou a carta e a olhou por alguns instantes, antes de lançar seu olhar sobre Cass novamente.
— Eu quero saber tudo! Por que eu devo ir? Quando irei? É mesmo o arquiduque Himmel? — Ela respondeu, sua voz ansiosa por algum resquício de esperança.
Mesmo tendo colocado em sua mente que seria o arquiduque Himmel quem a levaria, ela ainda não tinha total certeza disso, já que na conversa entre sua mãe e Alice ela só pôde ouvir que seria o arquiduque, mas não de qual deles elas estavam falando.
— Minha filha, você não é alguém normal, essa é a verdade. — Engel revirou sua gaveta até tirar uma pasta com o nome de Cass escrita nela.
Abrindo a pasta, ele tirou alguns papéis e apresentou a Cass.
Olhando os papéis, neles havia várias informações sobre ela, sua data de nascimento, seu tipo sanguíneo e outras informações relevantes que todos tinham.
Porém o que chamava a atenção eram as marcações que ela desconhecia o significado.
[...]
[SANGUE ANÔMALO]
CONTAGEM DE ÉTER: 37%
( ) Baixa
( ) Média
(×) Alta
( ) Perigosa
SANGUE NEGRO: Negativo
TAXA DE INFEÇÃO: 4%
[...]
— O que… o que é isso? — Murmurou Cass.
Havia gráficos que representavam o crescimento de algo chamado Éter, que era marcado como estando em uma contagem “alta”.
Isso logo fez o coração de Cass tremer de temor, sentindo seu corpo todo estremecer. Não era perigosa, mas estar alta não parecia ser algo bom.
— Você é alguém chamado de “Sangue anômalo”, pessoas nascidas com alterações em seu sangue. — Ele agrupou as folhas, mantendo apenas as que estavam com Cass acima da bancada.
— Você em específico, é chamado de Adepto de Éter – Alguém com alta contagem de Éter em seu sangue, isso lhe torna consideravelmente instável emocionalmente, fisicamente e mentalmente.
— E o que é esse tal de Éter? É tão prejudicial assim para mim? — Cass perguntou preocupada.
— O Éter é… complicado de se explicar. De maneira rude e resumida, ele é uma energia ou partícula que existe por todo o mundo, sem ele, a vida não existiria. Porém, pessoas com alta taxa de Éter em seus corpos são mais suscetíveis à sua influência, ficando cada vez mais adeptas a eles com o passar do tempo.
Inquieto, Engel se levantou e pegou seu cachimbo, colocando tabaco e o acendendo, fazendo a fumaça cobrir a sala e o cheiro penetrar o local.
— Pessoas com baixa ou média taxa são mantidas com suas famílias, já que representam baixa taxa de perigo, mas quando se tem uma alta taxa, você é levado para a fazenda, onde se é mantida até completar um rigoroso treinamento.
— Por sorte, você nasceu em nossa família, que nos permitiu cuidar de você, pelo menos até o começo do inverno, quando recebemos uma carta do arquiduque avisando que você seria levada por ele depois de seu aniversário.
Cass ouvia atentamente e cada vez mais se sentia desolada, sem esperança, e principalmente, com medo.
Ela era uma bomba relógio, não metaforicamente, mas literalmente, podendo surtar a qualquer momento, e sendo considerada um perigo a ponto de poder ter sido separada de seus pais caso tivesse nascido em uma família mais pobre.
Mais perguntas surgiram na mente de Cass, porém ela se conteve para ouvir a explicação de seu pai.
Outra coisa que lhe assustava era a vinda de Himmel. Ela tinha duas hipóteses para essa vinda, a primeira de que, o homem viria para avaliá-la mais detalhadamente, o que era menos provável, sendo que ele já havia visto ela ontem.
A segunda, era que ele havia vindo a buscar. Esta era a opção mais coesa e provável.
Afastando esses pensamentos, Cass continuou a ouvir a explicação de seu pai.