Capítulo 8: Cicuta

 Enquanto andava pelos corredores, Cass pensava em como iria questionar seu pai sobre o Himmel e sua ida.

 Fleur e Alice pareciam seriamente preocupadas e perturbadas com essa ideia, mas não poderiam fazer nada a respeito.

 Seu pai é o único que deve ter alguma autoridade para decidir se ela vai ou fica, sendo essa sua única saída.

 Ela chega ao escritório de seu pai e vê que além dele, Fleur e Alice também estão lá.

 O silêncio se instaura na sala quase na forma de penumbra, a tensão entre todos era tão densa que podia ser tocada.

— Cass, feliz aniversário querida. – Fleur disse, com um sorriso forçado em seu rosto.

— Feliz aniversário Cass. – Alice também a parabenizou.

 Cass agradeceu, mordendo os lábios — Obrigada.

— Gostariam de falar comigo? – perguntou Cass.

 Barão Engel, arrumou sua gravata enquanto respondia:

— Sim. Primeiramente, feliz aniversário.

— Obrigada… 

 O homem abriu uma gaveta em sua escrivaninha e tirou uma carta azul com um brasão feito em cera dourada.

— Essa é… É uma carta do arquiduque Bote, ele mandou avisar que virá hoje ao jantar em comemoração de seu aniversário. — Engel parecia levemente preocupado, sua voz quase não saia.

— …

 Cass ficou em silêncio, fechou os olhos, e se perdeu em seus pensamentos.

— Cassandra? — Ele perguntou preocupado.

 Ela cerrou os punhos, mordendo os lábios de sua boca.

 O arquiduque virá hoje. Cass contava com mais tempo – Talvez desse até algum tempo para se preparar e pensar em uma forma de escapar.

 Mas agora não havia escapatória, ela teria que questionar seu pai ali e agora.

— MAS QUE DROGA É ESSA? — Cass bateu com as mãos na mesa enquanto gritava, lançando um olhar cortante para seu pai.

 Engel pareceu surpreso com a atitude incomum da garota, Fleur que estava ao lado se assustou e desfez o sorriso forçado.

 Alice permaneceu calma no lugar, porém parou de sorrir como de costume.

— ME EXPLIQUEM, QUE MERDA É ESSA DE ARQUIDUQUE BOTE? E PORQUE EU DEVO IR COM ELE? 

 Engel surpreso, olhou para Fleur ao seu lado e depois olhou para Alice.

— Onde você… Onde você escutou isso? – Ele perguntou com surpresa.

— O QUE LHE ADIANTA SABER DISSO? Saber disso vai me impedir de ser levada? Porque eu acho que não!

 Cass estava irreconhecível para seu pai, sua pureza e alegria tinham sido arrancadas há muito tempo – substituídos por amargura e um sentimento de traição que envenena toda a sala.

 Ela sentia vontade de socar todos eles por abaixarem a cabeça diante disso, Alice foi a única que tentou lutar contra a ideia e ainda assim foi repreendida por sua mãe.

 Lançando um suspiro pesado, Sr. Engel começou a explicar a Cass: 

— Tudo bem… Alice, leve sua mãe para o quarto. Essa não vai ser uma conversa muito simpática. — Engel disse segurando a mão de Fleur.

— Não, eu quero ficar com minha filha. — Disse Fleur.

 Ela segurava a mão de Engel com força e seus olhos lacrimejavam, estando prestes a chorar. 

— Tudo bem amor, eu resolvo isso, essa conversa não será boa para você. — O barão tentou acalmá-la.

 Fleur assentiu e permitiu que Alice a guiasse até seu quarto.

— Você não quer se sentar? Isso vai levar um tempo… 

— Estou bem assim! — Respondeu Cass.

— Muito bem… essa seria uma conversa inevitável, com a aproximação de seu debut. O que exatamente você deseja saber? — Ele pegou a carta e a olhou por alguns instantes, antes de lançar seu olhar sobre Cass novamente.

— Eu quero saber tudo! Por que eu devo ir? Quando irei? É mesmo o arquiduque Himmel? — Ela respondeu, sua voz ansiosa por algum resquício de esperança.

 Mesmo tendo colocado em sua mente que seria o arquiduque Himmel quem a levaria, ela ainda não tinha total certeza disso, já que na conversa entre sua mãe e Alice ela só pôde ouvir que seria o arquiduque, mas não de qual deles elas estavam falando.

— Minha filha, você não é alguém normal, essa é a verdade. — Engel revirou sua gaveta até tirar uma pasta com o nome de Cass escrita nela.

 Abrindo a pasta, ele tirou alguns papéis e apresentou a Cass. 

 Olhando os papéis, neles havia várias informações sobre ela, sua data de nascimento, seu tipo sanguíneo e outras informações relevantes que todos tinham.

 Porém o que chamava a atenção eram as marcações que ela desconhecia o significado. 

[...]

[SANGUE ANÔMALO] 

 CONTAGEM DE ÉTER: 37% 

( ) Baixa

( ) Média

(×) Alta

( ) Perigosa

 SANGUE NEGRO: Negativo

 TAXA DE INFEÇÃO: 4%

[...]

— O que… o que é isso? — Murmurou Cass.

 Havia gráficos que representavam o crescimento de algo chamado Éter, que era marcado como estando em uma contagem “alta”. 

 Isso logo fez o coração de Cass tremer de temor, sentindo seu corpo todo estremecer. Não era perigosa, mas estar alta não parecia ser algo bom.

— Você é alguém chamado de “Sangue anômalo”, pessoas nascidas com alterações em seu sangue. — Ele agrupou as folhas, mantendo apenas as que estavam com Cass acima da bancada. 

— Você em específico, é chamado de Adepto de Éter – Alguém com alta contagem de Éter em seu sangue, isso lhe torna consideravelmente instável emocionalmente, fisicamente e mentalmente.

— E o que é esse tal de Éter? É tão prejudicial assim para mim? — Cass perguntou preocupada.

— O Éter é… complicado de se explicar. De maneira rude e resumida, ele é uma energia ou partícula que existe por todo o mundo, sem ele, a vida não existiria. Porém, pessoas com alta taxa de Éter em seus corpos são mais suscetíveis à sua influência, ficando cada vez mais adeptas a eles com o passar do tempo. 

 Inquieto, Engel se levantou e pegou seu cachimbo, colocando tabaco e o acendendo, fazendo a fumaça cobrir a sala e o cheiro penetrar o local.

— Pessoas com baixa ou média taxa são mantidas com suas famílias, já que representam baixa taxa de perigo, mas quando se tem uma alta taxa, você é levado para a fazenda, onde se é mantida até completar um rigoroso treinamento.

— Por sorte, você nasceu em nossa família, que nos permitiu cuidar de você, pelo menos até o começo do inverno, quando recebemos uma carta do arquiduque avisando que você seria levada por ele depois de seu aniversário.

 Cass ouvia atentamente e cada vez mais se sentia desolada, sem esperança, e principalmente, com medo.

 Ela era uma bomba relógio, não metaforicamente, mas literalmente, podendo surtar a qualquer momento, e sendo considerada um perigo a ponto de poder ter sido separada de seus pais caso tivesse nascido em uma família mais pobre.

 Mais perguntas surgiram na mente de Cass, porém ela se conteve para ouvir a explicação de seu pai.

 Outra coisa que lhe assustava era a vinda de Himmel. Ela tinha duas hipóteses para essa vinda, a primeira de que, o homem viria para avaliá-la mais detalhadamente, o que era menos provável, sendo que ele já havia visto ela ontem.

 A segunda, era que ele havia vindo a buscar. Esta era a opção mais coesa e provável.

 Afastando esses pensamentos, Cass continuou a ouvir a explicação de seu pai.