Capítulo 12: Último suspiro

Enquanto esperava Abby voltar com a água, Cass viu três criaturas entrarem no salão.

Elas eram como sombras na realidade, uma grande fumaça negra que agia como um lobo farejando sua presa — elas procuravam por algo, andavam de um lado para o outro soltando um forte odor de enxofre.

Porém ninguém mais parecia ver elas, apenas algumas pessoas pareciam levemente desconfortáveis próximas dessas criaturas.

E a pessoa que teve a pior reação, foi Abby, que de alguma forma também sentiu o forte cheiro.

A princípio Cass pensou que, ignorando as criaturas, fingindo não vê-las como os outros, elas talvez fossem embora.

Porém a desconfiança de Abby começou a chamar a atenção das criaturas e elas tiveram que sair de lá com duas das criaturas às seguindo.

VAMOS PARA OS ESTÁBULOS!

— O QUE? — Abby perguntou confusa.

Por mais que estivessem correndo, as criaturas ainda eram muito rápidas, Cass não sabia por quanto tempo elas conseguiam correr, mas parecia que não se cansaram tão facilmente, então os cavalos eram sua melhor opção.

Elas logo chegaram nos estábulos, as criaturas estavam a uma distância considerável delas — o que não é muito com a velocidade em que estavam correndo.

— Cass, você não vai me explicar o que está acontecendo? — Abby ainda estava confusa com toda a situação. Elas estavam indo para a casa de Cass, porém Cass mudou de direção no meio do caminho indo para os estábulos.

Ao chegar, elas não podiam mais sentir o cheiro de enxofre, Abby deu um suspiro antes de perceber que Cass ainda estava agitada.

— Você não se importa em dividir o cavalo, né Abby? — Cass correu em direção a uma sela de couro e a pegou, colocando em seu ombro.

CASSANDRA! Você vai mesmo ficar fazendo suspense? 

Cass se aproximou da garota e a deu um abraço.

— Eu juro que se você me ajudar aqui, eu conto tudo para você… — Cass se afastou da garota.

Ela olhou para a direção das criaturas e calculou que não tinham mais muito tempo para preparar outro cavalo.

— Tudo bem mas- Cass! — Cass puxou Abby pelos braços a levando junto enquanto corria.

O cheiro de enxofre logo inundou o lugar. As criaturas haviam chegado. De alguma forma, elas estavam farejando Cass e Abby.

Cass fez um sinal para Abby ficar quieta, se esgueirando pelas paredes do estábulos para fora, por sorte, as criaturas pareciam ter péssima ou nenhuma visão.

Elas se esgueiraram até às cercas de madeira do lado de fora, onde um belo cavalo branco estava no local.

O cavalo andava de um lado para o outro agitado, não parecia arisco com a presença das garotas, mas sim com as criaturas do lado de dentro.

Cass tentou se aproximar do animal em silêncio enquanto Abby segurava a sela.

— Ei amigão, está tudo bem, tudo bem. — Cass se aproxima do cavalo o acariciando e sussurra para ele tentando acalmá-lo.

Abby se aproxima do outro lado com a sela e a joga por cima dele e prendendo para não se soltar.

Após o momento de desespero passar, Cass começa a sentir o frio novamente e pega dois mantos jogados e entrega um para Abby.

Elas logo veem as criaturas terminando de passar por dentro do estábulo e saindo pela porta de trás.

Cass sobe rapidamente no cavalo e ajuda Abby a subir com dificuldade.

Ela dá um sinal para o cavalo que sai em disparada pelo portão em direção a floresta.

As criaturas, ao ouvirem o som do portão, disparam atrás do animal, correndo pela neve em uma velocidade surpreendente, mas ainda inferior ao do cavalo.

Cass e Abby tampavam seus rostos com o manto para que o vento frio que batia em seus rostos não as queimasse enquanto cavalgavam.

O cheiro de enxofre ainda podia ser sentido impregnado em suas roupas, as aves que apareciam raramente pelo caminho corriam apressadamente antes mesmo de chegarem perto.

A mera presença das criaturas fazia as garotas sentirem fortes tonturas sendo difícil até de guiar o cavalo, que também parecia estar sendo afetado por elas.

Ao passarem pela grande floresta, Cass só podia pensar em uma forma de despistar das criaturas.

Quando verificou que as coisas estavam longe o suficiente, Cass usou o cavalo de apoio para subir Abby em uma grande árvore, subindo logo em seguida.

Pegando um graveto, Cass chicoteou o cavalo, o fazendo sair correndo pela floresta descoordenado.

Se tudo der certo, as criaturas seguirão o som do animal e o perseguirão ao invés delas, é essa seria a única esperança delas escaparem, caso contrário, sabe-se lá o que essas coisas farão.

Abby ainda estava em silêncio e abraçando Cass, para ela, elas estavam sendo perseguidas por algo que não podiam ver nem ouvir, tudo que dava alguma luz a ela, era o cheiro de enxofre e a forte enxaqueca que sentia quando as coisas se aproximavam.

Cass viu as criaturas chegando rapidamente de longe, ao contrário do cavalo, não deixavam pegadas na neve além de uma sutil impressão de que ela havia derretido por onde passavam.

Ao entrarem na floresta, todo o ar puro pareceu se contaminar com algo podre e profano, o ambiente pareceu esquentar como se tivessem acendido uma fogueira em algum lugar perto, as plantas perdiam sua vitalidade por onde passavam, se transformando em cascas ressecadas e sem cor.

Eles rapidamente chegaram onde elas estavam, trazendo consigo o cheiro de morte e a grande pressão mental.

Ambas as sombras, ao chegarem no local diminuíram sua velocidade, Cass teve que se forçar ao máximo para se manter consciente com as criaturas por perto enquanto a forte enxaqueca fazia sua mente colapsar aos poucos.

Abby mordeu o mando de Cass enquanto lágrimas escorriam de seus olhos — a dor parecia ser muito mais intensa na garota que em Cass, provavelmente por ela ser uma Adepta e Abby uma pessoa comum.

“Droga, se ao menos… ao menos… O PAI! Se o pai estivesse aqui talvez ele soubesse o que fazer…”

Cass abraça Abby fortemente, ainda reprimindo o desejo de desmaiar, sua visão ficando mais turva a cada momento.

Sua mente estava prestes a se quebrar, porém a ideia de deixar Abby em perigo mantinha um único fio de racionalidade em Casa.

Após alguns momentos por perto, as duas sombras disparam em direção a onde o cavalo correu.

“Ufa! Ainda estamos vivas, que bom”

Cass olha para Abby para verificar se ainda está bem — “Desmaiou? Deve ter sido horrível para ela…”

Abby estava deitada no colo de Cass ainda mordendo o manto dela, a cena era horrível para Cass, seus olhos inchados, lágrimas ainda escorrendo por suas bochechas e seu rosto ainda agonizando de dor.

“Malditas sejam essas coisas, eu juro que um dia eu irei matar cada uma dessas merdas…”

[...]

A Oeste de Schnee, uma garota alta de cabelos negros como ébano entrava em uma loja de esquina com caixas contendo garrafas para poções.

Indo para trás do balcão, ela conferiu se todas as garrafas estavam devidamente limpas e intactas, guardando as logo em seguida.

— Ei Selena, venha aqui por um momento. — A voz de um homem veio de trás de uma cortina púrpura que dava para os fundos da loja.

Indo até o local, Selena encontra seu tio Nicodemos atrás de um grande caldeirão decorado com inúmeros símbolos e desenhos.

— Tio? O que é isso? — perguntou Selena, olhando para o caldeirão.

— É o nosso novo caldeirão, eu comprei a alguns dias e queria fazer uma surpresa para você, o que achou? — o homem se aproximou da garota com um rosto orgulhoso.

Selena se aproximou e inspecionou o novo caldeirão, o metal usado, seus ornamentos, se seria era duradouro ou não, ou se acabaria contaminando as poções.

— É, acho que se o lavarmos melhor e passar algo dentro irá ficar perfeito. — respondeu ela sorrindo de canto de boca.

— Claro que é perfeito, seu tio aqui tem mais de setenta anos, como não saberia escolher um simples caldeirão. — o homem zombou.

— Claro, claro, agora me ajude a guardar as coisas que eu trouxe.