Capítulo 11: Jarro-titã

Depois de alguns minutos esperando, Abby percebeu Cass voltando com sua irmã ao lado, a garota olhando timidamente para baixo, seu rosto com uma expressão difícil de se entender. Alice andava ao lado relaxadamente e de forma confiante.

— Cass, está tudo bem? O que era? — perguntou Abby.

Ao se aproximar da garota, Abby não pôde deixar de perceber a tensão que a rodeava.

Cass respirava pesadamente e estava com seus olhos levemente inchados, seu cabelo, antes solto, agora estava amarrado em um coque, deixando apenas sua franja livre escondendo seu rosto.

— Eu estou bem, apenas passei mal, deve ter sido algo que comi no café — Cass respondeu dando uma virada de olho e colocando a mão sobre sua barriga.

— É melhor você se sentar, não acha? — Abby toma Cass de Alice e a conduz até uma cadeira perto, se sentando ao lado em seguida.

— Não se preocupe, qualquer coisa, eu já devo ter expelido tudo que comi — Cass zombou da situação, porém com desconforto ainda visível em seus olhos.

— Se você me mandar não me preocupar com você de novo eu só irei me preocupar ainda mais com você! 

Cass não era alguém que escondia as coisas de Abby, então ela logicamente estranhou a atitude da garota. Ela já estava estranha a bastante tempo, mas nos últimos três dias era quase palpável sua tensão.

“Isso não é para mim, não sou boa em confortar os outros. – sei que sou rude, e Cass está passando por muitas dificuldades”

“Como alguém igual a mim poderia cuidar de uma flor? Tudo que eu posso fazer é tentar animá-la e depois mudar de assunto”

“Sou uma péssima amiga, isso sim!”

— Espere aqui, irei pegar um copo de água para você. — Abby se levanta e olha para sua amiga.

Ela estava receosa em deixar Cass sozinha, mas sabia que nada de tão ruim iria acontecer…

— Tudo bem, não vou sair do lugar. — Cass responde sorrindo.

“Por que todos estão estranhos hoje? O aniversário de Cass deveria ser algo feliz e radiante, não desconfortável como está sendo…”

Enquanto ia para uma mesa que continha algumas bebidas, Abby vê Sra. Fleur andando até Cass.

“Que bom, fico menos preocupada com Sra. Fleur ao lado de Cass. Pelo menos ela não está sozinha”

Abby colocou a água gelada de uma jarra em um copo de vidro florido, aproveitando e pegando para si uma xícara com chá preto.

Abby franze o nariz por um momento, sentindo um etéreo cheiro de algo podre.

“Não é à toa que Cass passou mal, com esse cheiro nojento pelo lugar… quem foi o desgraçado que trouxe ovos podre para cá?”

O cheiro logo se dissipou com uma brisa fria, Abby não se importou muito mais com isso, logo mais alguém perceberia o cheiro e tomaria as devidas providências sobre o assunto.

Abby estava indo até Cass, quando percebeu algo estranho no local.

Por algum motivo, algumas pessoas estavam agindo de maneira estranha, tanto convidados quanto empregados pareciam agitados por todo o salão – era como se estivessem sendo vigiados ou perseguidos por algo.

Foi quando Abby sentiu novamente o mesmo cheiro, porém muito mais forte, o forte cheiro repentino fez Abby querer vomitar – o cheiro de algo podre misturado com metal, não era algo estranho a Abby, mas não parecia algo que ela sentia regularmente.

Não era um cheiro pertencente a aquele lugar, ele fazia Abby se lembrar de quando ia para as montanhas com seu pai.

O cheiro nostálgico fez algo dentro dela despertar, algo como um medo que havia se esquecido, algo de sua infância.

Abby correu até Cass, com seu coração batendo disparado, ela pode sentir o ar ao seu redor se tornando sutilmente mais quente a cada momento.

Porém, ao chegar onde estava Cass, tudo pareceu voltar ao normal, menos seu coração que ainda suplicava para que ela fugisse.

— Cass, você sabe de onde está vindo esse cheiro? Daqui a pouco alguém irá vomitar com isso! 

— Cheiro? É o cheiro dos chás, não? — Cass respondeu, visivelmente confusa e um pouco nervosa.

— Não, é um cheiro forte, um pouco metálico e podre. — explicou Abby entregando o copo a Cass.

Cass tomou um gole da água antes de responder. — Cheiro podre e metálico? Algo parecido com enxofre?

“ENXOFRE, É ISSO”

Ao ouvir a palavra, Abby logo se lembra de onde reconhece este cheiro. Quando pequena, enquanto acompanhava seu pai em uma caçada nas montanhas, Abby se perdeu e foi parar em uma grande caverna com um lindo lago cristalino.

O local seria lindo, se não fosse pelo forte cheiro que permeava o local e os ossos de animais espalhados em volta do lago.

Quando seu pai a encontrou, ele a explicou que o lago estava contaminado com substâncias mortais e o cheiro que ela sentia era do enxofre.

“Sempre fuja quando sentir este cheiro, o cheiro de enxofre sempre representa a morte” foi o que ele disse.

Abby logo sentiu o cheiro permear o local novamente, ela tentou encontrar a fonte do cheiro, porém o cheiro estava tão misturado com o ambiente que parecia que ele vinha do próprio ar que eles respiravam.

— CASS, onde sua mãe foi quando saiu daqui? Eu preciso falar com ela AGORA!

— Minha mãe? Eu não a vejo desde que a festa começou.

— Como assim? Eu vi ela vindo em sua direção agora a pouco! 

— Abby, você está bem? O último lugar onde vi ela foi perto entrada, acho que depois disso ela foi para o escritório do pai. — Cass se levantou da cadeira e se aproximou da amiga.

— Se quer tanto falar com ela eu te levo até lá, que tal?

VAMOS LOGO! — Abby pega no pulso de Cass e corre pelo salão até a entrada.

Pe- Espera aí Abby, assim eu vou escorregar!

Cass e Abby correram pelo jardim em direção a casa de Cass, porém o cheiro de enxofre perecia estar as seguindo como uma grande nuvem trazendo mensagem de morte.

Quando já estavam na metade do caminho, Cass puxou a mão de Abby mudando de rota.

Por aqui!

O que?

Cass pensou que após sair do salão, ela estaria livre daquelas grandes manchas negras, porém elas as seguiram para fora. 

Ela não podia deixar seus pais serem pegos por aquilo, e Abby aparentemente estava conseguindo sentir o cheiro daquelas coisas.

Sua única opção no momento seria tentar despistar essas coisas as levando o mais longe que podia.

E para isso ela tinha uma ideia.