Cass sabia que aquele medo era irracional, aquilo não passava de um pesadelo como todos os anteriores a ele.
Talvez esse sentimento tenha surgido por seu carinho por Abby, mesmo que ela não sentisse o mesmo por Alice que era sua irmã.
Se aproximando da garota e sua mãe, Cass optou por dar apenas uma saudação calorosa.
— Bom dia Abby, bom dia Sra. Hera. Como estão? — Cass disse timidamente.
Enquanto Hera retribuía a saudação, Abby fez uma careta – demonstrando sua estranheza com a atitude anormal de Cass.
— Bom dia? Cass, aconteceu alguma coisa? — a garota perguntou preocupada.
“Ela deve estar estranhando minha atitude, droga. Eu tentei demonstrar um nível de normalidade, mas isso está muito estranho” — pensou Cass.
— Ah, eu estou bem, apenas… sabe, agora eu tô fazendo dezesseis anos, eu tenho que ficar um pouco mais madura certo? — respondeu Cass com um sorriso estático no rosto.
Abigail pareceu desconfiada, porém Cass não deu importância, ficar neurótica agora era a última coisa que Cass precisava – sua amiga não tinha nada a ver com seus pesadelos ou com seu destino e seria melhor nem a envolver.
— Bem, faz sentido. Só não fique muito estranha, ou se não vou achar que você se tornou um skinwalker haha — a garota zombou.
Hera lança um olhar de reprovação espantada para Abigail e puxa sua orelha.
— Olha o que você está falando, garota! Meu Deus, me perdoe por isso Cass — Hera puxou Abigail do local levando-a para longe.
“Talvez ser um Skinwalker fosse melhor…”
“Aliás, agora que eu sei sobre o Éter e essas coisas, será que skinwalkers também existem?”.
“Nunca parei para pensar muito nisso, mas com as relações dos adultos quando falamos sobre eles, é possível que realmente existam”.
Com esses pensamentos em mente, Cass fantasiou por alguns momentos sobre a existência de outros criptídeos que fossem possíveis existir – vampiros, lobisomens, zumbis.
Criaturas que são consideradas lendas na sociedade e com relatos de avistamento, porém sem a capacidade de serem provadas.
A primeira vez que Cass ouviu sobre eles, ela acreditou que eles simplesmente não existiam, ou talvez fossem criaturas mágicas tão inteligentes e raras que se tornava quase impossível serem vistos.
Mas agora podia ter uma terceira alternativa – Segundo o que Cass aprendeu, quanto mais um ser vivo se expõe ao Éter, é possível que a pessoa enlouqueça e perca o controle do próprio corpo.
E nesse processo, eles podem tomar formas monstruosas – então, os criptídeos não poderiam ser humanos como Cass, que perderam o controle de seu próprio corpo e se tornaram monstros falados em lendas?
Enquanto estava presa em seus pensamentos, Abigail voltou, com uma orelha vermelha e inchada dos puxões da mãe.
— Consegui fugir dela! – A garota estava ofegante e dava pequenas olhadas para trás para averiguar se sua mãe estava por perto. — Bem, acho que ela não vai me seguir agora.
Abigail prendeu seu cabelo e depois descansou seu vestido.
— E então Cass, não vai me falar o porquê dessa estranheza? E nem vem com essa história de maturidade, você é a pessoa mais imatura que já conheci!
— Eu não quero te preocupar com isso, Abby. Foi só um sonho bobo que tive. — Cass enrolava e puxava seus cabelos com os dedos desviando do olhar da garota.
— É dos mesmos pesadelos que você vem tendo? O último que você me contou foi há quê? Duas semanas? — Abby cruzou seu braço no de Cass, fazendo a garota largar seu cabelo e olhar para ela.
— Sim, é que… dessa vez eu vi você e minha irmã. Você sem as pupilas de seus olhos e Alice presa no teto com mariposas saindo de seus olhos.
Abby percebeu que Cass tremia ao contar sobre seu sonho. Ela já havia tido pesadelos obviamente, mas tantos pesadelos parecidos era muito incomum, mesmo que ela se sentisse em uma situação parecida no momento.
— Se isso te acalma, eu também tô tendo pesadelos esses dias. Porém não presenciei nada muito específico como mariposas saindo dos olhos de alguém, mas foram terríveis também!
— Como isso me acalmaria? Sobre o que era? Aconteceu algo estranho? — Cass segurou os ombros da garota com força.
— Olhe só, agora você sabe como estou me sentindo haha. — A garota retira as mãos de Cass de seus ombros.
— Sobre como ele foi, não é grande coisa, eu conto para você depois do jantar.
— Depois do jantar? Espera, você vai jantar aqui? — Cass arregalou os olhos com surpresa.
“Parece que os pais de Cass não contaram isso para ela, que coisa rude!”
— Mas é claro, seus pais não te falaram?
— Na verdade não… Mas porque hoje? Por que não amanhã?
— Do que você está falando? Porque hoje é seu aniversário, é claro!
“Na verdade, só soube que jantaríamos aqui ontem depois da peça, bem que a mãe poderia ter me avisado antes”
“Típico da mãe, arrumar compromissos tão em cima da hora”
— Acho que… você não sabe se alguém mais vai vir comer aqui conosco, sabe? — perguntou Cassandra, voltando a enrolar seu cabelo.
— Na verdade, só soube disso ontem a noite, logo depois da peça.
Abby demonstra um rosto alegre, se lembrando dos momentos ainda vividos da peça.
“É um bom momento para mudar de assunto. Este tipo de conversa sempre deixa Cass incomodada…”
— Falando no teatro, o que você achou dele? Nem pudemos conversar no final. — Abby tentou demonstrar o máximo de animação sobre esse assunto, talvez assim mudando o foco de Cass.
— Ah, eu… Achei lindo, é claro, foi triste que, no final, a única maneira das famílias se entenderem foi na morte de seus filhos, mas para mim foi incrível. — Cass por sua vez abraçou muito bem o novo assunto, mesmo que permanecesse com uma careta sutil em seu rosto.
As garotas conversaram por um momento até Cassandra sair às pressas para ir ao banheiro, ela estava com um rosto estranho há um bom tempo, então Abby já estava se preocupando.
Abigail foi procurar por Sr. Engel ou Sra. Fleur, porém achou Alice parada em um canto tomando chá.
— Bom dia, Srta. Alice — disse Abby educadamente.
— Srta. Abigail, hoje deve ser mesmo um belo dia, não? — Alice disse olhando pela grande janela ao seu lado.
“Como assim “deve ser”? Hoje é aniversário de Cass! As nuvens deveriam se dissipar para longe, e a lua iluminar a noite toda. Claro que é um bom dia, é um ÓTIMO dia!”
— Como posso te ajudar?
—Ah, é a Cass, ela estava com um rosto estranho e disse que precisava ir ao banheiro, estou preocupada que ela esteja passando mal. — Abigail disse olhando firmemente para Alice.
Alice por sua vez encarou Abigail por alguns segundos até tomar todo o seu chá e entregar sua xícara a uma de suas servas.
— Tudo bem, obrigada por me avisar. Pode ficar à vontade, e não se preocupe, garanto que Cass deve estar bem. — Alice respondeu com um sorriso em seu rosto. Mesmo sabendo das boas intenções da irmã, Abby ainda estremecia com ela.
Mesmo sorrindo, o véu que cobria seus olhos dificultando a leitura de suas verdadeiras emoções, Abby não sabia identificar se aquilo era um sorriso sincero, ou algo programado para esconder o que seu véu não pôde ocultar.