Faltava apenas uma semana para o dia da formatura, e os tios de Jiwon chegariam exatamente naquele dia. Mesmo antes, ela já sentiu o peso da tristeza ao lembrar da presença da tia, cuja companhia nunca foi realmente confortável.
Soyeon jogou a mochila no sofá da sala, soltando um suspiro cansado. Assim que entrou, viu a expressão séria dos pais. Sua mãe ajeitou a saia sobre os joelhos, enquanto seu pai, apoiado no encosto da poltrona com os braços cruzados, observando.
— Soyeon, sente-se — a mãe solícita com voz firme.
— Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou, preocupada, sentando-se lentamente.
Sua mãe trocou um olhar com o marido antes de falar:
— Você vai estudar fora, Soyeon. Vamos começar a organizar tudo esta semana.
Soyeon piscou, sem acreditar no que ouvira.
— O quê? Não! Eu não vou! — protestou rapidamente, o coração acelerado. — Eu nunca pedi isso! Eu não quero!
Seu pai suspirou, tentando intervir, mas sua mãe foi mais rápida, erguendo a voz com autoridade:
— Não é uma escolha, Soyeon. O filho do senhor Kang, o Junho, também vai. Vocês dois vão juntos.
O nome dele bateu no peito de Soyeon como um trovão. Junho. O seu primeiro amor. Aquela que ela não via há tanto tempo, desde...
— Eu não acredito nisso... — murmurou, sentindo os olhos arderem.
Sem esperar outra palavra, ela subiu correndo as escadas e trancou a porta do quarto. Jogou-se na cama, cobrindo o rosto com as mãos.
Junho...
Uma lembrança veio tão vívida que parecia ter acontecido ontem.
Era fim de tarde. Eles estavam sentados em um banco da praça perto da escola, um clima estranho no ar.
— Você ficou falando com o Taemin o tempo todo... — Junho resmungou, emburrado.
— E daí? Ele é só meu amigo! — Soyeon descontou, magoada com a desconfiança dele.
— Vi como ele te olhou — insistiu, desviando o olhar.
— Você está sendo infantil. — Ela retrucou, levantando-se.
— Então é melhor acabarmos logo — ele disse, com amargura, antes de se virar e ir embora, deixando-a ali, congelada.
Depois daquele dia, não trocaram mais uma palavra. Mesmo seus pais sendo tão próximos, eles sempre foram evitados em todas as reuniões e encontros.
Agora, deitada na cama, Soyeon abriu o travesseiro contra o peito. O seu coração tremia — não de medo da mudança, mas de algo que nunca morreu dentro dela.
Será que ele ainda... lembrava dela, como ela lembrava dele?
No dia seguinte, Soyeon ainda sentiu o peito apertado. Precisava conversar com alguém — alguém que a entendesse sem julgamentos. Pegou o celular e abriu o chat com Jiwon.
Soyeon: Você pode me encontrar hoje? Preciso conversar...
A resposta veio rápida.
Jiwon: Claro! Que horas? Onde?
Soyeon pensou por um momento e digitou:
Soyeon: Nenhum café perto da estação? Umas três horas?
Jiwon: Perfeito. Te vejo lá.
Soyeon soltou o ar devagar. Ver Jiwon era como respirar fundo depois de muito tempo sufocado. No meio da tarde, ela se arrumou sem muita animação e caminhou até o pequeno café onde tantas vezes se encontram.
Quando chegou, Jiwon já esperava em uma mesa no canto, acenando com um sorriso caloroso.
— Soyeon! — chamou, levantando-se para abraçá-la.
Soyeon correspondeu ao abraço, segurando-se para não desabar ali mesmo.
Sentaram-se, pediram café, e logo Jiwon encarou uma amiga com os olhos curiosos:
— Agora me conta... O que aconteceu?
Soyeon baixou o olhar, brincando com a borda da xícara antes de dizer:
— Meus pais decidiram que vou estudar fora.
— O quê? — Jiwon arregalou os olhos.
— Eu sei... — Soyeon murmurou, sentindo o nó na garganta crescer. — Tem mais. Vou com o Junho.
O nome parecia emparelhar no ar.
Jiwon abriu a boca, mas não disse nada por alguns segundos, tentando absorver a informação.
— O Junho...? Aquele Junho? — ela finalmente disse, numa mensagem sussurrada.
Soyeon acabou de chegar, olhando pela janela, como se pudesse fugir naquela realidade.
— Você ainda gosta dele, não é? — Jiwon falou com gentileza, segurando a mão dela sobre a mesa.
Soyeon fechou os olhos por um instante.
— Eu... não sei. Faz tanto tempo. Mas... o meu coração ainda dói, sabe? Como se tivesse parado lá atrás, no dia em que a gente terminou.
Jiwon sorri de leve.
— Talvez essa seja uma oportunidade de descobrir o que ainda existe entre vocês.
Soyeon soltou uma risadinha sem humor.
— Ou de terminar de quebrar o que sobrou.
— Ou de recomeçar — Jiwon corrigiu, apertando a mão dela.
Soyeon a olhou, sentindo uma ponta de esperança se acender.
— Obrigada, Jiwon... Eu espero ouvir isso.
— Mas eu vou ter que suportar ficar sem minha amiga?
As duas se abraçaram forte, lágrimas deslizando por seus rostos. Entre as soluções, prometemos uma à outra:
— Não importa onde eu esteja — disse Soyeon, com a voz embargada —, eu sempre vou voltar se você precisar de mim.
— E eu também — respondeu Jiwon, apertando ainda mais o abraço. — A gente vai se encontrar de novo. Sempre que uma de nós precisa ser salva, a outra vai estar lá.
Com um último aperto, selaram aquela promessa silenciosa, gravada não apenas em palavras, mas, no fundo dos seus corações.
O abraço demorou a se desfazer. Nenhuma das duas queria ser a primeira a soltar a outra, como se o gesto pudesse adiar a separação iminente.
Soyeon demorou-se apenas o suficiente para olhar Jiwon nos olhos, enxugando as lágrimas com as costas da mão.
— Promete que vai me contar tudo? O que vai me escrever? — pediu, uma súplica transparecendo em cada palavra.
— Prometo — respondeu Jiwon. — Cartas, vídeos, mensagens... Vou te encher tanto que você vai querer me bloquear.
As duas riram, mesmo que fosse uma risada triste, abafada pela saudade que já começava a crescer entre elas.
— Você é uma das razões pelas quais eu ainda acredito em dias melhores, Soyeon.
A amiga apertou a sua mão com força.
— E você é a razão pela qual eu sei que posso ser forte, mesmo quando tudo parece desmoronar.
No dia seguinte, seria a festa de formatura. Seo Kyungwoo, tio de Jiwon, entrou em seu quarto segurando uma caixa bonita.
— Para você, Jiwon — disse ele, sorrindo, enquanto lhe entregava o presente.
Ela abriu e encontrou um lindo vestido. Os seus olhos brilharam.
— Obrigada, tio! — respondeu, emocionada, abraçando-o.
Mas a alegria durou um pouco. Ao ver a cena, a tia lançou um olhar sombrio. Em seguida, caminhou até Jiwon e disse com frieza:
— Me entregue esse vestido. Você não vai à festa com ele.
Jiwon congelou por um instante. Depois, pela primeira vez, teve coragem de enfrentar a mulher.
— Por quê? — questionou, com a voz firme, porém trêmula. — Por que me trata assim? O que fiz? Quando cheguei aqui, me tratava como filha... Foram dois anos. O que mudou? Por que agora parece que me odeia?
A tia, tomada pela raiva, avançou e, sem pensar, rasgou o vestido que ela segurava na mão.
— Sua desaforada! — constatou.
Seo Kyungwoo, furioso, agarrou o braço da esposa antes que ela fizesse mais alguma coisa.
— Já chega! — disse firme. — Vamos conversar agora!
Ele levou-a para fora do quarto, fechando a porta para que Jiwon não ouvisse. No corredor, eles encontraram um discutidor.
— O que está acontecendo com você? — ele disse, irritado. — Por que você mudou tanto com o Jiwon? Você amava aquela menina quando ela chegou!
— Porque eu não acreditei nessa história de “primo distante” — desabafou. — Ninguém na sua família conhece esse tal primo! Como pode? Você aparece do nada com uma garota dizendo ser da sua família e espera que eu aceite sem questionar?
Kyungwoo passou a mão pelo rosto, nervoso.
— Está bem... — sentou-se na cama, com ar de tristeza. — Você merece saber a verdade sobre Jiwon. Vou te contar tudo.
Kang Mira respirou fundo, tentando conter as lágrimas de frustração.
Mira não respondeu. Apenas ficou ali, de pé, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair. Os seus olhos vagaram pelo chão, como se buscassem um ponto de equilíbrio entre a mulher que ela foi e a que se tornara.
No fundo, ela sabia quando tudo começava a desmoronar dentro dela. Durante dois anos, ela amou Jiwon como a filha que nunca teve. A menina era doce, frágil, com os olhos cheios de gratidão — e aquilo bastava. Até que um colega de trabalho, numa conversa inocente demais para ser ignorada, plantou uma dúvida.
— Você nunca achou estranho? — disse a mulher, com um sorriso disfarçado de preocupação. — Criar uma criança de um pai que ninguém conhece... Isso não é perigoso?
Na época, Mira riu. Disse confiar no marido. Que a história era triste, mas plausível.
Mas a semente havia sido plantada.
E, com o tempo, ela começou a reparar em detalhes: o silêncio de Kyungwoo quando questionaram a família do tal primo, os documentos que justificavam incompletos, a ausência de fotos, de histórias, de memórias reais. Ela tentou afastar esses pensamentos — porque também assustou a ideia de que Jiwon pudesse ser vítima de algo maior... e ela estivesse a alimentar uma mentira por amor.
Então, lentamente, o carinho deu lugar à dúvida.
Uma dúvida para a frieza.
E a frieza, o medo.
Agora, diante do marido, ela não sabia se queria mesmo ouvir o que ele estava prestes a dizer — Mas principalmente da verdade, por mais cruel que fosse.