O Que Me Fizeram Esquecer

O carro ainda seguia em alta velocidade, e o homem misterioso ao lado de Jiwon parecia inquieto.

 — Você está bem? — Disse, inclinando-se na direção de Han Jiwon.

Assustada e aflita, ela ainda tentava entender o que estava apostando. Em prantos, explicou o homem ao seu lado — ele usava uma máscara e um boné preto, mas seus olhos pareciam estranhamente familiares. Foi então que ela viu: ele estava sangrando.

Ela suspirou, enxugou as lágrimas rapidamente e se moveu, tentando ver melhor o ferimento.

 — Você está sangrando! — exclamou, preocupado.

 — Não é nada — respondeu ele, afastando-se um pouco.

 — Pode me explicar quem é você e o que está contando... — Antes que ela terminasse a frase, ele retirou a máscara.

Jiwon ficou boquiaberta.

 — Você? Por que... — As palavras simplesmente não saíam.

À sua frente estava Park Seojun, o antigo professor substituto de sua escola, que ela não via há mais de quatro anos. Ele a encarou em silêncio por alguns segundos. Era agora ou nunca. O reencontro que ele imaginou por anos estava ali, mas completamente diferente do que sonhara.

— Estamos quase chegando. Vou te explicar tudo em breve — disse ele, com a voz calma, embora ainda tenso.

O carro então saiu pela estrada principal e entrou por um portão largo, seguindo por um caminho de terra cercado por árvores altas e bem cuidadas. Lentamente, o cenário urbano ficou para trás, dando lugar a um campo aberto, quase como uma fazenda.

Jiwon, ainda com o coração acelerado, olhou pela janela, encantada. O lugar era lindo. Campos verdes se estendiam até onde a vista alcançava, flores silvestres balançavam suavemente com o vento, e, ao fundo, ela viu uma construção imponente surgir.

Uma mansão.

Ela arregalou os olhos. A estrutura era moderna, mas cercada pela natureza, como saída de um filme. Seu olhar voltou para Park Seojun, confuso.

 Será que isso tudo é dele? — pensei.

Ao descer do carro, ainda com o coração apertado e os olhos marcados pela tristeza, Jiwon mal conseguiu processar tudo o que estava acontecendo. Os funcionários se curvaram respeitosamente à medida que passavam pela entrada da mansão.

Logo, uma mulher — que Jiwon já havia visto ao lado de Park Seojun — surgiu apressada na direção deles. Um leve incômodo, talvez ciúmes, atravessou o peito de Jiwon, que se sente desconcertada ao vê-la se aproximar com uma expressão aflita.

 — Meu Deus! Você está bem? Seojun, você está sangrando! — exclamou a mulher, envolvendo-o com o braço, oferecendo apoio com o motorista. Ambos o ajudaram a subir, levando-o até um dos quartos e chamando o médico da família.

A mulher então voltou para Jiwon, segurou suas mãos com delicadeza e perguntou:

 — Você está bem? Pode vir comigo?

Sem saber o que responder, Jiwon apenas assentiu, lançando um último olhar para Seojun, que, mesmo com o semblante tenso, inclinou a cabeça num gesto de aprovação, como se dissesse: Pode confiar.

A mulher a converteu até a cozinha, onde lhe serviu um copo d'água.

 — Aqui, tome um pouco — disse com gentileza.

 — Obrigada — respondeu Jiwon, ainda confuso, antes de arriscar uma pergunta: — Pode me dizer o que está esperando? Quem... quem é você em relação ao senhor Park Seojun?

A mulher nasceu com leveza e balançou a cabeça, como se já esperasse aquela pergunta.

 — Sou Park Haejin, irmã dele — disse com um sorriso tranquilo nos olhos.

Jiwon sentiu o rosto esquentar de vergonha por imaginar outra coisa. Ao mesmo tempo, um incidente silencioso percorreu seu peito — mesmo que ela ainda não compreendesse totalmente seus sentimentos.

 — Vou te mostrar seu quarto. Tome um banho e descanse esta noite. Amanhã vocês poderão conversar com calma.

Enquanto subiam a escada, cruzaram com o médico da família, que acabou de sair do quarto de Seojun.

 — Ele está bem — disse o médico com tom tranquilizador. — Foi apenas um ferimento superficial. Mas seria bom deixá-lo descansar por hoje.

Park Haejin se virou novamente para Jiwon:

 — Esse é o Dr. Kim Taehyun. Ele é o médico da nossa família há muitos anos.

 — E o motorista? — disse Jiwon, referindo-se àquele que ajudou a salvá-la.

 — Ah, ó Sr. Han Byung soo. Está conosco desde que éramos pequenos.

Ao chegar ao quarto, Park Haejin abriu a porta e brilhou gentilmente:

 — Descanse, Jiwon. Amanhã conversaremos melhor.

A porta se fechou suavemente atrás de Park Haejin, deixando Jiwon sozinha. A luz suave do abajur iluminava o ambiente acolhedor, mas, dentro dela, o frio da incerteza e do medo ainda pulsava. Ela sentou-se à beira da cama, mãos trêmulas.

 O que está acontecendo? Por que tudo isso está acontecendo comigo? — pensei, com o coração apertado.

Seus pensamentos voaram imediatamente para os tios. Onde estariam agora? Estariam bem? Ela nem teve tempo de ver se estavam vivos antes de ser arrastada para aquela casa. Sentia-se culpado por ir embora sem lutar por eles, sem saber ao certo se estavam seguros ou em perigo.

Deitada na cama macia, Jiwon virou-se de lado, abraçando o travesseiro com força. O silêncio do quarto contrastava com o turbilhão dentro dela. Sua mente insistia em voltar ao que deixara para trás — não apenas os tios, mas também... Minjae.

 Onde está Minjae? — pensei, o coração apertando no peito.

Ela se lembrou de que naquela manhã ele parecia estranho. Mas jamais imaginei que aquele seria o último momento em que o veria. Durante toda a confusão, durante o momento em que foi levado para o carro, não o viu em lugar algum. Ele estava em casa? Teria fugido? Teria sido ferido?

 E se ele... — Ela engoliu seco, recusando-se a terminar o pensamento.

— Eu só queria que tudo voltasse a ser como antes... — sussurrou no travesseiro, os olhos marejando.

Mas não havia mais volta. O passado parecia tão distante agora. E a presença de Park Seojun — tão repentinamente, tão misteriosa — trazia mais perguntas do que respostas.

 Quem é Park Seojun, afinal? Por que apareceu naquele momento? Como você sabia que eu corria o perigo? Por que arriscaria a própria vida por mim?

A imagem dele tirando a máscara ainda estava viva em sua mente. O antigo professor substituto, agora tão diferente — mais sombrio, mais determinado. Aqueles olhos... havia dor ali. Dor e algo mais que ela ainda não sabia identificar.

Jiwon fechou os olhos, mas o sono não veio facilmente. Apenas o silêncio da noite e as perguntas sem resposta a acompanhavam. Uma coisa, porém, ela sabia: sua vida parecia cheia de segredos, e Park Seojun era a chave para todos eles.

Jiwon estava quase adormecendo, os pensamentos pesando, o corpo finalmente se rendendo ao cansaço, quando, de repente…

 — Princesinha... lembra de mim?

A voz era tão clara, cortante, como se estivesse ao pé do seu ouvido.

Ela abriu os olhos num salto, o coração disparado no peito. Sentou-se na cama com um pulo, ofegante. As mãos tremiam enquanto apertava o lençol, olhando ao redor, tentando entender o que acabara de acontecer. Era um sonho? Uma lembrança? Ou... uma ameaça?

Aquela voz...

Seu estômago se revirou. Era a mesma voz do homem mascarado. O homem que apareceu, ameaçou e destruiu tudo ao seu redor. Será que ele sabia quem ela era?

 Como ele me chamou... princesinha? — sussurrou para si mesma, o pavor crescendo.

Seu coração batia tão forte que parecia que ia pular do peito. Mil pensamentos giravam em sua mente.

 E se... eu não sei quem realmente sou? Se minha vida foi construída sobre uma mentira?

Se os pesadelos de infância não foram sobre o acidente dos meus pais?

Uma lembrança borrada passou diante de seus olhos — fogo... gritos... mãos a arrancando de um lugar escuro... e olhos. Olhos tão frios quanto a morte.

 E se meus pais não morreram em um acidente? Alguém tirou de mim?

Ela levou as mãos à cabeça, tentando conter o caos que se formava dentro dela. Tudo estava tão confuso. Seu coração implorava por respostas, mas uma parte dela temia o que descobriria.

A única certeza era que nada mais fazia sentido.

E, pela primeira vez, Jiwon sentiu que estava muito mais envolvido nessa história do que jamais imaginei.

O sol da manhã atravessava a cortina clara, mas sua luz parecia distante diante do caos que tomava conta do peito de Jiwon. Ela havia passado a noite se revirando na cama, mergulhada em pensamentos, assombrada pela voz que ecoou em sua mente e pelas perguntas que não tinham fim.

Ela chorou em silêncio, escondida no travesseiro, tomada por medo, dúvida... e preocupação.

Minjae. Seu coração apertava ao lembrar dele.

 Onde ele está? Ele estava em casa... por que não apareceu? Será que está bem?

O pensamento de que ele pudesse ter se machucado doía. Apesar de não poder responder aos sentimentos que ele nutria por ela, Jiwon o amava como um irmão. Sempre estivemos juntos.

Levante-se devagar, os pés descalços tocando o chão frio do quarto delicado. Caminhou até a janela e abriu a cortina. A paisagem do lado de fora era linda, tranquila, quase como uma pintura... Mas, dentro dela, tudo estava em guerra.

Precisava de respostas.

Ela se arrumou às pressas, lavou o rosto tentando apagar as marcas da noite péssima, mas o cansaço ainda estava ali — olhos fundos, ombros pesados.

Ao sair do quarto, encontrou o Sr. Han Byung Soo no corredor, como se já a esperasse.

 — Bom dia, senhorita Han Jiwon — disse ele, com sua voz serena e educada.

 — O senhor Park Seojun pediu que a levasse até ele assim que acordasse.

O coração dela acelerou. Era hora de entender.

O mordomo esboçou um leve sorriso e fez um gesto com a mão, inferior para que o seguisse.

Enquanto caminhava pelos corredores amplos da mansão, Jiwon se preparava. Ela não sabia se estava pronta para o que ouviria... mas estava decidida a descobrir quem realmente era — e por que parecia ser a chave de algo muito maior do que imaginava.

O Sr. Han Byung Soo parou diante de uma grande porta dupla de madeira escura e bateu levemente.

 — Senhor Park, a senhorita Han Jiwon está aqui.

Uma voz do outro lado respondeu:

— Pode deixá-la entrar, Byungsoo. Obrigado.

O mordomo abriu a porta e fez um leve gesto com a cabeça, permitindo que Jiwon entrasse. Ela respirou fundo e deu os primeiros passos para dentro.

O quarto era amplo, com uma grande janela por onde a luz do sol invadia o ambiente. Park Seojun estava sentado em uma poltrona, vestindo uma camisa de linho clara. O braço esquerdo estava enfaixado, e o olhar, perdido na paisagem lá fora.

Ao notar sua presença, ele se virou, e seus olhos se suavizaram ao vê-la.

— Dormiu bem? — disse, com um sorriso gentil, mas visivelmente cansado.

Jiwon não respondeu imediatamente. Caminhou até diante dele e abraçou os braços tentando manter a firmeza, mesmo com o coração acelerado.

— Não. Não dormi bem. Tive uma noite horrível, Seojun. — Seu tom era firme, mas não hostil. — Preciso que eu diga a verdade. Tudo. Por que eu salvei? Como eu sabia que eu estava em perigo? Quem é aquele homem que atacou minha família? E... o que você sabe sobre mim que eu não sei?

Park Seojun respirou fundo, como se pesasse cada palavra que ainda estava por dizer. Seus olhos, até então suaves, agora carregavam uma sombra de dor e urgência.

— Você não se lembra mesmo? — disse, a voz baixa, quase um sussurro.

Jiwon franziu a testa, confuso, e assentiu lentamente.

— Do que eu deveria me lembrar? — indagou, sentindo o coração apertar no peito. — E por que... por que eu não consigo me lembrar?

Seojun a fitou em silêncio por alguns segundos. Depois, desviou o olhar para o chão, apertando levemente os dedos sobre o apoio da poltrona. Por fim, suspirou e apareceu para a cadeira à sua frente.

— Sente-se, Jiwon. Está na hora de você saber quem realmente é... e o que está acontecendo agora.

O silêncio se instalou entre os dois. Um silêncio tão denso que parecia gritar.

Jiwon sentiu um arrepio percorrendo-lhe a espinha. As batidas do coração ecoavam nos ouvidos.

“Estaria preparada para ouvir o que viria a ser dito?”, perguntou-se, sem saber se queria mesmo descobrir.