Minjae sentiu o estômago revirar. Por um segundo, tudo congelou. Então, ele empurrou a porta, entrando de uma vez.
Os pais se viraram, surpresos e pálidos.
— Minjae! — a mãe se declarou, aflita.
Mas ele falou com as mãos, tentando acalmá-los.
— Tudo bem… eu já sabia.
Kyungwoo ficou sem palavras. Sua esposa levou a mão à boca.
— Eu ouvi vocês naquele dia… quando você contou tudo para ela — completou ele, olhando diretamente para o pai. — Só nunca falei nada porque… eu preciso digerir. E proteja Jiwon.
O silêncio dentro do quarto era pesado, denso como fumaça. Por fim, o pai passou a mão no rosto, exausto.
Minjae fechou os olhos por um momento. Respirou fundo. Quando os abriram, tomou uma decisão.
— Nós precisamos desaparecer.
A mãe o encarou, assustada.
— Como assim? — Mudar de lugar. Sumir do mapa. Agora. Antes que eles cheguem até ela e o barulho. Kyungwoo foi escolhido, como se aquela ideia já fosse amadurecida dentro dele. — Eu vou cuidar dos detalhes. Amanhã cedo, preparamos tudo. Minjae olhou para o corredor, como se pudesse enxergar Jiwon do outro lado das paredes. — Ela não vai entender… mas é a única forma de mantê-la segura. E ali, naquele pequeno quarto, uma decisão foi selada. Uma nova fuga estava prestes a acontecer. Mas, desta vez, os perigos não ocorreram apenas no passado. Estavam à espera. E mais próximo do que jamais imaginaram. Minjae fechou os olhos por um momento. Então, ao abri-los, havia firmeza. Naquela mesma noite, quando desceram para a sala, Jiwon já havia subido para o quarto. Disseram poucas palavras e se recolheram rápido demais, como se sentisse que algo no ar havia mudado. Minjae, inquieto, pegou o celular e a carteira. — Preciso sair um pouco — anunciando, pegando as chaves e o aparelho. — Agora? Está tarde, filho — disse a mãe, franzindo o cenho. — Vai ser rápido. Eu prometo . Ele saiu antes que tivesse tempo de insistir. A porta se fechou com um clique seco. O silêncio ficou espesso na sala, como se algo invisível pairasse sobre eles. Alguns minutos se passaram. Kyungwoo, ainda nervoso, passou a mão nos cabelos e suspirou. — Vou falar com a Jiwon — disse, já se virando para subir. Mas antes que desse o primeiro passo nas escadas, ouvimos batidas na porta. Rápido. Secas. Impacientes. Ele franziu a testa e abriu a boca para dizer: “Não atenda” — mas foi tarde demais.
A funcionária, solícita como sempre, já caminhava em direção à porta. Estava destrancando quando ele falou:
— Espera, não abra!
Mas o aviso foi perdido em meio ao estalo da fechadura e ao som da porta se abrindo.
O primeiro tiro ecoou como um trovão.
O segundo veio quase junto, estilhaçando o vidro da entrada.
A funcionária caiu com um grito sufocado.
Kyungwoo virou-se ao ouvir o disparo.
— NÃO! — Chegou, correndo até a esposa, que tombava lentamente no chão, como se o tempo tivesse desacelerado.
Ela caiu de lado, os olhos arregalados, o sangue se espalhando sob seu corpo como tinta sobre madeira clara. Kyungwoo se ajoelhou ao lado dela, puxando-a para os braços com desespero.
— Me responda... por favor... fique comigo… me perdoe — ele implorou, sacudiu-a levemente, os olhos marejados.
Mas ela já não respirava.
O mundo dele parecia desabar.
Foi nesse momento de dor que o segundo tiro veio — certo no abdômen. Kyungwoo caiu de lado, ainda abraçado ao corpo da esposa, soltando um grito abafado de dor e revolta.
Sangue escorria por entre os dedos. Ele lutava para manter os olhos abertos, o corpo tremendo. Então… passos nas escadas. Ele declarou a cabeça.
— Jiwon… — murmurou fraco.
E ao ouvir o som inconfundível de pés leves descendo, encontrei forças que não sabia que ainda tinha:
—NÃO VENHA , JIWON! SE TRANQUE NO QUARTO!
O grito cortou o ar como uma lâmina. Assustado, Jiwon parou no meio caminho da escada, os olhos arregalados ao ver o tio Kyungwoo na sala ensanguentado, sem conseguir ver muito.
— Tio? — ela disse, o pânico subindo como um nó na garganta.
Os olhos de Kyungwoo se arregalaram ainda mais ao vê-la parada ali.
— Jiwon, AGORA! — rugiu ele, com a última força que tinha.
A garota ofegante sobe correndo escada acima com o coração disparado. Cada passo era uma explosão no peito. Lágrimas já escorriam pelo rosto.
Atrás dela, ouvi o som do Chefe rindo, e a voz gelada dele ecoando.
O Chefe olhou para as escadas com um sorriso triunfante nos lábios. Olhou para Kyungwoo ensanguentado e murmurou, zombeteiro:
— Tio? A princesinha está lá em cima? — e chutou o homem no chão como se fosse um saco vazio. — Achou que poderia escondê-la para sempre?
Kyungwoo tentou agarrar sua perna, mas recebeu outra rampa nas costelas. O inimigo agora subia com calma, como quem saboreia a vitória.
Jiwon entra no quarto e tranca a porta com as mãos trêmulas, empurrando tudo o que conseguiu contra ela — uma cadeira, uma mesinha, até uma mala caída no canto. Ouvia passos pesados na escada. A respiração vinha em soluções.
“Por favor, Deus… por favor… ”
Ela recuou até o canto do quarto, encolhida, o corpo tremendo. Lá fora, os passos se aproximavam, e a voz do homem era de novo, arrastada e cruel:
— Princesinha... não se lembra de mim?
Uma janela explodiu em estilhaços, e Jiwon se jogou no chão, cobrindo a cabeça. O coração martelava tão alto que ela mal ouviu a voz abafada chamar seu nome.
—Jiwon ! Fica abaixada!
Ela levanta os olhos. Um homem havia pulado para o interior do quarto. Boné escuro, máscara cobrindo o rosto, roupas pretas. Ele atirou contra o invasor que se aproximava pela porta, fazendo-o recuar. O inimigo confessou algo e começou a atirar de volta. O homem misterioso se jogou sobre Jiwon, protegendo-a com o corpo, e rolando juntos até um canto do quarto.
Os tiros cessaram por um instante. O inimigo recarregava.
— Confie em mim! — O homem misterioso disse.
Antes que ela pudesse responder, ele saltou e partiu para cima do agressor. Um tiro disparado de raspão atingiu o ombro do homem misterioso, mas ele continuou, a arma do Chefe falhou. Os dois lutaram corpo a corpo. O som seco de socos preenchia o ambiente, até que o homem misterioso conseguiu desarmar o inimigo, lançando a arma longa.
Com um golpe certeiro no maxilar, o inimigo caiu desacordado.
O homem voltou até Jiwon, puxando-a com urgência pela mão.
— Temos que sair agora!
Eles desceram correndo pelas escadas, mas assim que abriram a porta da frente, depararam-se com duas capangas armadas.
— Atrás deles! — converse um deles.
Tiros dispararam em sequência. O homem misterioso empurrou Jiwon para trás de um pilar, depois correu com ela em zigue-zague até o portão principal.
— Vai, Jiwon! Não para! — cobrindo-a com o corpo e disparando com a arma que havia pegado.
Eles atravessam o jardim. Um carro preto, sem placas, já os aguardava.
A porta se abriu.
— ENTREM! — especificamente o motorista.
Eles saltaram para dentro, e o carro arrancou, cantando pneus pela rua escura.
Do lado de fora da casa, os capangas voltaram apressados para dentro.
— Chefe! Eles escaparam!
O homem, ainda sangrando, levanta com ajuda de um deles. Mas assim que ficou de pé, empurrou o capanga com força.
— Idiotas! Eu disse para me ajudar, não para me carregar como um inválido!
Respirando com dificuldade, limpou o sangue dos lábios e olhou para a noite escura.
— Ela fugiu… mas não por muito tempo. VÃO ATRÁS DELES!
O Chefe caminhava de volta pela sala, ofegante. A raiva fervia em seu sangue como lava viva. A ponta da bota ainda suja de sangue deixava pegadas marcadas no chão de madeira. Os olhos variam o ambiente com desdém, mas havia algo em sua postura — um falso colapso.
Ele se mudou do corpo estendido de Kyungwoo, ainda abraçado à esposa, com o rosto colado ao dela. O sangue encanta a camisa do homem. Seus olhos estavam entreabertos, o corpo imóvel, frágil como um boneco quebrado.
Com o bico da bota, cutucou o ombro de Kyungwoo. Nenhuma ocorrência.
— Morto — disse com desdém, erguendo-se. — Foi tão fácil…
Virou-se para os capangas que acabaram de entrar, ainda ofegantes da perseguição fracassada.
— Hum, pelo menos. Agora só falta trazer a princesinha de volta — cuspiu as palavras, cuspindo no chão em seguida.
Ele lançou um último olhar para o casal no chão. Por um segundo, seus olhos se fixaram no rosto de Kyungwoo. Uma gota de sangue escorria do queixo do homem morto.
— Temos uma garota para caçar.
A porta se fechou atrás dele com um estrondo.
E por um instante, o silêncio dominado.
Então… um músculo no maxilar de Kyungwoo se contraiu. Seus dedos, ainda entrelaçados à esposa, se moveram levemente. Os olhos, quase fechados, se ergueram por uma fresta.
Ele ainda respirava.
Fraco. Mas vivo.
Enquanto isso, dentro do carro em disparada, Jiwon tremia.
— Meus tios… Minjae… — murmurava, em prantos. — Eles estavam lá… e se… e se…?
O homem ao seu lado esconde o silêncio, os olhos fixos na estrada, mas ela nota a tensão no maxilar dele.
— Quem é você? Por que eu salvei? — Disse, entre soluções.
Ele apenas respondeu:
— Agora, o mais importante é mantê-la viva.
Minutos depois…
Minjae chegou em casa. O portão entreaberto, a porta da frente escancarada.
Algo estava errado.
—Jiwon ? Pai? Mãe? — chamou.
Avançou com passos cautelosos. E então vi.
Sua mãe estava estirada no chão da sala. O sangue ao redor dela já se espalhava como uma moldura trágica.
— Não… não, mãe… — sussurrou, ajoelhando-se com as mãos tremendas. — Por favor…
Ao lado, seu pai agonizava, o rosto pálido, os olhos semiabertos.
Minjae se lançou sobre ele.
— Pai! Pai, sou eu! Aguenta firme!
Kyungwoo levanta sua mão fraca, tocando o rosto do filho.
— Eu… me perdoe… — murmurou. — Protege a… Jiwon…
— Onde ela está? — Disse Minjae, desesperado.
Mas o pai só sussurrava, com a voz se apagando:
— Jiwon… Jiwon…
E então, silenciou.
Minjae falou
Um grito rouco, desesperado, cheio de dor.
Ele correu escada acima, aos tropeços, empurrando a porta do quarto de Jiwon.
O local estava devastado. Estilhaços por todo lado. Marcas de tiro nas paredes. O cheiro de pólvora continua no ar.
—Jiwon? — disse, com a voz falhando. —Jiwon!
Mas não havia ninguém.
Ele caiu de joelhos no meio do quarto devastado, cercado por marcas de tiros, cacos de vidro e vestígios de violência que fizeram por ali. A respiração vinha arfadas descontroladas, o peito subia e descia como se fosse destruído. As mãos cerradas, tão tensas que os nós dos dedos ficaram brancos.
— Eles levaram ela... — murmurou, a voz rouca, fervendo de ódio. — Eles tocaram nela...
Um grito gutural irrompeu de sua garganta enquanto ele se levantava com violência, chutando a cômoda contra a parede. Os livros voaram, mesas quebradas. Ele arrancou as cortinas com brutalidade, derrubou a escrivaninha, socou o espelho até o estilhaçar.
— O QUE FIZERAM COM ELA? — rugiu, os olhos marejados de desespero e fúria. — ONDE ELA ESTÁ?
Correu até o armário, abriu as portas como se esperasse encontrá-la escondida, desesperada por socorro. Mas tudo o que havia era o eco do vazio.
Ele cambaleou até o centro do quarto e caiu de novo, apoiando-se aos punhos. Seus ombros tremiam. O sangue de seus pais ainda manchava suas mãos. Mas não era isso que o consumia.
O Minjae calmo, protetor, prestativo… morreu ali. No lugar, restou algo quebrado.
E agora, ele estava disposto a tudo.
Para ter Jiwon de volta.
Minjae ajoelhado no chão do quarto devastado, ofegante, os olhos fixos em nada. Mas por dentro, algo se acende. Não era só dor. Era sede. Sede de sangue. De justiça.
Ele se levanta devagar, os olhos frios como nunca estiveram antes.
— Eles mexeram com a pessoa errada.
E agora… alguém vai pagar por isso.