Na manhã seguinte, tudo parecia calmo. Jiwon acordou com o coração em paz. Após se arrumar, desceu para o café da manhã, pronta para mais um dia na universidade.
Minjae e Seojun surgiram quase simultaneamente enquanto tomavam café, ambos devidamente arrumados e competitivos — discutindo sobre quem levaria Jiwon para a universidade.
— Eu cheguei primeiro! — reclamou Minjae, cerrando os punhos ao lado do corpo.
— Mas fui eu quem combinou ontem — rebateu Seojun, já impaciente.
Jiwon apenas suspirou e olhou de lado, na direção de Haejin, sentada à mesa. Terminava seu café com um sorriso tranquilo no rosto. Em um sussurro, falou:
— Eu te levo.
Jiwon revirou os olhos, passando geleia no pão, e respondeu baixinho:
— Obrigada.
Enquanto ambos ainda discutiam como adolescentes competitivos, as meninas se levantavam discretamente. Ao passarem por eles, Haejin apenas deu de ombros e anunciou:
— Estamos indo.
— Espera aí! —Gritou Seojun.
— Vocês vão sem avisar? — reclamou Minjae.
Mas era tarde. Elas já estavam no carro.
Dentro do carro, Haejin ria.
— Isso está ficando cada vez mais divertido. Mal posso esperar para ver quem você prefere.
— Quê? — Jiwon franziu o cenho. — Eu não prefiro ninguém. Um é meu amigo, o outro é praticamente meu irmão.
Haejin lançou um olhar de lado, observando o semblante tranquilo de Jiwon enquanto dirigia.
— Você parece feliz... — comentou, com um leve sorriso. — Ainda não tinha te visto assim.
Jiwon desconcertada, olhando pela janela. — Acho que estou. Minjae está bem... e Seojun tem sido muito legal comigo.
Haejin hesitou por um segundo, escolhendo bem as palavras antes de perguntar, tentando não parecer intrusa.
— Jiwon... o que você sente pelo Seojun? Você sabe que ele está apaixonado por você, né?
Ao ouvir isso, Jiwon sentiu o estômago gelar. Ficou em silêncio por um instante, tentando encontrar uma resposta. Com Haejin, ela se sentia segura, mas ainda assim era difícil explicar o que nem ela mesma entendia completamente.
— Eu... não sei o que sinto — murmurou, corando. — Mas... me faz bem estar perto dele.
Haejin riu e deu um leve empurrãozinho no ombro da amiga.
— Minjae também gosta de você. Uau, você é muito cobiçada!
Jiwon riu, tímida, e balança a cabeça, sem saber como lidar com tudo aquilo.
— Minjae, só vejo como um irmão para mim. E você? — retrucou, virando-se para Haejin com um olhar curioso. — Qual a sua relação com o detetive Yohan? Eu vi como você ficou toda desconcertada quando ele apareceu. Você gosta dele?
Haejin não hesitou.
– Sim. Demais — respondeu com firmeza, os olhos brevemente brilhando antes de voltar sua atenção à estrada.
— Alguns bons momentos juntos, mas... — Haejin falou baixo, como se tocar no assunto ainda trouxesse certa dor. — Não deu mais certo.
A atmosfera dentro do carro ficou silenciosa por um instante. Jiwon sentiu o peso por trás daquelas palavras e optou por não iniciar. Às vezes, só ouvir já era suficiente.
Quando o carro virou a última esquina, o prédio da universidade surgiu diante deles. Alunos caminharam pelos corredores do campus, alguns rindo, outros apressados. Uma rotina de sempre.
— Chegamos — disse Haejin, estacionando o carro com um leve suspiro.
Jiwon olhou para uma amiga antes de sair.
— Obrigada... por confiar em mim.
Haejin transmitiu com leveza, mesmo que os olhos ainda carregassem um brilho contido de reflexão.
Jiwon desceu do carro e silêncio em direção à entrada, em silêncio confortável.
Já na mansão, estavam Seojun e Minjae. Este fechou a porta com mais força do que pretendia ao ver o carro sumir na esquina.
— Ótimo — murmurou, cruzando os braços sobre o peito numa postura tensa. — Ela foi com Haejin.
Seojun riu, mas sem humor.
— Parece que alguém perdeu tempo demais discutindo.
— E você não? — rebateu Minjae, lançando a ele um olhar cortante. — Não precisa fingir que está ganhando pontos com ela. Eu conheço o Jiwon melhor que ninguém.
Seojun arqueou uma sobrancelha.
— Conhece? Será mesmo? Porque, pelo que eu vejo, ela parece mais à vontade comigo ultimamente. Talvez você tenha se distanciado demais.
A frase atinge Minjae como uma lâmina. Ele desviou o olhar por um instante, mas logo se recuperou do tom frio.
— Você acha que estar por perto é o bastante? Ela não precisa de alguém só para rir. Ela precisa de alguém que entenda o que ela passou.
— E você se acha esse alguém? — Seojun deu um passo mais próximo, o tom agora mais firme. — Fala como se tivesse o direito de decidir o que é melhor para ela.
Minjae não respondeu imediatamente. O silêncio entre os dois foi tenso, quase palpável.
— Eu só estou tentando protegê-la — disse por fim, a voz mais baixa, quase amarga.
— Às vezes, proteger alguém demais é o que mais a machuca — retrucou Seojun. Virando-se de costas e entrando na mansão.
Minjae tirou o celular do bolso com um movimento rápido e ligou para Kang.
— Você pode vir. Estou pronto.
Do outro lado da linha, uma resposta curta e direta. Minjae encerrou a chamada, ajeitou o casaco. Aguardando na calçada da mansão.
Poucos minutos depois, um som dos pneus de um carro cortou o silêncio da manhã. Era Kang, abriu a porta traseira imediatamente, que inclinou a cabeça em sinal de respeito.
Seojun, ainda em casa, observava tudo pela janela do andar de cima. A cortina aberta só o bastante para manter os olhos atentos aos detalhes, mantendo-se oculto.
Ele franziu o cenho.
— Desde quando ele anda com motorista? — murmurou, intrigado.
Assistiu enquanto Minjae entrava no carro sem dizer uma palavra. O homem de terno fechou a porta com cuidado, deu a volta e assumiu o volante.
A maneira como Minjae foi tratado... a formalidade, o silêncio quase ensaiado... havia algo errado ali.
— Você não é o que apresenta ser. Não é, Minjae. — disse Seojun para si, os olhos ainda fixos no carro que parte.
Minjae olhou fixamente para o relógio em seu pulso, uma ansiedade visível em seus olhos. Ele girou o pulso progressivamente, conferindo a hora mais uma vez, antes de virar-se para o motorista.
— A casa ainda não está pronta, né? — Disse com firmeza. — Eu preciso de mais homens para terminar o serviço. Contrate mais, mas faça isso até o final da tarde. Não aceito atrasos.
Kang, com um semblante sério, apenas acenou com a cabeça, respondendo com um simples “OK, senhor”. O carro seguiu em direção ao destino, enquanto Minjae ficou pensativo, os dedos tamborilando na lateral do banco. Ele não poderia deixar que nada fosse interrompido. Nada.
Logo, o carro parou em frente à sua empresa. Minjae desceu do carro e Kang partiu para cumprir sua missão.
A secretária o recebeu com um sorriso cordial ao entrar no escritório. Minutos após Minjae ter adentrado a sala, ela bateu à porta.
— Pode entrar — respondeu Minjae, em tom sério.
— Senhor Seo Minjae, alguém deixou uma carta para o senhor. — Ela entrega o envelope, seu rosto mantendo a mesma expressão impassível.
Minjae franziu a testa, sentindo um desconforto crescer. Não esperava correspondência, especialmente de alguém que não fosse do seu círculo mais próximo. Ele pegou uma carta com um movimento rápido, mas controlado.
— Obrigado — disse, tentando disfarçar a estranheza em sua voz.
Minjae ficou por um instante, olhando para o envelope. O selo era simples, sem qualquer marca identificável. Ele então, com uma expressão séria, rasgou o papel e retirou a carta. À medida que seus olhos percorriam as palavras escritas à mão, sua expressão mudava. A leveza distante de seu rosto, foi deixada por uma sombra de preocupação.
— Quem deixou?
— Não sei dizer, senhor. Apenas encontrei em cima da sua mesa antes do senhor chegar.
— Certo. Obrigado.
Ela se retirou discretamente, e Minjae ficou sozinho.
Sentou-se à sua mesa e abriu o envelope com cuidado. Assim que leu as primeiras linhas, sua expressão se fechou. Os olhos estreitaram-se, as sobrancelhas se uniram, e os dedos cerraram o papel com força. O silêncio do ambiente parecia crescer com o peso do conteúdo.
Ele respirou fundo, desviou o olhar para a janela, como se tentasse controlar algo dentro de si. Depois se recostou na cadeira, a carta ainda nas mãos.
Levantou-se com um impulso contido, e pediu à secretária que chamasse um táxi.
— Chame um táxi. Agora — disse em tom direto.
O som agudo do interfone soou sobre a mesa. Ele abriu o botão, sem pressão.
— O táxi está chegando, senhor Minjae — informou a voz da secretária, clara e profissional.
— Avise a todos que não terá reunião hoje— disse ele, ajeitando a gola da jaqueta. — Organize uma agenda. Tudo o que estiver marcado para hoje, transfira para amanhã.
— Sim, senhor. Farei isso agora mesmo.
Minjae soltou o botão, encerrando a chamada, e lançou um último olhar para a cidade através da parede de vidro.
Sem dizer mais nada, Minjae pegou o envelope com a carta e o guardou no bolso interno da jaqueta. Com passos firmes e silenciosos, atravessou o corredor e saiu do prédio, deixando para trás a rotina, os compromissos e uma atmosfera de incerteza que pairava no ar.
Do alto da escadaria da mansão, Seojun ainda fitava a janela do segundo andar, onde viu o carro preto buscar Minjae com toda aquela formalidade. Aquilo não saiu da sua mente. O tratamento, a postura de quem abriu a porta... não combinava com a imagem despreocupada que Minjae costumava passar.
— Quem é você, Minjae? — murmurou para si.
O tempo passou mais rápido do que ele descobriu. Após horas mergulhadas em pensamentos, Seojun observou o relógio e levantou um salto. Já estava quase na hora de buscar Jiwon na universidade.
Desceu as escadas com passos firmes, pegou as chaves do carro e atravessou a entrada da mansão. O ar da tarde já começava a esfriar, e havia uma leve brisa.
O caminho até a faculdade foi tranquilo, mas seus pensamentos não cessaram. As imagens da manhã voltavam à mente com insistência: Minjae saindo com pressa, o carro luxuoso, o porte quase reverente do motorista. Aquilo não era comum.
Ao chegar, estacionou a uma curta distância do portão principal e pegou o celular, ligando para Jiwon.
Olhou pela janela do carro enquanto o telefone chamava — e a viu.
Jiwon estava de pé, rindo enquanto conversava com um pequeno grupo de alunos. Ela parecia bem. Leve. Um brilho natural nos olhos, como alguém que, por um instante, não carrega peso algum no coração.
Seojun olhou em silêncio, com um pequeno sorriso se formando. Os colegas ao redor respeitosos, simpáticos. Nenhum sinal de falsidade ou julgamento. Era reconfortante ver que ela estava sendo bem recebida.
Quando Jiwon atendeu, virou-se procurando ao redor e logo o encontrou no carro, acenando de longe.
— Já chegou? — disse ela ao telefone, sorrindo.
— Já. Mas parece que você está se divertindo aí.
— Só um pouco — respondeu rindo, despedindo-se com um aceno dos colegas.
Ela caminhou até o carro, e Seojun saiu para abrir a porta para ela, sempre cuidadoso. Quando Jiwon entrou, ele deu a volta e assumiu o volante.
— Como foi o dia? — Disse enquanto ligava o carro.
— Foi bom, na verdade. As aulas passaram rápido. Acho que estou começando a me sentir diferente do que eu era. — Falou sorrindo com os olhos.
Seojun assentiu, mas seu olhar permaneceu atento à estrada. Por dentro, ainda lutava contra o impulso de contar tudo o que vira naquela manhã.
Mas por enquanto seria melhor investigar.
— Você pode ir comigo em um lugar? — disse Seojun, quebrando o silêncio repentino, com as mãos tensas no volante.
Jiwon o olhou de lado, surpresa pela mudança súbita no tom da conversa. Mas algo no olhar dele — sério, mas gentil — fez seu coração pulsar mais forte. Já há algum tempo, vinha tentando entender o que sentia, mas de manhã, ao vê-lo esperando por ela, tão presente, tão constante... foi como se tudo começasse a se esclarecer dentro dela.
— Claro — respondeu com um leve sorriso. — Para onde vamos?
Seojun não respondeu imediatamente. Apenas continuou dirigindo em silêncio, o olhar firme na estrada, como se precisasse de coragem para levá-la até onde queria, e talvez mais ainda para dizer o que estava engasgado em seu peito.
Pouco tempo depois, o carro estacionou próximo ao Parque Yongdusan, em Nampo-dong. Era um dos pontos mais conhecidos de Busan. Lá de cima, a Torre de Busan se erguia, cercada por cerejeiras que começavam a florir, mesmo fora da estação plena — como se o cenário colaborasse para algo especial acontecer ali.
— Aqui? — disse Jiwon, sorrindo encantada ao descer do carro e olhar ao redor.
— É um dos meus lugares preferidos — disse ele, saindo também. — Quando eu quero pensar... ou esquecer o mundo por um tempo, é para cá que venho.
Subiram juntos os caminhos do parque, até alcançarem um dos pontos com vista panorâmica da cidade. Lá de cima, o mar se estendia até onde os olhos podiam ver, com o céu alaranjado do fim da tarde tocando o horizonte.
Seojun respirou fundo. Jiwon ficou em silêncio, sentindo o vento leve brincar com seus cabelos.
— Obrigado por vir comigo — ele disse, quebrando finalmente o silêncio.
Jiwon apenas olhou para ele, e o coração dela respondeu antes mesmo que sua mente pensasse em algo. Ela estava ali, totalmente. E algo entre eles estava prestes a mudar.