Sentimentos Que Florescem

A subida até o topo da Torre de Busan foi silenciosa. O elevador subia suavemente, iluminado por uma luz suave, enquanto ambos observavam a paisagem que se abria pelas janelas de vidro. A cidade começava a se acender lentamente, luz por luz, como um céu invertido.

Quando as portas se abriram, foram recebidos por um ambiente tranquilo, com poucas pessoas circulando pelo observatório. O vidro ao redor oferecia uma visão panorâmica de Busan — o mar escuro e calmo, os navios ancorados como constelações distantes, as luzes da cidade pulsando como um coração vivo sob os pés deles.

Jiwon caminhou devagar até uma das janelas. Colocou as mãos no vidro, admirada com a imensidão à sua frente. Seojun ficou ao seu lado, mas dessa vez não disse nada. Apenas observou o reflexo dela na vidraça, os olhos brilhando, os lábios entreabertos num suspiro leve.

O coração de Jiwon estava batendo a mil, sem saber o porquê que ele a levou para lá, o que ele teria para dizer. Ela sentia que não tinha mais dúvidas dos sentimentos por ele. Olhar para ele e senti- lo tão perto, trazia uma imensa segurança da qual ela nunca sentiu.

— É lindo aqui… — Jiwon sussurrou, como se o volume da voz pudesse quebrar a beleza 

silenciosa do momento.

Seojun a observou mais um instante antes de responder, como se cada palavra precisasse de cuidado.

— Queria te trazer a um lugar onde você pudesse respirar. Onde fosse possível esquecer do que a machuca… mesmo que só por alguns minutos.

Ela virou-se lentamente para ele. Seus olhos se encontraram, e o tempo pareceu desacelerar. Havia uma vulnerabilidade sincera nos olhos de Seojun, como se ele estivesse diante de uma escolha — ou de um risco.

— Mas tem outra razão também, não tem? — Jiwon perguntou, sua voz mais firme do que ela mesma esperava.

Seojun hesitou por um breve segundo, depois assentiu, desviando o olhar por um instante para o horizonte brilhante atrás do vidro.

— Tem, sim — Diz, virando-se de lado para encará-la.

Jiwon franziu levemente o cenho. Mantendo-se firme, aguardando ansiosamente pelo que ele ia dizer. 

— Jiwon… — Ele a chamou com suavidade, a voz baixa, mas firme o suficiente para cortar o silêncio entre eles.

Ela virou-se lentamente, os olhos encontrando os dele sob a luz dourada do entardecer. A brisa balançava os fios soltos de seu cabelo, e a cidade abaixo parecia suspensa no tempo.

— Eu gosto de você.

 As palavras pairam no ar como se o mundo tivesse parado para escutá-las. Simples. Diretas. Reais.

Jiwon sentiu o coração disparar no peito. Ela desviou o olhar por um instante, como se os sentimentos dentro dela fossem grandes demais para caber ali, entre os dois. Mordeu levemente o lábio, tentando conter o sorriso que queria escapar, mas havia algo em seus olhos — uma mistura de surpresa, carinho e... medo.

— Seojun… — murmurou, a voz quase falhando. — Eu…

Ele deu um passo à frente, com a expressão serena, mas vulnerável.

— Você não precisa dizer nada agora. Eu só… não queria mais esconder. Não depois de tudo. Depois de hoje.

Jiwon apertou as mãos contra o peito. Parte dela queria correr e abraçá-lo. Outra parte… hesitava.

As lembranças confusas, os sonhos estranhos, o passado que ela ainda não entendia completamente — tudo isso pesava.

Mas ela também… não queria mentir para si mesma.

Seu olhar desceu até os lábios de Seojun.

Uma vontade silenciosa, quase urgente, de beijá-lo, surgiu com força inesperada. Como se aquele simples gesto pudesse afastar todas as dúvidas, todos os medos.

Ela respirou fundo, tentando se conter.

— Seojun… Eu também gosto de você.

Seojun ficou imóvel por um instante. As palavras dela ecoavam no silêncio ao redor como uma brisa suave antes da tempestade.

— Você… — ele murmurou, com a voz embargada. — Você sabe o quanto esperei ouvir isso?

O vento de outono soprou suave entre eles, fazendo algumas folhas de laranjeiras dançarem ao redor, como se a estação soubesse que aquele era um momento importante. O céu, tingido de tons dourados e avermelhados pelo pôr do sol, servia como moldura para a cena que parecia tirada de um filme.

Os olhos de Seojun encontraram os dela — intensos, surpresos, e vulneráveis.

— Jiwon… — ele sussurrou, como se testasse o som da própria esperança.

Ela mordeu o lábio inferior, nervosa, tentando conter a enxurrada de sentimentos que borbulhavam dentro dela. O silêncio entre eles não era desconfortável — era carregado, denso, cheio de tudo o que ainda não havia sido dito.

Seojun se aproximou, devagar. Um passo. Depois outro. Parou bem diante dela, olhando-a como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo.

Jiwon abaixou o olhar por um segundo, sentindo o coração acelerado. Quando voltou a encará-lo, os olhos de Seojun estavam mais suaves, mas ainda brilhavam de emoção.

Ele ergueu a mão e tocou o rosto dela com delicadeza, os dedos frios contrastando com o calor que subia pelas bochechas dela.

— Eu posso? — ele perguntou, quase num sussurro, o rosto já próximo o suficiente para sentir a respiração dela.

Ela apenas assentiu, fechando os olhos devagar.

E então ele a beijou.

Um beijo doce, lento, como se aquele fosse o único momento que existia. Não havia mais lembranças ruins, dúvidas ou medos — só eles dois, no topo da torre, com o mundo inteiro lá embaixo, alheio ao que acabava de nascer ali.

Quando os lábios se separaram, ele ainda a manteve perto, encostando a testa na dela.

Seojun inclinou-se devagar, como se o tempo estivesse em câmera lenta, e encostou seus lábios nos dela com ternura. Foi um beijo calmo, mas cheio de sentimento, como se ele estivesse dizendo com aquele gesto tudo o que as palavras nunca foram capazes de expressar.

Minjae, após receber a carta misteriosa, vai ao encontro de quem a enviou. O local marcado é um antigo balcão abandonado. Ao chegar lá, encontra um homem aparentando cerca de 35 anos, sentado em uma cadeira velha e rangente.

— Você veio — diz o homem, com um leve sorriso, quase zombeteiro.

Minjae o encara com olhos carregados de fúria. Embora esteja sozinho, sente-se seguro. Domina artes marciais e carrega uma arma — estava pronto para qualquer coisa.

Ele observa o ambiente ao redor, buscando sinais de emboscada. Mas, por ora, o homem parece estar sozinho.

— Quem é você? E por que me chamou aqui? — questiona Minjae, firme.

O homem cruza os braços, ainda com aquele ar provocador.

— Calma, garoto. Comigo não vai acontecer o mesmo que aconteceu com o outro informante — responde, com um meio sorriso.

Minjae estreita os olhos.

— Então você tem informações sobre quem matou meus pais? — pergunta, contendo a raiva.

O homem faz uma pausa dramática, como se saboreasse o momento.

— Hum... vamos ver — diz, com um sorriso malicioso.

O homem se levanta devagar, tirando um envelope do bolso do casaco puído. Joga-o sobre a bancada enferrujada, diante de Minjae.

— Está tudo aí. Nomes, datas, lugares. Mas cuidado... saber demais pode te colocar na mira também. Aguardo seu retorno.

Minjae pega o envelope com cautela, ainda observando cada movimento do estranho. Ao abri-lo, vê fotos antigas, registros de transações, e um símbolo estranho marcado em vermelho em um dos papéis — o mesmo símbolo que ele viu tatuado no braço de um dos assassinos pelas informações de seus homens.

— O que é isso? — pergunta, segurando o papel com o símbolo.O homem se aproxima, agora mais sério.

— Isso... é o início. Eles chamam de Círculo da Aurora. E você acabou de tocar no vespeiro.

Após entregar o envelope, o homem se retira silenciosamente, entra no carro e vai embora. Minjae permanece no local por alguns minutos, analisando cada detalhe do conteúdo. Suas mãos apertam as fotos e documentos com força. Cada nova informação o leva mais fundo no mistério — e mais próximo da verdade.

Minjae sai do galpão com o envelope firme nas mãos, o conteúdo ainda pulsando em sua mente como um alerta silencioso. Lá fora, Kang já o aguardava ao lado do carro, atento.

— A casa está pronta? — pergunta Minjae, direto.

— Está sim, senhor. Terminamos hoje. Tudo foi colocado no lugar como o senhor pediu.

Minjae assente, distraído, ainda processando as informações recebidas. Ele caminha até o carro, abre a porta do motorista, mas então para por um instante. Olha para Kang com firmeza.

— Me dá as chaves.

Kang o encarou, confuso.

— Senhor… quer que eu o leve?

— Não. Eu vou sozinho.

Kang hesita por um momento, depois entrega o chaveiro. Minjae o pega sem dizer mais nada e entra no carro, batendo a porta.

O motor ronca. Os olhos dele permanecem fixos à frente, duros.

— Hoje ela vai para casa comigo.

E parte com determinação, em direção à casa de Seojun.

Ao chegar, vê alguns funcionários cuidando do jardim. Desce do carro e se aproxima da entrada e entra dentro da casa.

— Boa noite. Pode chamar a Jiwon, por favor? — pergunta, olhando ao redor.

Uma das funcionárias, com semblante educado, responde:

— Senhor Minjae… a senhorita Jiwon ainda não voltou da universidade. Mas… — ela hesita — o senhor Seojun disse que iria buscá-la mais cedo.

Minjae congela por um instante. O maxilar se fecha, o coração acelera. Ele tenta manter a calma, mas a combinação de incerteza e ciúmes o invade com força.

— Ele foi... buscá-la?

— Sim, senhor. Não disseram para onde iriam depois.

Sem agradecer, Minjae vira as costas e volta para o carro. Senta-se ao volante, encara o celular por alguns segundos. Liga para Jiwon. Sem resposta. Tenta Seojun. Caixa postal.

Solta um suspiro pesado, irritado. Bate as mãos no volante.

— O que está fazendo Jiwon?

Na mente, imagens dos dois juntos surgem sem permissão. Sorrisos. Olhares. Um futuro talvez perdido. 

Minjae ainda está dentro do carro, parado na entrada da casa de Seojun. A noite começa a cair. A tensão dentro dele é sufocante.

Olha novamente para o celular. Nada.

O que antes era desconfiança agora é medo.

Mas do que ele realmente tem medo? De perdê-la? Ou de descobrir que ela já não é mais dele?

O motor do carro liga. Ele sabe o que precisa fazer.

— Seojun... você está cruzando a linha — murmura.

E pisa fundo no acelerador.