Entre o Desejo e o Abismo

Pensar no que Jiwon e Seojun poderiam está fazendo, deixa Minjae irritado. Andando pelas ruas da cidade de Busan em busca de Jiwon, e não consegue encontrá-los, ambos não atendem o celular. 

— Onde você está Jiwon? — Grita, batendo forte no volante.

Ao chegar em casa, Minjae recebe uma visita inesperada, uma antiga colega da faculdade 

Nari acompanhada por um dos seus homens.

— Minjae a quanto tempo. — Diz Nari, Já sentando no sofá elegantemente. 

— Nari? O que está fazendo aqui? — Pergunta Minjae surpreso e acenando para o homem se retirar.

— A quanto tempo, não é mesmo? Vim matar a saudade de você— Diz Nari, olhando para cada canto da casa. 

Minjae a observa, apesar de todo tempo ela ainda continuava com a mesma beleza. 

O rosto oval, agora levemente mais definido, mantinha a suavidade dos traços jovens que ele lembrava: pele clara como porcelana, olhos grandes e expressivos, ainda com aquele brilho curioso que parecia ler as intenções dos outros antes que fossem ditas. Seus cabelos escuros caíam soltos sobre os ombros, com ondas naturais que balançavam a cada movimento, emoldurando com leveza o contorno do rosto. As sobrancelhas arqueadas davam um ar confiante e observador, enquanto os lábios, cheios e naturalmente rosados, curvavam-se em um meio sorriso com um toque sutil de elegância, como quem sabe exatamente como se apresentar sem exagero.

 — Humm…sei. — Responde Minjae, colocando uma bebida e oferecendo a ela.

A mesma recebe o copo e agradece.

— Obrigada! Eu falo sério quando digo que vim matar saudade, cheguei hoje do exterior. Você trocou de número? Não consegui te contatar e você nem se quer me procurou nenhuma vez, depois que terminamos a faculdade. — Diz, fazendo biquinho com cara de dengo.

Minjae se aproxima e senta ao lado dela tocando em seus cabelos compridos.

— Me desculpe, estava bastante ocupado. Você veio para matar a saudade mesmo? — Pergunta Minjae com cara de segundas intenções.

Nari o olha e sorri.

— Acho que ainda não esqueceu do que a gente viveu, né? — Diz, olhando para ele. — Ela se vira devagar, os olhos fixos nos dele, e, sem dizer uma palavra, montou em seu colo, de frente para ele. Suas pernas se abriram com naturalidade, encaixando-se ao redor das dele, enquanto sentia o calor do corpo dele sob o seu. Sentados lado a lado momentos antes, agora ela dominava o espaço entre os dois, os quadris colados, o ritmo da respiração se acelerando. Ele a envolveu com as mãos na cintura, e o tempo pareceu parar ali, entre os olhares carregados de desejo. — O que acha de relembrarmos os velhos tempos? Pergunta para ele.

Aquele momento era propício para ele esquecer aquele dia. O seu corpo ardia em desejos por Nari o fazendo lembrar dos tempos de faculdade, mesmo que ela o ardesse de desejos sexuais o seu coração só deseja amar Jiwon e tê-la para sempre. E está com Nari o fazia imaginar Jiwon. 

— Não fale de Jiwon. Diz ele apertando seus lábios. Fechou os olhos por um instante — e, por um breve segundo, desejou que fosse Jiwon ali.

Ele a encarava como se procurasse outra pessoa por trás dos olhos de Nari. O nome de Jiwon queimava em sua mente.

Num impulso, ele a puxou pela cintura com força, colando seus corpos. A boca dele encontrou a dela com pressa, com fúria. Não era um beijo doce — era possessivo, quase cruel, como se quisesse apagar uma lembrança com outro gosto.

As mãos dele percorreram as costas dela com intensidade, como se quisesse prendê-la ali, torná-la algo que ela não era. Nari arqueou o corpo, ofegante, sentindo o calor crescer entre eles, o toque áspero, os dedos dele apertando sua pele com urgência.

— Calma Minjae… Diz, Nari ofegante. — Não sabia que estava com tantas saudades assim.

Ele a levou para o quarto, o peito arfando, os olhos turvos de algo mais que desejo. Os lábios desceram por seu pescoço, vorazes, enquanto seus dedos afundavam em sua cintura, puxando-a para si.

Nari sentia o corpo de Minjae quente contra o seu, mas a mente dele parecia distante, perdida em um lugar onde ela não conseguia entrar. Os dedos dele apertavam a cintura dela com tanta força que machucavam, e o beijo, antes agressivo, tornava-se uma luta silenciosa entre o presente e uma sombra do passado.

Mas, quando a intensidade começou a ceder, ele se afastou lentamente, como se um interruptor tivesse sido desligado. O olhar antes ardente virou distante, frio. Sem uma palavra, soltou a mão dela, deixando um vazio pesado no ar.

— Você está bem? — pergunta Nari, sentando-se na cama.

— Preciso sair. Vou só tomar um banho — diz Minjae, seco.

— O quê? — pergunta Nari, sem entender aquela atitude. Ela se levanta devagar, respira fundo e vai atrás dele até o banheiro. Para na porta, apoia-se de lado no batente e cruza os braços.

— O que está acontecendo com você? Você não parece mais aquele Minjae que conheci na faculdade.

Minjae termina o banho, passa por ela sem dizer uma palavra e veste o roupão. Nari o acompanha de volta até o quarto e se senta na beira da cama.

— Certo! Não precisa dizer nada. Eu já pesquisei sobre você.

Ao ouvir isso, Minjae, que está secando o cabelo com uma toalha, para e se vira para ela. Nari o observa e continua:

— Agora você tem sua própria empresa, seus pais morreram, e está se tornando um homem importante — diz Nari, em tom debochado.

— E o que mais você sabe? — pergunta Minjae, com um olhar sério e frio.

— Não sei de mais nada. O que mais eu poderia saber? — responde Nari, desconfortável. O olhar de Minjae a faz sentir um frio na espinha. Ele não era mais quem ela conhecia. Naquele momento, ela percebe que o melhor seria se afastar.

— Humm. Sei... — diz Minjae, notando o desconforto dela.

— Preciso ir. Foi bom vê-lo novamente. Desculpe a minha ousadia — diz ela, levantando-se para sair do quarto. Mas ele a segura pelo braço.

— Preciso dizer que realmente não sou mais aquele que você conheceu. Mas se veio matar a saudade, então vamos fazer isso — diz, apertando com força o braço de Nari e a empurrando na cama.

— Não, Minjae! Não é assim. Eu não quero mais. Você disse que precisava sair — diz Nari, tentando se erguer com os cotovelos. Ela estava com medo. Não reconhecia mais as atitudes de Minjae.

— Como assim? Não foi pra isso que veio? Você continua sem valor algum, sempre se jogando pra cima de homem...

— Minjae, por favor, me deixe ir embora — implora Nari, com lágrimas nos olhos, sentindo o corpo dele sufocá-la e machucá-la.

— Não! — diz ele, segurando os dois braços dela contra a cama.

Nari tenta se soltar, mas Minjae é mais forte. Ela grita, tenta empurrá-lo com os joelhos, mas ele ignora seus apelos, sua resistência, suas lágrimas. O olhar dele está vazio, como se a humanidade tivesse sido arrancada.

— Por favor... — ela implora, a voz entrecortada pelo choro. — Minjae, não faça isso...

Mas ele não a ouve. Ou talvez ouça, e simplesmente não se importe.

O quarto, que antes carregava apenas um silêncio desconfortável, agora se enche de desespero. Tudo nela grita por ajuda, mas não há ninguém ali além dos dois — e o homem à sua frente não é o mesmo que um dia conheceu. Ele é um estranho, tomado pela raiva, pelo orgulho ferido, pelo desejo de poder.

Minjae ignora cada pedido, cada lágrima, e ultrapassa um limite do qual não há retorno.

Quando tudo termina, Nari está imóvel. Não há mais força em seu corpo. Apenas um vazio sufocante, um silêncio ensurdecedor, um medo que cresce e se transforma em dor.

Minjae se afasta, como se nada tivesse acontecido. Ele se senta na beira da cama, respirando pesado, e não olha para ela.

— Você não devia ter voltado — diz, por fim, com a voz fria.

Nari se encolhe, cobre o corpo com os braços e se vira de lado, tentando proteger o pouco que ainda sente ser seu.

Ela não responde. Não há mais palavras. Apenas a certeza de que algo foi tirado dela — algo que nunca poderá ser devolvido.

— Por que fez isso comigo? — sussurra ela, entre soluços, tentando alcançar alguma memória boa dele, alguma humanidade que ainda restasse naquele homem à sua frente.

— Você devia ir — diz ele, ainda olhando pela janela, com a voz mais contida.

Ela se levanta devagar, pega a bolsa que havia deixado no chão e caminha até a porta. Antes de sair, ela olha para ele pela última vez.

O silêncio que fica no quarto é pesado. Minjae permanece imóvel, encarando o reflexo distorcido da cidade no vidro. Dentro dele, algo começa a ruir, mas ele não sabe se é arrependimento ou apenas o vazio tomando forma.

Jiwon e Seojun caminhavam juntos pelo Parque Yongdusan. A brisa leve soprava entre as árvores, e os dois trocavam sorrisos discretos. Os sentimentos eram recíprocos, silenciosos, mas presentes em cada olhar.

— Seojun? Posso te pedir um favor? — disse Jiwon, parando de repente e se virando para ele, com expressão séria.

— Claro! Qualquer coisa — respondeu ele, sorrindo com sinceridade.

— Não vamos contar nada ao Minjae... por enquanto, por favor — pediu ela, com um tom hesitante.

— Mas por que não? — perguntou Seojun, franzindo a testa, confuso.

 — Porque... só por enquanto, tá? Por favor — insistiu Jiwon, desviando o olhar. Ela não tinha coragem de contar a ele que Minjae também era apaixonado por ela. Seojun ficou em silêncio por um momento, mas logo assentiu, compreensivo.

— Tudo bem. Se é isso que você prefere — disse ele, embora já suspeitasse do verdadeiro motivo.

— Obrigada! — disse Jiwon, o abraçando com gratidão. O calor do abraço fez com que seu coração disparasse.

No carro, Jiwon olhava pela janela, vendo as luzes da cidade passarem como lembranças que não vinham. Pela primeira vez, sentia-se verdadeiramente feliz, mas ainda havia um vazio que a incomodava. Pensava em seu pai, mas não se sentia pronta para encontrá-lo. Queria recuperar suas memórias antes, não queria encará-lo como um estranho.

— Você acha que algum dia eu vou me lembrar da minha vida... da minha infância? — perguntou, com a voz suave, quase como um sussurro.

— Claro que vai. E tenho uma novidade pra você — disse Seojun, animado. — Amanhã quero que conheça uma amiga que chegou do exterior. Ela é terapeuta e é muito reconhecida no que faz. Disse que pode te ajudar.

— Sério? Que bom! — respondeu Jiwon, abrindo um sorriso sincero, cheia de esperança.

No entanto, ao chegarem em casa, o clima mudou.