Classes

Capítulo 9 — Classes

Um dia antes do despertar de Sawo

Uma tempestade se aproxima do reino do sul.

Hoje, o lar se tornou um refúgio — a única tarefa de nossas pequenas almas é permanecer em segurança.

A chuva despenca com força, cobrindo o chão de lama e pequenos cristais de gelo. No entanto, dentro da casa de Percy, reina a calmaria.

Carol estuda concentrada. Seu braço já está muito melhor, e ela consegue escrever normalmente. Sua caligrafia é impecável, quase artística.

Enquanto isso, do lado de fora, sob a tempestade, Percy e Arky treinam. O ar ao redor está tenso.

— Vamos, Arky! — Percy ordena, com um olhar sério.

Arky avança com uma espada de madeira. Sua velocidade aumentou, e ele está claramente mais forte. No entanto, Percy desvia de todos os ataques com uma facilidade desarmante. Com um leve empurrão, derruba o garoto.

— Muito bom! Você melhorou bastante. Sua velocidade e força estão crescendo. — Percy sorri com orgulho.

Arky respira com dificuldade, o rosto vermelho de esforço. Mesmo assim, Percy sequer parece cansado.

— Poxa, você é forte demais, Percy.

— Exato. Eu sou o guarda real mais forte, e fui eu quem treinou seu pai. Ele aprendia rápido, mas já era um adulto quando nos conhecemos.

— Então meu pai só ficou forte porque você o treinou?

— Não exatamente. Ele já era forte. Eu apenas lapidei o que ele tinha. — Percy fala com orgulho na voz, lembrando-se de Carlos.

Determinado, Arky se levanta e ajusta a postura com a espada.

— De novo!

— Tudo bem, mas desta vez, tente me fazer sair do lugar.

Arky avança com tudo, golpeando várias vezes, mas Percy permanece imóvel, desviando com precisão sem mover os pés. Arky insiste, ataca de novo e de novo, até ficar sem forças.

Percy ri alto. — Não desanime, Arky. Para a sua idade, você já é bem forte!

— Mas eu nem consigo te fazer se mexer... — Arky bufa, mas abre um sorriso determinado.

— Não desista. Faça isso pelo Sawo.

O nome de Sawo reacende algo dentro de Arky. Ele ajusta a postura mais uma vez.

— De novo!

— Não. Vamos entrar. Não quero que você pegue uma gripe. Carol já deve estar nos esperando.

— Aff... Mas você tá certo. Treinei bastante. — Arky ri, divertido.

Dentro da casa, a atmosfera é aconchegante. Percy coloca leite em um pote de ferro e o posiciona na lareira, esperando até que ele esquente.

— Vocês querem um pouco de leite? — pergunta Percy com um sorriso amistoso.

— Claro! Eu tô exausto — responde Arky, caindo no sofá.

— Sim, obrigada, Percy — diz Carol, sem desviar os olhos dos livros.

Carol está escrevendo com foco absoluto, e sua letra desliza pelo papel com uma elegância surpreendente.

Arky observa e arregala os olhos.

— Caramba, Carol! Sua letra tá perfeita! O que você tá estudando?

Carol abre um sorriso travesso.

— Percy disse que, assim que meu braço melhorasse, eu poderia estudar magia. Agora, estou aprendendo tudo que posso sobre os princípios mágicos! — Seus olhos brilham de excitação.

— Magia? Eu achei que só membros da realeza podiam usar...

— Errado. Magia é algo muito mais complexo. Ela pode ser adquirida por meio de treino, pactos ou estudos. Algumas promessas de sangue também concedem poderes, mas isso depende das consequências. Além disso, algumas pessoas nascem com magia. Eu, por exemplo, sou da família Silvere, uma linhagem de feiticeiros. Provavelmente nasci com magia.

— Espera... E esse seu poder de ler mentes? Isso já não é magia? — Arky franze a testa, confuso.

Carol pisca, surpresa. — Eu nunca pensei nisso assim... Talvez você tenha razão.

Arky abre um sorriso orgulhoso e cruza os braços. — Eu sou bom.

— Idiota — Carol ri.

De repente, um trovão ecoa, fazendo ambos darem um salto.

— Que susto!

Percy observa com calma. — Não tenham medo. Raios são atraídos por medo excessivo. Melhor ignorá-los por enquanto.

— Isso é verdade? — Arky pergunta, curioso.

— Sim. Quanto mais você teme algo, mais provável é que aquilo aconteça. É uma ironia do destino.

— Inteligência desbalanceada — brinca Carol, rindo.

A tempestade continua rugindo lá fora, mas, por algum motivo, dentro da casa eles se sentem protegidos. Os lampiões a óleo iluminam o ambiente com uma luz bruxuleante e reconfortante.

De repente, Arky ergue a cabeça, com o olhar decidido.

— Percy, acho que já está na hora... Está na hora de eu me tornar um aventureiro!

Percy o observa com atenção. Embora confie no potencial de Arky, ele ainda é jovem.

— Entendo. Mas eu proíbo você de fazer missões perigosas. Acredito que já tenha superado a Classe E há algum tempo.

— Sério?! — Arky quase pula de alegria.

— Sim. Mesmo com apenas nove anos, você já está no nível de Classe E.

Carol faz carinho em Arky, feliz por ele.

— Boa, Arky! Agora vai trabalhar, hahaha!

— Você também, Carol — diz Percy, sorrindo.

— Aff... Tudo bem. As missões de Classe E não são difíceis. Geralmente, envolvem ajudar nobres ou coletar coisas simples.

— Exato. E eu proíbo vocês de pegarem missões acima dessa classe — afirma Percy, com um olhar sério.

Arky está radiante. Seu primeiro objetivo sempre foi alcançar a Classe E, e agora ele conseguiu.

— Certo. Então, durmam cedo. Se querem honrar Sawo, tornem-se aventureiros poderosos. Todo grande aventureiro começa por pequenas missões. — Percy faz uma pose dramática, quase filosófica.

Arky e Carol caem na gargalhada.

Naquele lar improvisado, entre risos e histórias, eles parecem uma verdadeira família.

Depois de um tempo, Percy apaga os lampiões. Carol e Arky vão dormir. Percy logo os acompanha.

E, enquanto a tempestade continua lá fora, a casa repousa em silêncio, guardando seus sonhos.

Algumas semanas atrás

Na vastidão sombria da Floresta Negra, uma figura pálida surge entre as árvores retorcidas e os arbustos secos. Um vampiro, o mesmo que outrora recebeu a ordem de capturar Arky e entregá-lo a Karina, observa o ambiente com olhos atentos e desconfiados.

— Há algumas semanas, eu os procurei no reino, mas não estavam lá... — murmura para si mesmo, franzindo o cenho. — Pensei que tivessem morrido aqui, na Floresta Negra, mas algo não faz sentido.

Ele faz uma pausa, relembrando os detalhes da busca.

— Não havia corpos. Só encontrei acampamentos abandonados e nenhum sinal de luta. Em uma caverna perto do rio, uma entrada coberta por folhas exalava um cheiro intenso de sangue... Mas, mesmo ali, não havia ninguém. — Seus olhos escuros revelam inquietação enquanto pondera sobre as pistas desconexas.

Ao seu redor, a floresta parece viva e malevolente. Ossos se partem sob o peso de criaturas invisíveis, e pássaros de olhos vermelhos cantam em tons lúgubres. A névoa rasteja pelo solo úmido, envolvendo tudo em uma mortalha gélida.

O vampiro continua vasculhando a floresta, obstinado, mas já está ali há quase dois meses e não encontra nada além de silêncio e escuridão.

— Nada... Isso é muito estranho. Será que eles não chegaram ao reino naquela época? Ou já estavam lá e escaparam? — Ele bate o punho na árvore mais próxima, frustrado, os olhos brilhando com irritação.

De repente, uma risada feminina ecoa pela floresta, cortando o silêncio como uma lâmina. O vampiro se vira bruscamente, os músculos tensos.

— Não pode ser... — sussurra, o terror crescendo em seu rosto ao ver quem se aproxima.

Nargo. Uma mulher belíssima e perigosa, com olhos que emanam crueldade, caminha lentamente até ele. Seu sorriso sarcástico é o prenúncio de algo terrível.

— Que azar o meu… — o vampiro murmura, preparando-se para lutar, embora a sensação de impotência já pese sobre seus ombros.

Nargo para, ainda sorrindo, mas então sua expressão começa a se distorcer de forma grotesca. Sua boca se abre mais do que deveria ser possível, revelando dentes longos e afiados. Sua cabeça aumenta, esticando-se até se transformar em algo que não é mais humano — um monstro hediondo.

— Um demônio... — o vampiro tenta reagir, mas já é tarde demais.

Num movimento rápido e brutal, a criatura avança e o ataca. Com uma única mordida feroz, arranca sua vida. O corpo do vampiro desaba no chão, drenado de sangue até restar apenas um pé.

Voltando lentamente à forma humana, o monstro, que agora parece novamente com Nargo, lambe os lábios ensanguentados e solta uma risadinha distorcida. Sua voz soa diferente — sombria, quase demoníaca.

— Delícia... Obrigada pela refeição. — A criatura saboreia o momento, antes de se afastar sem pressa, desaparecendo entre as sombras da Floresta Negra.

Presente — Dia Seguinte

O reino do sul despertava em paz. O sol nascera cedo, banhando as ruas e muralhas com uma luz dourada, assim como Arky e Carol, que já estavam de pé e prontos para o dia que prometia ser inesquecível.

— Vamos, Percy! — Arky gritou com entusiasmo, quase pulando de ansiedade.

Carol caminhava ao lado de Percy, enquanto Arky, mais à frente, liderava o grupo com animação transbordante.

— Essa criança... — Carol comentou, sorrindo com ternura.

— É normal, ele tem apenas nove anos. — Percy riu. — E, mesmo sem ler mentes, sei que você também está animada.

— Você me pegou. Se tornar aventureira é algo muito legal!

— Só não crie tantas expectativas. — Percy a alertou. — Lembre-se de que o teste não garante sucesso. Normalmente, é o examinador que decide ou vocês precisam tocar no medidor de classe.

Carol franziu o cenho, intrigada. — Como funciona o medidor?

— Se não me engano, ele mede cinco atributos: força, inteligência, magia, habilidades e aura.

— Aura também conta? — Carol suspirou, já se sentindo exausta.

Arky riu. — Relaxa, Carol. Você tem muita mana. Vai passar de letra!

— Ele está certo. Sua mana é surpreendente para alguém tão jovem. Mas você também tem talento, senhor Arky. — Percy elogiou.

— Eu já sei disso! — Arky respondeu com um sorriso confiante.

O reino estava movimentado. A praça central fervilhava com aventureiros, mercadores e moradores. Quando finalmente chegaram à guilda, a visão diante deles foi impressionante.

— Olha o tanto... — Arky murmurou, admirado.

A guilda estava lotada de aventureiros e havia dezenas de missões espalhadas pelas paredes.

— É sempre assim, principalmente após grandes tempestades. Os nobres vagabundos pagam uma fortuna para que outros limpem seus jardins gigantes. — Percy parecia irritado.

— Mas não são só os nobres — corrigiu Carol, com a voz calma. — A chuva também causa acidentes fora do reino, e muitas pessoas morrem.

— Exatamente. — Percy assentiu. — E, mesmo que as recompensas dessas missões sejam quase inexistentes, ainda há aventureiros dispostos a aceitá-las.

— Eles são corajosos. — Carol comentou, admirada.

— Concordo. Agora vão, vocês dois. Falem com as atendentes. Tenho certeza de que darão conta. Estarei por aqui se precisarem. — Percy se sentou, cruzando os braços enquanto os observava.

— Isso vai ser fácil. — Arky sorriu e puxou Carol para a frente.

O interior da guilda era espaçoso, com vários guichês. Como a maioria estava ocupada, eles decidiram ir juntos ao mesmo caixa, sem se afastar muito de Percy.

— Bom dia! — Arky cumprimentou animadamente, exibindo um sorriso enorme.

A atendente, surpresa ao ver uma criança, piscou algumas vezes antes de responder.

— Você tá perdido, garotinho? — perguntou com um sorriso gentil.

— Não! Eu quero me tornar um aventureiro! — Arky respondeu com firmeza.

Por um momento, o salão ficou em silêncio. Então, risadas explodiram por toda a guilda. Aventureiros e mercenários zombavam da audácia do menino.

Arky sentiu o peso dos olhares e o som das risadas o incomodou. Mas antes que pudesse dizer algo, Carol avançou um passo à frente, com o rosto sério.

— Ignora esses ratos, Arky. — Ela lançou um olhar frio e cheio de desprezo para os aventureiros presentes.

O salão mergulhou em um silêncio desconfortável. O julgamento severo de Carol foi tão incisivo que atingiu o orgulho dos homens e mulheres ali, como se os tivesse despido de qualquer dignidade. Muitos sentiram vergonha por aceitarem apenas missões de classe C, mesmo já tendo mais de vinte anos.

— Não precisava pegar tão pesado, né, garota? — murmurou um dos aventureiros, com uma expressão triste.

A atendente riu, tentando aliviar o clima.

— Ha ha ha, não é todo dia que isso acontece. — Ela recuperou a compostura e se concentrou em Arky. — Certo, vamos continuar. Qual seu nome, garotinho? E você entende o que é necessário para se tornar um aventureiro?

— Não muito… Pode me lembrar? — Arky perguntou, sorrindo de forma educada.

— Claro! — A mulher começou a listar. — Primeiro: você precisa despertar como, no mínimo, um classe E. Não há limite de idade. Se despertar, já pode aceitar missões.

Segundo: você deve arcar com todos os seus ferimentos. A guilda não se responsabiliza se você morrer em missão.

Terceiro: é necessário se cadastrar na guilda. Você já tem cadastro?

— Não. Posso me cadastrar agora?

— Sim! Vamos lá… Qual seu nome completo?

— Arky Kim Martel.

Ao ouvir o sobrenome, a atendente arregalou os olhos, surpresa.

— Martel? Espere… Você é parente dos heróis do sul?

— Heróis do sul? — Arky piscou, confuso.

Carol suspirou e respondeu por ele: — Ela está falando do seu pai e da sua mãe.

— Ah… Sim… Infelizmente. — Arky baixou os olhos, seu semblante ficando triste por um momento.

Os aventureiros ao redor ficaram boquiabertos.

— Uau… Isso é incrível! — A atendente exclamou, mas logo mudou de tom ao notar o olhar de Arky. — Certo, próxima pergunta: quantos anos você tem?

— Tenho nove. Vou fazer dez no mês que vem!

— Entendo… Alguma habilidade mágica ou algo único?

— Não que eu saiba.

— Ok. Seu cadastro está concluído. Agora vamos levá-lo até o examinador.

Outra atendente apareceu e acompanhou Arky até o local do teste. Enquanto isso, Carol chegou sua vez.

— Você é amiga daquele menino? — perguntou a atendente, pensando em como Carol parecia adorável.

Carol sentiu a enxurrada de pensamentos da mulher, ficou um pouco envergonhada, mas manteve a postura.

— Sim. Nós somos amigos. Também quero me cadastrar.

— Certo, então… Qual o seu nome?

Antes que a atendente pudesse terminar, Carol respondeu com uma expressão séria:

— Carol Silvere, onze anos. Minha habilidade é segredo.

A atendente piscou, confusa, mas decidiu não questionar e apenas assentiu.

— Tudo bem… Vamos levá-la até o examinador.

De longe, Percy observava e dava risada.

— Essa garota… Ha ha ha ha!

Os aventureiros lançaram olhares desconfiados para Percy, murmurando entre si.

— Será que ele tá usando Hexixe? — alguém sussurrou.

"Hexixe" era uma droga quase ilegal na Idade Média, derivada de cannabis e condenada pela Igreja Católica.(Não existente nessa história).

Percy ouviu o comentário e perdeu a paciência.

— Calem a boca! — ele rosnou, irritado.

— Grosso… Para de usar droga! — reclamou um dos aventureiros, ainda amuado.

Na Sala do Examinador

Arky se senta, surpreso, ao perceber que uma fila já se formou com outros dois aventureiros. Carol chega rapidamente, quase ao mesmo tempo.

— Você já está aqui? — Arky pergunta, claramente surpreso.

— Idiota... — Carol resmunga, visivelmente irritada com a atitude dos aventureiros e da atendente.

— Por que tá me xingando? — Arky franze a testa, confuso.

— Idiota! — Carol cruza os braços e vira o rosto, visivelmente irritada.

Arky continua sem entender, enquanto os dois aventureiros observam e riem.

— As garotas são difíceis, hein, amigo? — diz um dos aventureiros, vestido com roupas verdes, cabelo castanho e um sorriso travesso.

— Pois é... — Arky responde, tentando consolar Carol, embora sem saber o motivo da irritação dela.

Carol não perde a compostura.

— Melia Barde, você veio aqui para aumentar sua classe, mas não parece acreditar que conseguirá. Então, qual é o motivo da sua visita, afinal? — Ela pergunta, com uma seriedade que surpreende.

Melia Barde, o aventureiro, fica surpreso com a pergunta. Ele sorri e a observa.

— Que garota complicada você arrumou, garoto... Muito prazer, eu sou Melia Barde, tenho quatrocentos anos. — Ele se apresenta, mas Carol o interrompe.

— Mentira! Você tem dezessete anos! Por que está mentindo pra mim? — Carol parece confusa, e Melia Barde fica claramente chocado.

Arky ainda não entende nada, mas tenta aliviar a situação.

— Não precisa disso, Carol... não sei o que eu fiz, mas foi mal, ha ha. — Arky ri, tentando quebrar o gelo.

— Está tudo bem, Arky. Eu só estava um pouco irritada com a atendente. Eu não sou fofa. — Ela diz, emburrada, voltando à sua postura de antes.

Arky, Melia e o outro aventureiro não concordam.

— Você é fofa sim... mas tá bom, né? — Arky tenta confortá-la.

— Cala a boca! — Carol dá um cascudo em Arky, fazendo com que ele se encolha, mas rindo.

De repente, o clima na sala muda. Carol e Arky sentem uma presença esmagadora, e o ambiente fica tenso.

— O que é isso? — Carol fica chocada, seu olhar fixando algo à frente.

Na sala ao lado, uma figura imponente está sentada.

— Fanans Rimos... — Uma voz grave se faz ouvir.

Logo, o quarto aventureiro entra na sala. Poucos minutos depois, ele grita, e, em seguida, o silêncio toma conta do ambiente.

— O que aconteceu com ele? — Arky pergunta a Carol, que parece ainda mais tensa.

— Eu não sei... a mente dele simplesmente desapareceu. — Carol diz, visivelmente assustada.

— Entendi... Deve ser aquele examinador do ano passado. Que saco... Lucios Silvere, o mais forte membro da família Silvere ainda vivo... — Arky comenta, reconhecendo a situação.

Dentro da sala, a pressão aumentava ainda mais. O homem sentado exala uma aura imensa e intimidadora. Ele tem cabelos curtos e brancos, olhos verdes penetrantes e veste uma roupa branca com detalhes dourados.

— Já passou da hora do meu almoço. Para acelerar as coisas... venham os três. — Sua voz grave e autoritária ressoa pela sala.

A pressão é quase insuportável, fazendo todos hesitarem. Todos, exceto Carol.

— Não acredito... — Ela olha para o homem com um sorriso genuíno. — Tio Lucios...

Arky fica atônito. Ele lembra de Lucios, uma figura constante nas brincadeiras de sua infância, quando ele e Carol eram mais novos. Lucios sempre estava por perto, mesmo quando eram crianças.

— É o senhor Lucios mesmo? — Arky pergunta, ainda surpreso.

Melia Barde, ao perceber quem está diante deles, fica espantado. As crianças, no entanto, parecem completamente indiferentes à aura esmagadora que emana da sala.

— Quem são esses moleques? — Melia Barde, sem saber como reagir, hesita. Mesmo assim, ele acaba entrando na sala, ainda que com medo.

O homem os encara, e a pressão na sala aumenta, fazendo Melia Barde quase sair correndo. No entanto, Arky e Carol continuam sorrindo enquanto olham para ele, despreocupados.

Enquanto isso, no hospital...

O hospital estava deserto. Poucos médicos circulavam pelo térreo, e ninguém parecia se importar com o bem-estar de Sawo. Para todos ali, ele era apenas um plebeu, insignificante aos olhos do sistema.

De repente, Sawo começa a convulsionar violentamente. Raios vermelhos e intensos emitem-se de seu corpo, iluminando o ambiente com uma força avassaladora. Sua respiração, que ele havia perdido há meses, retorna de forma abrupta, como se o próprio ar tivesse se revoltado em sua busca por ele.

A aura ao redor do menino cresce de maneira incompreensível. Os móveis do quarto começam a tremer e se deslocar, como se fossem meras peças de papel. O estado do quarto é deplorável, negligenciado pelos médicos que, sem a mínima consideração, aguardavam a morte de Sawo, prontos para descartar seu corpo como lixo quando o inevitável acontecesse.

Por alguns segundos, a sala é dominada pelo caos de energia descontrolada. Então, em meio ao silêncio quebrado pela turbulência, Sawo abre os olhos.

Continua...