No esconderijo improvisado onde Natasha levava os poucos que ela confiava (e até esses, com um pé atrás), João estava quieto. Observava. Como sempre.
— Você não dorme? — ela perguntou, sentando-se no banco oposto.
— Dormir é dar chance pro inimigo sonhar comigo. Prefiro que eles tenham pesadelos acordados.
Ela riu, de leve. Foi a primeira vez que Natasha Bennett mostrou qualquer sinal de humanidade. Mas durou pouco.
— Vamos direto ao ponto — disse ela, jogando uma ficha metálica sobre a mesa. — Isso aqui contém informações do Projeto Análise Total. Uma cópia. As originais estão em mãos da CLAUSTRO. Você é o último resultado vivo… e o mais instável.
João pegou a ficha. Seu dedo encostou no metal e, por um segundo, ele viu imagens: laboratórios, crianças presas em cápsulas, médicos sorrindo enquanto desligavam as máquinas… e uma única fuga.
A dele.
— Isso é real.
— É. E você tem apenas 12 dias antes da CLAUSTRO ativar o protocolo de eliminação total.
João levantou os olhos pra ela.
— Doze dias pra entender quem eu sou... ou morrer tentando?
— Doze dias pra virar a arma que eles têm medo que você seja.
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No pátio do galpão, Natasha o levava a sério.
Treino físico. Combate corpo a corpo. Técnicas de evasão e foco mental.
Mas o que ela não esperava… era o quão rápido ele aprendia.
— Você não é normal — murmurou ela, após ser derrubada pela terceira vez.
— Nunca fui. Só fingia ser.
— E por que me obedece? — ela perguntou, de repente, com a respiração ofegante.
João se aproximou, ficando a poucos centímetros dela.
— Porque apesar de tudo… você não mente pra mim. E porque você me olha como ninguém mais olha.
Ela engoliu em seco. O toque dele era firme, mas o olhar era fogo puro.
Mas antes que o clima virasse outra coisa, o alarme soou.
"Alvo detectado. CLAUSTRO enviou unidade interceptadora para o bairro industrial. Três minutos até contato."
João pegou a jaqueta e a arma em silêncio.
— Vamos resolver isso. Depois… a gente decide se briga ou se beija.
Natasha sorriu de lado.
— Tá começando a me dar trabalho, João Smith.
Ele riu de volta.
— Eu sou trabalho, Bennett.