CAPÍTULO 5 – Acertos e Armadilhas

No esconderijo improvisado onde Natasha levava os poucos que ela confiava (e até esses, com um pé atrás), João estava quieto. Observava. Como sempre.

— Você não dorme? — ela perguntou, sentando-se no banco oposto.

— Dormir é dar chance pro inimigo sonhar comigo. Prefiro que eles tenham pesadelos acordados.

Ela riu, de leve. Foi a primeira vez que Natasha Bennett mostrou qualquer sinal de humanidade. Mas durou pouco.

— Vamos direto ao ponto — disse ela, jogando uma ficha metálica sobre a mesa. — Isso aqui contém informações do Projeto Análise Total. Uma cópia. As originais estão em mãos da CLAUSTRO. Você é o último resultado vivo… e o mais instável.

João pegou a ficha. Seu dedo encostou no metal e, por um segundo, ele viu imagens: laboratórios, crianças presas em cápsulas, médicos sorrindo enquanto desligavam as máquinas… e uma única fuga.

A dele.

— Isso é real.

— É. E você tem apenas 12 dias antes da CLAUSTRO ativar o protocolo de eliminação total.

João levantou os olhos pra ela.

— Doze dias pra entender quem eu sou... ou morrer tentando?

— Doze dias pra virar a arma que eles têm medo que você seja.

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No pátio do galpão, Natasha o levava a sério.

Treino físico. Combate corpo a corpo. Técnicas de evasão e foco mental.

Mas o que ela não esperava… era o quão rápido ele aprendia.

— Você não é normal — murmurou ela, após ser derrubada pela terceira vez.

— Nunca fui. Só fingia ser.

— E por que me obedece? — ela perguntou, de repente, com a respiração ofegante.

João se aproximou, ficando a poucos centímetros dela.

— Porque apesar de tudo… você não mente pra mim. E porque você me olha como ninguém mais olha.

Ela engoliu em seco. O toque dele era firme, mas o olhar era fogo puro.

Mas antes que o clima virasse outra coisa, o alarme soou.

"Alvo detectado. CLAUSTRO enviou unidade interceptadora para o bairro industrial. Três minutos até contato."

João pegou a jaqueta e a arma em silêncio.

— Vamos resolver isso. Depois… a gente decide se briga ou se beija.

Natasha sorriu de lado.

— Tá começando a me dar trabalho, João Smith.

Ele riu de volta.

— Eu sou trabalho, Bennett.