CAPÍTULO 4 – A Mulher de Olhos Frios

João chegou em casa com a adrenalina ainda correndo nas veias. Colocou a arma confiscada embaixo da pia, junto com outras coisas que não queria lembrar que já teve que usar.

Mas não teve tempo pra respirar.

Três batidas na porta. Rápidas. Precisavam de resposta.

João pegou o canivete escondido na manga da jaqueta, foi até a porta e abriu com cuidado.

Ela estava ali.

Cabelos escuros presos num coque firme. Jaqueta preta, botas reforçadas, postura de quem não pedia licença pra entrar.

E os olhos… frios, calculistas, como se já tivessem matado e chorado por isso depois.

— João Smith? — disse ela, olhando diretamente nos olhos dele.

— Depende… quem pergunta?

— Natasha Bennett. Eu trabalho com... respostas. E você tem muitas perguntas.

João riu de canto.

— Trabalho com perguntas também. Tipo: quem mandou você aqui? E por que eu não deveria te deixar sangrando nesse corredor agora?

Ela não se moveu. Nem um músculo.

— Porque se tentar, vai estar morto antes de pensar no segundo movimento.

Silêncio. Os dois se encaravam como predadores na beira de um abismo. Um testando o outro. Um estudando o outro.

— Você está sendo caçado, João — disse ela. — E não por qualquer um. A CLAUSTRO quer te apagar do mapa. E se eu não estivesse aqui primeiro... você já estaria no chão.

— Por que me ajudar?

— Porque você é a única coisa que eles não conseguem prever.

Ela entrou, sem ser convidada. Passou os olhos pelo lugar: humilde, mas organizado. Simples… demais.

— Você disfarça bem. Mas tem algo nos seus olhos que me diz que você já matou alguém.

— E os seus me dizem que você gostou quando fez.

Natasha parou. Aquilo a pegou. Ele não era como os outros. Ele via demais.

— Tenho uma proposta.

— Fala.

— Você me ajuda a derrubar a CLAUSTRO. E eu te ajudo a descobrir quem você é… e por que você é o único erro de um sistema que não erra.

João ficou em silêncio. Depois andou até o fundo do quarto, puxou uma caixa trancada com senha. Abriu.

Dentro, havia fotos queimadas, um colar antigo, um símbolo com a mesma serpente da CLAUSTRO… e uma folha com o nome "Projeto Análise Total" rabiscado no topo.

Ele virou pra Natasha:

— Já tô nessa guerra, senhorita Bennett.

— Então veste o colete… e se prepara.

Porque o que vinha a seguir, iria abalar o mundo inteiro.