CAPÍTULO 3 – Reflexos de Caçador

João terminou o turno sem desviar a atenção. Fingiu normalidade, mas cada passo era calculado. Cada gesto, cada movimento em volta era analisado com precisão cirúrgica.

Ao sair do armazém, notou uma SUV preta estacionada a meia quadra.

Nova demais pro bairro. Escura demais pra coincidência.

Ele virou à direita, em direção ao beco, como sempre fazia. Mas dessa vez… parou.

Fechou os olhos. Respirou fundo.

Uma brisa leve bateu no rosto. E junto com ela, vieram os dados.

Dois homens dentro do carro. Um terceiro escondido acima da padaria. O quarto... estava se aproximando por trás.

Sem abrir os olhos, João sorriu.

— Quatro é pouco.

O passo do homem atrás se acelerou. João girou num movimento só, pegando o braço do sujeito e torcendo até ouvir um estalo.

— AAAAAH!

— Vocês deviam ter estudado mais antes de vir atrás de mim — disse ele, enquanto tirava a arma do invasor e apontava direto pra testa.

O rádio no bolso do cara chiou.

“Equipe Beta, status? Câmbio.”

“Ele neutralizou o Z3. Repito: ele... soube que estávamos aqui.”

João se agachou e falou no rádio com frieza:

— Se isso é só uma avaliação... vocês vão precisar de uma equipe Alfa, Bravo e Charlie.

Jogou o rádio longe, entrou numa rua lateral e desapareceu no meio das sombras do bairro como se fosse parte do cenário.

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Horas depois, já em casa, ele examinava a arma. Era moderna, com um pequeno símbolo entalhado no cabo: uma serpente mordendo o próprio rabo — o símbolo da CLAUSTRO.

Na mesa, o celular vibrou.

Número desconhecido.

Atendeu sem falar nada.

— João Smith... você passou no teste.

— Eu não fiz teste nenhum. Eu só sobrevivi.

— E é por isso que queremos conversar.

A voz era feminina. Fria, precisa, sedutora.

Ele não sabia ainda, mas aquela era Natasha Bennett.

E aquela ligação… era o início do caos.