João terminou o turno sem desviar a atenção. Fingiu normalidade, mas cada passo era calculado. Cada gesto, cada movimento em volta era analisado com precisão cirúrgica.
Ao sair do armazém, notou uma SUV preta estacionada a meia quadra.
Nova demais pro bairro. Escura demais pra coincidência.
Ele virou à direita, em direção ao beco, como sempre fazia. Mas dessa vez… parou.
Fechou os olhos. Respirou fundo.
Uma brisa leve bateu no rosto. E junto com ela, vieram os dados.
Dois homens dentro do carro. Um terceiro escondido acima da padaria. O quarto... estava se aproximando por trás.
Sem abrir os olhos, João sorriu.
— Quatro é pouco.
O passo do homem atrás se acelerou. João girou num movimento só, pegando o braço do sujeito e torcendo até ouvir um estalo.
— AAAAAH!
— Vocês deviam ter estudado mais antes de vir atrás de mim — disse ele, enquanto tirava a arma do invasor e apontava direto pra testa.
O rádio no bolso do cara chiou.
“Equipe Beta, status? Câmbio.”
“Ele neutralizou o Z3. Repito: ele... soube que estávamos aqui.”
João se agachou e falou no rádio com frieza:
— Se isso é só uma avaliação... vocês vão precisar de uma equipe Alfa, Bravo e Charlie.
Jogou o rádio longe, entrou numa rua lateral e desapareceu no meio das sombras do bairro como se fosse parte do cenário.
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Horas depois, já em casa, ele examinava a arma. Era moderna, com um pequeno símbolo entalhado no cabo: uma serpente mordendo o próprio rabo — o símbolo da CLAUSTRO.
Na mesa, o celular vibrou.
Número desconhecido.
Atendeu sem falar nada.
— João Smith... você passou no teste.
— Eu não fiz teste nenhum. Eu só sobrevivi.
— E é por isso que queremos conversar.
A voz era feminina. Fria, precisa, sedutora.
Ele não sabia ainda, mas aquela era Natasha Bennett.
E aquela ligação… era o início do caos.