CAPÍTULO 2 – O Cheiro do Medo

Na manhã seguinte, o céu estava nublado, mas a mente de João estava clara como nunca.

Ele não era mais um cara comum indo trabalhar.

Ele era um homem em observação — e, pior, um homem que estava começando a ver o jogo por trás do jogo.

Pegou o mesmo ônibus, mesmo banco, mas dessa vez… prestou atenção no reflexo da janela.

Lá estavam eles de novo. Um homem de boné que não olhava para ninguém, mas cujos olhos se mexiam no reflexo.

Uma mulher de cabelo preso com ar de quem lia um livro… só que o livro estava de cabeça pra baixo.

— Estão testando meus sentidos, — pensou. — Querem saber até onde eu percebo.

E mal sabiam eles… João sentia o cheiro do medo.

---

Chegando no armazém, tudo estava silencioso demais.

O supervisor, aquele careca barrigudo que sempre gritava às 7h, não estava lá.

No lugar dele, um novo "chefe" apareceu. Paletó justo, olhar vazio, sorriso falso.

— Bom dia, João.

— …A gente se conhece? — João perguntou, na lata.

— Não oficialmente. Mas sabemos muito sobre você.

João travou. Não externou nada. Mas por dentro, a mente dele corria a mil.

Análise Total ativa.

Batimentos cardíacos do homem: 122. Nervosismo escondido.

Mão direita enfaixada: lesão recente, provavelmente de combate.

Perfume: militar, fragrância padrão da antiga segurança internacional.

Conclusão: o homem não era um chefe. Era um avaliador.

João respondeu com um sorriso sarcástico.

— Só não esquece que quem sabe demais… acaba esquecendo o mais importante.