CAPÍTULO 9 – A Máquina com Olhos de Fúria

As palavras de Elías ecoavam dentro da cabeça de João como tiros em eco.

> “Eles já ativaram o Projeto Zero-Mente. Em Natasha Bennett.”

Ele se levantou de súbito.

— Isso é mentira. Ela nunca se deixaria controlar.

— Não se trata de escolha. — Elías respondeu, sério. — O protocolo Zero-Mente não convence. Ele substitui.

No trem de volta, João via o reflexo do próprio rosto na janela e não se reconhecia mais.

A mulher que havia tocado nele como ninguém… agora era um fantoche sem alma?

Não. Não podia ser.

Chegando a Lisboa, tudo já estava diferente.

Luzes apagadas nos bairros onde a CLAUSTRO passou. Câmeras queimadas. Celulares sem sinal.

Eles estavam preparando o campo de guerra.

E ela... já o esperava.

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Local: Ponto de Encontro antigo.

O galpão onde João e Natasha treinaram dias antes. Estava vazio. Frio. E então… ela apareceu.

Casaco escuro. Cabelo preso com perfeição cirúrgica. Olhos… vazios.

— Natasha... — ele disse, cauteloso.

Ela apenas sacou uma arma e mirou na cabeça dele.

— João Smith. Alvo prioritário. Ordem: eliminação imediata.

Ele deu um passo.

— Não é você falando.

— Protocolo ativado. Emoções desativadas. Falha não é opção.

Ela atirou.

João se jogou pro lado, o tiro rasgando a parede atrás dele. Ele correu, se escondeu, mas não conseguiu atirar de volta.

— Você me beijou. Você me salvou. Você chorou comigo, caralho! — ele gritou do outro lado da estrutura.

Nada.

Só passos firmes.

Então ele lembrou.

Durante os treinos, Natasha tinha um ponto cego do lado esquerdo — uma lesão antiga na costela. Ele correu, deu a volta no galpão, se jogou por trás dela e a imobilizou.

— NÃO VOU TE MACHUCAR, PORRA! MAS VOCÊ TÁ AQUI! VOCÊ AINDA TÁ AQUI DENTRO!

Ela lutou. Tentou morder, socar, chutar. Mas ele não largou.

Até que, de repente… ela parou.

— João…?

Foi fraco. Um sussurro. Mas foi ela.

Ele segurou o rosto dela com as duas mãos.

— Volta. Você me prometeu que não ia me deixar sozinho nisso.

E então… ela chorou.

Uma única lágrima caiu.

E com ela, os olhos mudaram.

— João… o que… o que fizeram comigo?

Ele a abraçou.

— Quase te perdi, Bennett. Quase me perdi junto.

Longe dali, um homem observava tudo pelas câmeras.

— O elo emocional dele… ainda é a fraqueza.

Outro respondeu:

— Ou a arma mais perigosa.