Capítulo 4

Do Céu ao Inferno

No instante em que ambos pisaram na sala, uma sensação percorreu por todo o seus corpos, um desespero, tristeza, raiva e decepção na sua forma mais pura.

Quando seus olhos se voltaram para o lado, ela viu Leon — seus olhos sangrando, sangue escorrendo por sua boca — e, antes que ela pudesse intervir, o corpo dele foi arremessado com força contra a parede. O impacto foi devastador, e a parede se desfez ao redor dele, como se não fosse nada mais que papel.

Ela respirou fundo, forçando a calma a prevalecer, e olhou para frente, onde uma figura sombria a observava.

Um homem alto, de postura rígida, estava diante dela. Seu olhar era triste, porém penetrante, cheio de uma raiva que parecia vir de tempos imemoriais. Seus cabelos, longos e escuros, caiam sobre os ombros, se movendo lentamente com o ar pesado da sala. Ele usava uma armadura de metal escuro, desgastada pelo tempo, suas superfícies arranhadas e marcadas de batalhas antigas. Mas o que realmente chamava atenção era o cristal pulsante, visível no centro do peito do homem, brilhando através das fendas da armadura, como um coração vivo.

Eleanor permaneceu imóvel, seus sentidos voltaram rapidamente, pronta para qualquer movimento do misterioso adversário.

"Ele é forte, talvez do mesmo nível que eu, talvez não. Ele é do mesmo nível. Concentre-se, Eleanor, concentre-se."

Antes que as palavras escapassem de seus lábios, a criatura a interrompeu, sua voz rasgando o ar com uma autoridade esmagadora.

— FAÇA SILÊNCIO, HUMANA INFERIOR! — O grito cortou o espaço com uma força bruta.

Sem hesitar, a entidade se lançou para frente, em um movimento rápido. A armadura escura de metal rangia, sentindo o peso de cada passo, e o cristal pulsante em seu peito emitia uma luz fria, como um coração sombrio, batendo em intensidade.

Eleanor, surpreendida pela velocidade do ataque. Seu instinto a fez se ajeitar rapidamente.

Respirando fundo, seus olhos brilhando com um azul gelado de poder. O ataque era iminente, mas ela não recuaria.

O chão tremeu.

Rachaduras se espalharam sob os pés de Eleanor, e uma pressão invisível tomou o ar, o mundo hesitou em respirar.

— Chega. — disse ela, a voz baixa.

Um brilho azul começou a emanar de seu peito, crescendo em intensidade. Fragmentos de luz se desprendiam de sua pele como faíscas estelares. O Espírito dentro dela rugiu em uníssono com o universo. Estava despertando — não como uma arma, mas como um conceito vivo.

A criatura avançou para atacar, aproveitando a brecha criada.

O nome ecoou nas profundezas do espaço e do tempo.

Symphonia.

O próprio tecido da realidade pareceu entoar aquele nome.

No instante seguinte, uma energia avassaladora explodiu de seu corpo, lançando o Homem para longe. O Espírito se condensou em sua forma mais pura, e então, o mundo ao redor foi engolido por um brilho azul ofuscante.

Quando a luz se dissipou, Eleanor estava diferente.

Um uniforme novo cobria seu corpo — escuro como o vácuo, adornado por linhas elegantes que lembravam circuitos celestiais, moldados com um brilho metálico. Sobre os ombros, estendia-se uma capa longa, que deslizava suavemente até os calcanhares. Mas não era feita de tecido comum. Sua superfície pulsava como um espelho do cosmos — estrelas cintilavam e nebulosas se moviam com suavidade dentro do tecido.

A capa não possuía cor fixa. Ao mesmo tempo que parecia um azul profundo, tambem parecia negra como um eclipse, refletindo tons sutis de galáxias distantes. Não era algo deste mundo. Era um abismo em movimento, um fragmento da vastidão — um lembrete de que Eleanor agora caminhava entre mortais com o fôlego do universo às costas.

Eleanor ergueu o olhar, e seus olhos brilharam como estrelas distantes.

— Agora... vamos ver quem realmente é inferior.

— EU ME CHAMO NIMROD, HUMANA! E EU TE DESAFIO PARA UMA LUTA! — O grito de Nimrod reverberou pelo ar, sua voz carregada novamente de autoridade.

O chão tremeu violentamente sob seus pés. Eleanor teve apenas frações de segundo para reagir.

Em um reflexo quase sobrenatural, seu corpo se moveu por puro instinto. Ela saltou para o lado, sentindo a pressão do ar sendo violentamente deslocada quando o punho de Nimrod passou raspando o espaço onde seu peito esteve momentos atrás.

O impacto foi colossal. O soco de Nimrod atingiu o solo com uma força devastadora, e o chão simplesmente não pôde suportar a violência do golpe. Com um estrondo, o terreno quebrou sob o impacto, rachando em um raio de metros, criando uma onda de destruição que parecia engolir tudo ao redor.

Eleanor, já no ar, mal teve tempo de pensar. O campo ao seu redor estava se fragmentando com a brutalidade do golpe, e ela sabia que não poderia se dar ao luxo de ser pega desprevenida. O confronto tinha acabado de começar.

"Ele é rápido demais para o tamanho que tem. E a força dele... um golpe direto e poderoso pode me matar."— Pensamentos rápidos atravessaram a mente de Eleanor enquanto ela deslizou pelo chão destruído.

Seus olhos brilharam, iluminados pela habilidade dos Manuscritos do Futuro, revelando-lhe uma chance de vislumbre das ações de Nimrod antes mesmo que ele as realizasse, mas ela precisava de tempo.

"Eleanor, não se desconcentre, apenas defenda." A voz de Galileu veio em sua mente dela, clara e firme.

Mas Nimrod não lhe deu tempo para hesitar. Antes que pudesse processar as palavras, ele desapareceu em um borrão negro.

Eleanor reagiu instintivamente. Girou no ar, seus braços levantados em defesa. O punho de Nimrod colidiu contra sua guarda com uma força que ecoou em seus ossos. A onda de choque resultante atravessou o campo de batalha, fazendo a arena tremer.

Apesar de absorver parcialmente o impacto, Eleanor foi arremessada para trás por uma força avassaladora. Seus pés riscaram o chão, deixando marcas profundas na superfície rachada. O golpe havia sido tão poderoso que ela mal conseguiu manter os pés no chão, mas sua mente, guiada por Galileu e sua experiência, se concentrou na única coisa que importava agora: sobreviver e contra-atacar.

"Certo, se ele quer lutar assim… então que seja."

Com uma determinação renovada, Eleanor saltou para a frente, antecipando o próximo movimento de Nimrod. Ela girou novamente no ar, seus músculos se esticando e se preparando para o impacto. Com precisão, ela desferiu um chute direto visando o cristal em seu peito.

Nimrod cruzou os braços, bloqueando o ataque com facilidade. Nimrod não foi derrubado. No entanto, Eleanor usou a força do impacto a seu favor. Com um impulso preciso, ela se projetou para trás, aterrissando suavemente e se preparando para a próxima investida.

— Constelação Arquimediana: Leão e Órion

!

A energia ao seu redor explodiu, e a imagem da constelação surgiu atrás dela. O brilho dourado de Leão e Órion a envolveu, fazendo seu poder disparar. Sua velocidade aumentou, e foi Eleanor quem se lançou primeiro desta vez.

Ela avançou como uma flecha, seus punhos brilhando com espirito concentrado. Um ataque após o outro foi desferido em uma sequência rápida, criando ondas de choque. Nimrod tentou bloquear dois dos golpes, desviando de um terceiro. No entanto, antes que ele pudesse contra-atacar, Eleanor agiu.

Ele tentou um soco direto em seu rosto, mas Eleanor abaixou-se no último segundo, sentindo o vento do golpe passar acima de sua cabeça. Ela se moveu rapidamente, mirando nas costelas de Nimrod com um soco certeiro.

O impacto foi forte o suficiente para fazer o corpo de Nimrod inclinar-se levemente para o lado, mas ele rugiu em fúria, seu ódio transbordou. Antes que Eleanor pudesse recuar, Nimrod agarrou sua perna com força.

— MISERÁVEL!

Nimrod girou o corpo e lançou Eleanor ao chão, como se ela fosse nada mais do que um brinquedo. O impacto foi devastador, rachando mais ainda o solo sob ela.

No entanto, antes que Nimrod pudesse dar o golpe final, algo inesperado aconteceu. Eleanor desapareceu.

Onde ela estava momentos antes, restaram apenas fragmentos de luz que se dissiparam rapidamente.

— Constelação Arquimediana: Andrômeda.

A voz de Eleanor ecoou nas sombras. Nimrod se virou, a tempo de perceber que ela havia se materializado do nada.

Ela se impulsionou contra ele em velocidade. Nimrod tentou reagir, seu punho disparando em direção a ela, mas Eleanor já estava à sua frente. Ela esquivou-se do soco.

Antes que ele pudesse se reajustar, ela desferiu um golpe direto, o ataque atingindo o cristal em seu peito. O choque de energias vibravam o ar.

Nimrod ficou parado, sua expressão de raiva transformada em um semblante de surpresa. O golpe não o derrubou, mas Eleanor sabia que havia causado um dano significativo. Ele sentiu o cristal pulsar de forma errática.

Eleanor pousou com um deslize, respirando pesadamente.

"É possível quebrá-lo. Preciso continuar pressionando."

Mas Nimrod gritou em fúria, e algo mudou. O ar ao redor dele pareceu tremer, e então…

— A gravidade será apagada neste campo de batalha!

O mundo inteiro virou um inferno sem peso. Eleanor sentiu seu corpo sendo arrancado do chão, perdendo completamente o equilíbrio. Ela girou no ar, tentando se estabilizar, mas Nimrod se moveu primeiro.

Sem gravidade para segurá-lo no chão, ele se moveu como um projétil, atravessando o espaço em um instante e acertando um golpe no abdômen dela.

O impacto foi catastrófico. Eleanor sentiu o ar escapar de seus pulmões quando foi arremessada através da sala. Seu corpo atingiu uma coluna de pedra, quebrando-a em pedaços.

Ela caiu no chão, cuspindo sangue, mas sem tempo para se recuperar. Nimrod já estava sobre ela novamente, o punho erguido para esmagá-la de uma vez.

Mas então Eleanor sorriu.

— Você ja desativou o seu poder né?

Com essas palavras, Eleanor ergueu a mão com uma força renovada. No momento em que a constelação de Ursa Maior apareceu atrás dela, o campo de batalha se transformou. O brilho da constelação iluminou o ar.

— Constelação Arquimediana: Ursa Maior.

O impacto da mudança foi imediato. A gravidade, que até então parecia estar em suspensa, voltou — mas não da maneira que Nimrod imaginava. Em um instante, sua força foi amplificada ao ponto de ser esmagadora. O corpo de Nimrod foi puxado para baixo em violência, forçado a se curvar sob uma gravidade triplicada. Ele tentou resistir, mas o peso era bem maior do que ele suportava.

Nimrod foi colidido contra o chão.

Eleanor se levantou com dificuldade, seu corpo ainda sentindo os efeitos da luta, mas sua vontade estava intacta. Ela limpou o sangue do canto da boca com a mão, seus olhos ardendo com uma determinação feroz. A dor não a dominaria. Ela sabia que o momento de virar a maré havia chegado.

Ela olhou para Nimrod, agora preso sob a gravidade pesada, sua expressão impassível, mas sua aura se tornando mais intensa.

— Até caçadores como eu podem lutar.

Nimrod, ordenou em fúria:

— A gravidade será reduzida neste campo de batalha!

Seu poder invadiu o ambiente, tentando inverter a pressão esmagadora que Eleanor havia imposto sobre o terreno. O peso da gravidade em torno deles diminuiu rapidamente, tornando o mundo mais leve, como se estivessem flutuando no vácuo. Mas as duas forças não se alinharam. Em vez disso, entraram em conflito, criando uma tensão no ar.

A gravidade, que antes estava três vezes mais pesada sob o comando de Eleanor, foi instantaneamente balanceada pela leveza que Nimrod tentou instaurar. O campo de batalha agora estava em um estado de frágil equilíbrio. Um erro, uma hesitação de qualquer um dos dois, faria com que o outro tivesse a vantagem.

Eleanor, sentindo a pressão em seu corpo intensificar, sabia que não poderia ceder. Se fizesse isso, Nimrod tomaria a vantagem, e a gravidade retornaria a um estado de pura nulidade. Ela não tinha tempo para esperar.

Ela respirou fundo, o poder de Galileu fluindo através dela, e invocou o poder da Constelação Arquimediana: Escorpião. Seus punhos começaram a brilhar, carregados de eletricidade.

Com um movimento rápido e imprevisível, Eleanor lançou-se contra Nimrod, seus punhos se chocando com a força de um trovão, causando uma onda de choque. O impacto da colisão foi devastador, mas nem um nem outro cederam, e a luta continuou com uma troca incessante de socos, cada golpe enviado causando uma nova explosão de energia.

Mas então, ambos recuaram, distantes um do outro. O campo de batalha parecia um campo de tensão, onde cada respiração contava. Ambos estavam esperando, calculando os próximos movimentos do outro, prontos para atacar ou defender.

Foi Nimrod quem quebrou o silêncio da espera. Seus punhos se ergueram como montanhas.

— Você morrerá aqui, humana! PILARES DA VONTADE PERDIDA!

Cinco pilares colossais desceram do abismo, com símbolos antigos gravados em sua superfície, irradiando luz. Cada um representava um princípio primordial que Nimrod agora controlava. As palavras gravadas neles pulsavam, seus significados além de simples símbolos, mas verdadeiros decretos.

Com um rugido, os pilares se fixaram ao redor do campo de batalha.

O primeiro pilar brilhou com uma luz dourada, e o símbolo que reluzia sobre ele era claro como o sol: Ambição.

O segundo pilar irradiava uma energia avermelhada, representando o símbolo imponente de um leão. A palavra que surgiu ali foi a mais poderosa de todas: Orgulho.

O terceiro pilar emanava uma luz prateada e pura, com o símbolo de uma folha de papel sendo lida. Sua palavra, clara como o aço, foi: Conhecimento.

O quarto pilar fez a sala tremer com uma onda de energia negra e densa, como uma tempestade prestes a se abater. A palavra que apareceu foi Poder.

E o último, o quinto pilar, brilhou com uma energia trágica, escura e angustiante, com símbolos enredados em fios de dor. Sua palavra final foi Sacrifício.

Quando as palavras começaram a brilhar, uma onda de poder assolou o campo. Eleanor sentiu sua mente ser atingida por uma onda de peso impossível de descrever, e uma sensação de pressão crescente a envolveu. Uma sensação de vazio, como se algo a tivesse arrancado de seu próprio ser.

— Sacrifício... — A voz do pilar de Sacrifício ressoou em sua mente, transformando-se em uma ordem.

.

Eleanor sentiu sua visão distorcer. Seus sentidos começaram a se turvar, e uma sensação de impotência tomou conta de seu corpo. Seu poder Manuscritos do Futuro, foi subitamente suprimido. Ela tentou usar o poder, mas não conseguia. As Manuscritos do Futuro, seu dom de poder calcular o futuro, estavam bloqueadas. Algo na essência daquela palavra a havia limitado de sua percepção.

"Impossível... o que aconteceu? " — A mente de Eleanor girou em angústia.

Ela olhou para Nimrod, que observava sua luta interna com um sorriso de desdém. Ele sabia o que estava acontecendo com ela.

— Agora, você está completamente à minha mercê, — ele declarou, sua voz repleta de prazer. — Nada mais pode te salvar.

Eleanor fechou os olhos por um momento, respirando profundamente, tentando manter a calma.

Nimrod avançou, seus punhos esmagando o ar à sua frente. Ele era como uma montanha desmoronando. Com um movimento ágil, ela se desviou, seus olhos focados em cada movimento do inimigo, o som de sua respiração ofegante se misturando ao barulho do combate. Desferindo um chute no braço de Nimrod, que virou em velocidade, acertando um golpe certeiro contra seu peito. Eleanor sentiu a dor cortar como facas.

Usando a dor como combustível, ela lançou seu corpo para trás, evitando o próximo golpe e saltando para um canto da sala. Nimrod não deu tempo para respirar, disparando em direção a ela. Mas Eleanor já estava pronta. Ela ergueu os braços, e quando o soco de Nimrod veio em sua direção, ela o bloqueou com as palmas das mãos. Usou seu espirito para forçar Nimrod a perder parte de sua estabilidade, em um movimento, ela o empurrou para trás, fazendo-o tropeçar.

Nimrod se aproximava novamente. Ela respirou fundo, os músculos tensionados, prontos para a próxima ofensiva. Mas dessa vez, ela não iria apenas lutar com os punhos.

"Dialeto da Matéria."

Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o campo de batalha ao seu redor. Cada fragmento de pedra, cada fio de energia no ar, se tornaram palpáveis para ela. As moléculas, os átomos... tudo se tornou uma linguagem que ela compreendia com precisão. O mundo material era uma tela, e ela estava prestes a pintar a sua vitória.

Nimrod avançou, como uma tempestade. Ele erguia as mãos para lançar um feixe de energia negra, mas antes que ele pudesse reagir, Eleanor estendeu a mão e sussurrou em sua mente, conectando-se com os átomos ao seu redor. As partículas da atmosfera começaram a responder à sua vontade, e ela falou o "código" silencioso que só ela podia compreender.

"Compreensão da matéria, transição."

Com um movimento sutil, o ar ao redor de Nimrod começou a se deformar, suas partículas se rearranjando à vontade de Eleanor. Ela se concentrou na estrutura da rocha sob seus pés, sentindo o solo ao redor deles reagir. No momento seguinte, a pedra sob os pés de Nimrod começou a se tornar pegajosa, quase como um líquido espesso, dificultando seus movimentos. As moléculas de rocha se entrelaçaram de forma tão densa que ele teve dificuldades para dar passos, seus pés ficando presos no material que agora se tornava uma prisão.

Nimrod gritou, tentando sair dali, mas a força física dele não conseguia quebrar a manipulação precisa de Eleanor.

Eleanor se moveu, seus pés quase não tocando o chão, como se estivesse flutuando. Sem hesitar, ela foi direta ao ataque. Com um simples toque, ela canalizou sua energia para a rocha mais próxima, fazendo-a se moldar diante de seus olhos, transformando-se em um pilar robusto e ameaçador. Num movimento preciso e calculado, ela lançou o pilar em direção a Nimrod, que foi atingido com força brutal no rosto.

O impacto fez o pilar estilhaçar em pedaços, a poeira e os destroços flutuando no ar, enquanto Nimrod foi empurrado para trás, cuspindo sangue, que escorria de sua boca como uma marca do golpe.

Ele se recompôs.

— Impressionante... mas ainda não é o suficiente.

Eleanor sentiu sua energia vibrar, seu espírito se conectando com a essência das pedras ao seu redor. Com um elevar de espirito preciso, ela fez as pedras flutuarem e se remodelarem, transformando-as em lâminas afiadas de pedra. Com um movimento ágil, ela as disparou em direção a Nimrod.

Nimrod, com um sorriso arrogante, observou as lâminas se aproximando a grande velocidade. Com um foco letal, e ele avançou, movendo-se com rapidez para desviar de cada lâmina que vinha em sua direção.

Ele se movia com a graça de uma tempestade, desviando, e saltando, enquanto a chuva de lâminas passava sem tocá-lo. A cada movimento, Eleanor podia sentir a fúria crescente de Nimrod—ele não estava apenas se defendendo, mas caçando a oportunidade de contra-atacar.

Eleanor sabia que um ataque direto não seria suficiente. Mas isso não a faria desistir. Ela então elevou ainda mais seu espírito, seu poder se expandindo para além dos limites que já havia alcançado. Algo maior estava sendo forjado, algo que Nimrod não poderia simplesmente desviar.

Ela canalizou toda essa energia, condensando-a em uma forma poderosa e pura, que explodiu em direção a Nimrod com a velocidade de um meteoro. A energia era pura, cintilante, uma força que poderia destruir qualquer coisa em seu caminho. Mas Nimrod, não se deixou surpreender.

Com um gesto de suas mãos, ele ergueu uma barreira de energia negra, formando um escudo que absorveu a energia que vinha em sua direção. A explosão que se seguiu iluminou toda a arena, mas Nimrod, com um movimento, afastou a energia para o céu. Ele olhou para Eleanor, seus olhos brilhando com uma confiança quase arrogante.

— Parabéns, Nimrod, você venceu a luta. — A voz de Eleanor estava fria, mas havia algo nos olhos dela que não passava despercebido. Ela relaxou a postura, deixando a gravidade que ela havia manipulado por tanto tempo desaparecer. O campo ao redor deles voltou a um estado de peso nulo.

Nimrod sorriu, achando que a vitória estava ao seu alcance, mas ele não podia prever o que aconteceria a seguir. Ele sentiu a gravidade ao seu redor começar a se estabilizar, como se o peso do mundo estivesse retornando a ele. No entanto, algo estava errado. Algo não estava se comportando como ele esperava.

— EFEITO COPÉRNICO! — Eleanor gritou. Com um estalo de poder, Nimrod foi repentinamente puxado para o centro de um campo de gravidade totalmente novo, criado por Eleanor.

O centro de gravidade se formou, um ponto de atração que quebrava as leis da física, e Nimrod foi puxado, sem resistência, em direção à lâmina de pura energia que Eleanor havia formado acima. A lâmina, que antes era apenas uma projeção de poder, agora estava completamente materializada.

Nimrod tentou resistir, mas a força da gravidade criada por Eleanor o arrastou como uma marionete, tornando impossível para ele escapar. Seus olhos mostravam desespero enquanto ele era puxado em direção à lâmina. Ele tentou levantar as mãos, tentando reverter o movimento.

Mas não foi suficiente para bloquear a força da lâmina. Quando o ataque atingiu Nimrod, ele sentiu uma dor indescritível, como se parte da sua própria essência estivesse sendo quebrada.

Ele caiu no chão, o corpo parcialmente curvado, seus olhos se arregalando em uma mistura de surpresa e fúria. O cristal que antes era a fonte de seu poder começou a rachar, a energia divina que o sustentava ameaçando desintegrar-se.

Eleanor, com o olhar fixo, observou o que acontecia. Ela sabia que a luta não estava ganha ainda, mas agora, ela tinha Nimrod exatamente onde queria. O poder da gravidade e a lâmina haviam alterado o curso da batalha, e tudo o que restava era dar o golpe final.

Nimrod não demonstrava ser alguém que se entregaria facilmente.

Nimrod se ergueu lentamente, seus olhos exibiam um brilho profundo e enigmático. Seu corpo irradiava uma presença avassaladora, como se algo além do humano e do divino estivesse se manifestando ali. Então, com fúria, ele declarou:

— Veja minha perfeição, Apoteose de Nimrod!

No instante seguinte, uma esfera negra surgiu diante dele, densa, como se fosse feita da própria essência do vazio. O ar ao redor pareceu se dobrar e estremecer, e então a esfera começou a sugar tudo ao seu redor. O espaço-tempo se distorcia violentamente, criando fendas caóticas que consumiam fragmentos da Torre de Babel. O próprio chão se despedaçava e era engolido pelo limbo imensurável que se formava diante deles.

Eleanor sentiu seu corpo ser puxado pela força da esfera. Seu instinto gritou para que resistisse, e ela imediatamente ativou a Constelação Arquimediana: Ursa Maior, criando um peso gravitacional ao seu redor. Seu corpo desacelerou, seus pés arrastando no chão rachado, mas ela conseguiu se manter firme… por enquanto.

Foi então que algo gelado percorreu sua espinha.

Leon.

Ela virou a cabeça, os olhos varrendo o campo de batalha em busca dele.Não havia sinal algum dele.

— Leon! — Eleanor gritou, sua voz se perdendo no rugido do caos ao seu redor.

Nada. Nenhuma resposta. Nenhum vestígio.

Seu coração disparou, mas ela não podia se dar ao luxo de entrar em pânico agora. Seu olhar voltou para Nimrod e a esfera negra que crescia sem controle. Se aquele ataque se expandisse mais… não sobraria nada.

Eleanor cerrou os dentes e ergueu ambas as mãos, canalizando toda sua energia. Se Nimrod queria reescrever as regras da realidade, então ela faria o mesmo.

— EFEITO COPÉRNICO!

O espaço ao redor dela se dobrou, e um novo ponto gravitacional nasceu, rivalizando com a esfera de Nimrod. As forças opostas entraram em colisão.

Eleanor manteve as duas mãos à frente, forçando seu poder contra a esfera negra de Nimrod. O espaço ao seu redor tremia, rachaduras dimensionais surgiam e desapareciam em meio ao colapso da realidade. Seus pés afundavam no solo estilhaçado da torre, mas ela não cedia.

Eleanor fechou os olhos por um instante.

Um piscar. Uma respiração contida. Um

salto interno.

O som começou a se distorcer, a esticar... como uma fita sendo rebobinada. Os barulhos se tornaram ecos abafados, como se fossem engolidos por água. O calor do campo de batalha se dissipou, dando lugar a uma brisa leve e fresca.

Abriu os olhos.

Estava em uma sala ampla, banhada por

luz natural.

As paredes refletiam o brilho natural que entrava por uma fileira de janelas. Cortinas finas balançavam suavemente com a brisa.

A madeira do chão rangia de leve a cada passo, e o ar tinha o cheiro sutil de giz, couro antigo e livros abertos há pouco.

No centro da sala, uma mesa de trabalho ampla estava repleta de instrumentos estranhos: astrolábios, bússolas, engrenagens, cadernos espiralados com fórmulas escritas à mão. No canto, um globo celeste girava devagar.

Na parede principal, uma lousa escura se estendia de ponta a ponta. E diante dela, como sempre, estava Galileu.

O casaco cinza-pardo caía até os joelhos, as mangas arregaçadas. Ele rabiscava com concentração absoluta, o giz deslizando sem hesitação. Seus olhos se estreitavam enquanto murmurava:

— A aceleração não fecha com a curvatura... a gravidade lateral colapsaria. Talvez se inclinar o campo… mm...

Eleanor surgiu como se atravessasse um pensamento. Sem porta, sem ruído — apenas apareceu, como alguém que retorna a um lugar familiar. Seus olhos demoraram-se na sala: a luz, a vista, a precisão absoluta do caos ordenado de Galileu.

— Galileu?

Ele não respondeu de imediato. Finalizou uma equação, olhou para a janela por um breve segundo e então se virou. Uma mente que já tinha resolvido o problema antes mesmo da pergunta ser feita.

— A única solução — disse, com sua calma quase entediada — é usar aquilo.

Eleanor não precisou perguntar o que era “aquilo”. Ela sabia. Significava ultrapassar os próprios limites. Queimar etapas.

— E qual a nossa chance?

Galileu virou-se de volta para a lousa. Pegou um pedaço de giz e, com um traço firme, escreveu:

1.0

= 100%

— Você está perguntando como se houvesse outra resposta — disse ele, com um meio sorriso. — Nós já vencemos. Só falta você aceitar.

Ela riu.

— Você é péssimo em dar confiança, sabia?

— Eu dou fatos. Emoção é sua parte no contrato.

Ela deu alguns passos até a janela mais próxima, onde via a grandeza da cidade Padova. A luz em seu rosto fazia seus olhos brilharem.

— Então vamos acabar com isso.

Galileu apenas assentiu. Seus olhos voltaram à lousa. O giz tocou a superfície mais uma vez, mas agora escrevia outra coisa — algo novo.

— Finalmente.

Seus olhos se fixaram em Nimrod, e ela gritou com toda a força:

— ATAQUE COM TUDO, SEU MONSTRO!

A provocação surtiu efeito imediato. Nimrod rugiu em fúria, seu corpo exalando poder. Sua mão se ergueu, envolvendo-se em trevas, e então desceu um soco com força total sobre a esfera negra, arremessando-a diretamente contra Eleanor. O espaço ao redor se despedaçou como vidro.

Mas Eleanor já estava pronta.

— EFEITO COPÉRNICO… CANCELAR!

A gravidade ao redor dela colapsou, criando uma distorção repentina. O ar vibrou, e em um instante, toda sua energia convergiu para um único ponto. Seu corpo brilhou como uma estrela.

E então, ela elevou todo o seu espírito ao máximo, canalizando cada fragmento de sua existência para seu ataque final.

A esfera negra se aproximava. O ar crepitava com uma força impossível de conter. Mas Eleanor não recuou.

Ela abriu as mãos, os olhos brilhando com uma intensidade absoluta.

Evolução da Verdade.

A energia ao seu redor mudou instantaneamente. O próprio conceito de destruição estava sendo questionado, reescrito, evoluído.

O poder definitivo do Eco de Eleanor, Galileu Galilei, não era apenas um ataque ou defesa—era a capacidade de reprogramar a realidade. De encontrar novas soluções para problemas aparentemente insolúveis. De modificar o que era considerado imutável.

A esfera tocou suas mãos…

E o mundo tremeu.

As trevas que devoravam tudo começaram a se reconfigurar. Como um sistema quebrado sendo reconstruído do zero, cada fragmento de energia caótica foi reorganizado, otimizado, levado ao seu potencial máximo.

A mesma força que deveria consumi-la agora estava sob seu comando. A esfera girou em sua palma, transformando-se em algo novo, algo ainda mais perigoso.

Ela sentiu o peso de sua criação.

Nimrod percebeu tarde demais.

O olhar de Eleanor encontrou o dele, e um sorriso cortou seu rosto ensanguentado.

— Você quer destruição? Então experimente isso.

Com um movimento súbito, ela devolveu o ataque.

Mas agora, era muito mais do que um ataque. Era a ruína de Nimrod, o reflexo de sua própria arrogância, evoluída até o limite do impossível.

Então, o ataque colapsou por completo ao atingir Nimrod. Num último lampejo de poder, uma luz intensa preencheu toda a arena, engolindo tudo em um brilho absoluto.

Quando o brilho finalmente se dissipou, apenas poeira dourada restava onde Nimrod esteve. Fragmentos reluzentes flutuavam pelo ar, dissolvendo-se lentamente, como vestígios de um poder perdido.

No centro do que antes foi uma batalha brutal, Leon estava inconsciente no chão. Sua respiração era lenta, mas constante.

Eleanor permaneceu imóvel por um instante, os sentidos ainda em alerta, tentando processar o que havia acabado de acontecer.

"Como ele está aqui?"

Respirando fundo, ela se forçou a ignorar. Precisava agir.

Aos poucos, ergueu-se e caminhou até Leon, cada passo ecoando no salão agora silencioso. Ao seu redor, a Torre de Babel tremia—rachaduras se formavam pelas paredes, pedaços colossais de pedra começavam a se soltar. A estrutura não sobreviveria por muito mais tempo.

Quando finalmente se ajoelhou ao lado de Leon, sentiu uma presença familiar se manifestar atrás de si.

Virou-se.

O portal de saída havia se aberto...

Eleanor atravessou o portal carregando Leon.

A Torre de Babel continuava a desmoronar, cada pedra caindo como um fim de uma era esquecida.

Foi então que uma voz ressoou pelas ruínas, profunda e solene, como se a própria estrutura lamentasse sua queda:

— Ó meu rei, meu imperador... apenas você poderia vislumbrar à minha queda.

As palavras finais de Nimrod ficaram gravadas na essência da torre, um sussurro imortal entre as ruínas de sua ambição.

O rei que não conseguiu ascender aos céus...