Capítulo 3

O Céu não é o limite

O aroma quente de café recém-passado pairava no ar, mesclando-se ao cheiro irresistível de bacon crocante e ovos fumegantes. No pequeno apartamento, a cozinha simples ganhava vida com o café da manhã de Leon.

Ele puxou uma cadeira e se sentou, sentindo o calor da refeição recém-preparada. Pegou um pedaço de bacon com o garfo, já saboreando mentalmente o primeiro bocado, quando uma vibração interrompeu o momento. Seu celular tremeu sobre a mesa, cortando o silêncio tranquilo.

Leon fechou os olhos por um instante.

Um número desconhecido piscava na tela do celular. Leon observou por um instante, já prevendo a dor de cabeça que aquilo traria. Com um suspiro, atendeu.

— Vance, sou Eleanor, de ontem. Encontre-me às 15h. Vou te enviar a localização. Não se atrase.

A ligação terminou antes que ele pudesse sequer pensar em responder. Ele encarou o celular por alguns segundos, como se pudesse protestar contra o que acabou de acontecer.

— ...Eu realmente devia ter ignorado. — Soltando um suspiro pesado, jogou o garfo de volta no prato. O cheiro do café e do bacon ainda estava ali, mas o apetite já tinha ido embora.

15:00 - Ponto de encontro

Enquanto caminhava pelas ruas, a luz do sol refletindo nas fachadas dos edifícios. O local indicado por Eleanor ficava nos arredores da cidade, em uma área deserta, próxima a um edifício abandonado.

Ao chegar, viu Eleanor encostada em um veículo preto, o semblante sério e os braços cruzados. Seu olhar não vacilou nem por um segundo.

— Eu deveria estar agora na faculdade, não aqui. — Leon

— Você não se atrasou. Isso é bom — ela comentou, sua voz sem qualquer tom de entusiasmo.

— Na próxima, posso me atrasar de propósito. — respondeu Leon, sem esconder o tom provocativo.

Eleanor ergueu uma sobrancelha, mas não reagiu à provocação. Com um movimento rápido, ela abriu o porta-malas e retirou uma espada.

— Pegue isso.

— Iremos entrar em uma Fissura de rank Umbra.

Leon agarrou a espada que havia sido jogada para ele, mas sua expressão não conseguiu esconder a insatisfação crescente. Ele já sabia o que viria a seguir e não gostava nada disso.

— Eu realmente não tenho escolha, né? — perguntou, tentando manter a calma, mas a frustração transparecendo.

Eleanor não hesitou, nem mesmo para olhar em sua direção.

— Não. — Foi a única resposta que ele recebeu.

Leon bufou, frustrado.

Eles caminharam em silêncio até o ponto indicado, e a cena à sua frente parecia tirada de um pesadelo. A poucos metros, uma fissura flutuava no ar. A realidade estava sendo rasgada ali mesmo, um portal para o desconhecido.

Leon parou por um momento, encarando a Fissura. Seu coração batia mais rápido, não por medo, mas pela antecipação daquilo que ele teria que enfrentar.

— Pronto? — perguntou Eleanor, sua voz impassível, mas com um toque sutil de urgência.

Leon respirou fundo, a respiração saindo de forma controlada, tentando afastar qualquer pensamento negativo. Ele sabia o que estava por vir, e sabia que não poderia hesitar.

— Eu só queria descansar hoje... — murmurou Leon, frustrado, mas Eleanor não deu a mínima para a queixa. Ela simplesmente avançou em direção à Fissura, como se não tivesse ouvido.

Com um olhar para Eleanor, ele deu o passo adiante, atravessando a fissura ao seu lado, sentindo a estranha sensação de ser puxado para dentro de outro mundo.

Assim que pisaram no interior da dungeon, uma sensação estranha tomou conta de Leon. O ar era espesso e denso, quase como se fosse possível tocá-lo. O silêncio absoluto ao redor só aumentava a sensação de desconforto. O chão, composto por pedras antigas e irregulares, estava coberto de inscrições desgastadas pelo tempo, como se guardassem segredos esquecidos.

Leon sentiu um arrepio percorrer sua espinha, e a inquietação tomou conta de seus sentidos. Algo estava terrivelmente errado ali. A atmosfera pesada parecia se arrastar por cada canto da dungeon, como se estivesse viva, observando-os.

Eleanor, sem sequer se mover, também percebeu a anomalia. Seus olhos, sempre analíticos, percorriam o ambiente com precisão e desconforto visível.

— Isso não é uma Fissura de rank Umbra. Tem algo muito errado aqui. — Sua voz estava tensa, mais sombria do que Leon já havia ouvido.

Antes que Leon pudesse reagir ou questionar, um estrondo profundo e quase ensurdecedor ecoou pelas pedras. À frente deles, uma visão imponente e aterradora surgiu. Uma torre colossal se erguia no horizonte, com suas paredes de pedra negra, como se estivesse desafiando o próprio céu. Símbolos dourados e pulsantes estavam gravados em sua superfície, iluminando a escuridão com um brilho sinistro.

A presença da torre parecia absorver tudo ao seu redor, um monumento à antiguidade e ao mistério, e Leon sabia, com um instinto gelado, que algo muito além do que ele poderia imaginar estava prestes a acontecer.

— Vance, isso… isso parece com a lenda da Torre de Babel. — Eleanor franziu a testa, seus olhos fixos na estrutura imponente à sua frente.

Um pressentimento sombrio tomou conta de seus pensamentos. Ele deu um passo atrás instintivamente, mas foi detido por uma força invisível.

— Droga... Não podemos sair, não é? — perguntou, a voz carregada de frustração e receio.

Eleanor apertou os punhos, os olhos se estreitando enquanto analisava a situação.

— Parece que não. — Sua voz estava firme, mas havia uma tensão sutil que não passava despercebida.

Com nenhum caminho de volta, a única opção era avançar. O que os aguardava dentro daquela misteriosa torre era um enigma perigoso e incompreensível, uma ameaça que os desafiava a adentrar ainda mais no desconhecido.

O silêncio na Fissura era profundo. Não havia som de vento, nem o eco de seus passos, apenas o peso da imensidão ao redor. O labirinto parecia vivo, suas paredes reconfigurando-se sutilmente.

Leon olhou para Eleanor, franziu a testa em dúvida.

— E então? Tem certeza de que isso é a Torre de Babel? — Ele tentou manter a calma, mas a tensão estava evidente em sua voz.

Eleanor, imersa nas antigas inscrições, olhou para as marcas com atenção meticulosa, o cenho franzido de concentração.

— Se isso for realmente a Torre de Babel... — Ela pausou, os olhos se estreitando enquanto tentava analisar as implicações. — Pode significar muitas coisas. Mas, no mínimo, isso confirma que estamos em uma dungeon muito diferente do que esperávamos. Isso definitivamente não é uma Fissura de rank Umbra.

Eleanor, com a mesma expressão impassível, olhou para ele e disse:

— Peço desculpas por isso. Isso definitivamente não deveria estar acontecendo.

A entrada da torre estava aberta, mas uma sensação pairava no ar, como se algo estivesse aguardando além da escuridão.

Quando cruzaram o limiar, um som profundo e gutural reverberou pelas pedras da estrutura, o chão tremeu.

Diante deles, uma estátua colossal de um touro alado ganhou vida. Sua pele de ébano refletia uma luz espectral dourada, enquanto seus olhos brilhavam com uma intensidade sobrenatural. O rosto humano da criatura exibia uma expressão severa e impassível, imponente como uma divindade esquecida.

— Um Lamasso... — Eleanor murmurou, seus olhos fixos na criatura.

Leon engoliu em seco, o desconforto aumentando dentro de si.

— É impressão minha, ou ele está irritado por nossa presença? — perguntou, tentando desviar o foco da tensão que se acumulava.

O Lamassu ergueu sua cabeça majestosa, e sua voz ecoou com um poder avassalador, reverberando por toda a entrada do labirinto.

— Aqueles que desafiam os céus devem provar seu valor.

Então, os olhos do Lamassu brilharam com uma luz intensa.

— Julgamento Divino.

Leon sentiu seu corpo estremecer. Em um instante, sua energia foi drenada, como se um peso imenso tivesse sido colocado sobre seus ombros. Seu joelho quase cedeu, mas ele se forçou a permanecer de pé, determinado a não sucumbir.

Eleanor, por outro lado, não teve a mesma sorte. Ela caiu sobre um joelho, seus dentes pressionados com força enquanto lutava contra a pressão esmagadora.

— Ele está drenando nossa força...! — ela gritou, com a voz carregada de esforço.

O Lamassu bateu suas enormes asas, e o vento gerado pela força fez com que poeira e fragmentos de pedra voassem ao redor, criando uma tempestade de detritos.

Leon cerrou os punhos, o calor da luta acendendo algo dentro dele. Ele não iria se curvar tão facilmente. Seu Eco, não permitiria que fosse esmagado dessa maneira.

Uma luz dourada começou a emanar de seu corpo, um brilho suave, mas crescente. A energia que havia sido drenada começou a retornar. A sensação de frustração se dissipou.

O Lamassu inclinou a cabeça, seus olhos brancos observando Leon com mais atenção.

— Você...? — a criatura parecia perplexa, como se estivesse reconhecendo o algo dentro de Leon.

Então, com um rugido, o Lamassu soltou um grito, sua voz causando uma onda de choque. Leon sentiu sua mente ser atingida por uma névoa densa, como se tentasse apagar sua identidade, sua essência. Por um momento, tudo ao seu redor se desfez.

Quem era ele? Onde estava? A dúvida começou a invadir sua mente, como se sua memória estivesse se desintegrando diante da pressão.

Ele viu flashes, imagens distantes. Areias douradas. Uma cidade antiga. Um trono.

Mas então, seus olhos brilharam com uma determinação renovada. Ele não ia perder quem era. A névoa mental dissipou-se como um manto pesado retirado de seus ombros.

O Lamassu hesitou, e isso foi o suficiente para Leon se recompor. Estalou o pescoço e flexionou os dedos, a energia começando a pulsar com força.

— Parece que ele não consegue me afetar. — Sua voz saiu firme, e ele olhou para o Lamassu com um olhar de desafio.

Num piscar de olhos, Leon avançou em velocidade.

O Lamassu rugiu com fúria, mas Leon já estava sobre ele. Seu punho brilhou com uma energia dourada intensa, e em um golpe certeiro, ele atingiu a criatura diretamente no peito.

O impacto foi brutal. A estátua de ébano foi lançada contra a parede causando um estrondo, e logo se desfez em uma nuvem de poeira dourada que se dissipou pelo ar.

Leon olhou para o local onde o Lamassu estava e, surpreso, falou em voz alta:

— Já? — Leon deu uma pausa e continuou — Parece que ele era mais fraco do que parecia.

Eleanor, que observava a cena, manteve seu semblante impassível, mas seu olhar era atento. Ela avaliava cada movimento de Leon com um olhar calculista.

— Essa dungeon é mais perigosa do que imaginávamos.

Ela se levantou, seus movimentos precisos, enquanto continuava a analisar Leon, como se estivesse pesando algo em sua mente.

— Se antes tínhamos alguma dúvida de que essa dungeon era algo fora do comum... agora temos certeza. Fique atrás de mim, Vance.

Leon virou-se, seu olhar agora focado nos corredores à sua frente. O caminho se dividia em três direções, e as paredes, estranhamente, pareciam se mover.

— Então, qual direção escolhemos?

Eleanor respirou fundo, suas mãos já posicionadas para analisar o ambiente.

— Não importa.

Leon deu uma risada sem humor.

— Vamos pela direita.

Enquanto caminhavam pelo corredor estreito e tortuoso da Torre, o som de seus passos ecoava nas paredes de pedra fria. O silêncio era absoluto, exceto pelo som de suas respirações pesadas e os murmúrios das paredes, observando-os a cada movimento.

Leon, ainda sem se acostumar com a sensação de estar sendo constantemente observado, não pôde evitar quebrar o silêncio.

— Você acha que iremos conseguir sair daqui sem enfrentar algo forte? — Ele perguntou, seu tom misturando cansaço e desafio. — Ou a intenção é nos manter aqui até a gente quebrar?

Eleanor, que caminhava à frente, com os olhos atentos aos detalhes do caminho, respondeu sem virar a cabeça.

— Não há como saber com certeza, mas o fato de termos enfrentado um Lamassu, mesmo que extremamente fraco é indicativo de que a dungeon tem algo além do que imaginávamos. O objetivo pode não ser exatamente nos "quebrar", mas sim, nos testar.

Leon soltou um suspiro.

— Ótimo, porque até agora, não foi tão complicado. — Ele disse, sarcasmo evidente. — Um touro gigante, uma torre que respira... E agora estamos andando por um corredor que parece não ter fim. O que vem a seguir, monstros de pedra?

Eleanor parou por um momento, analisando as paredes. O corredor parecia se esticar infinitamente, e a única coisa que se movia era a luz fraca das lâmpadas.

— Não subestime o que está por vir. Essa torre é um mistério. É de se estranhar não sentirmos fome nem sede.

Leon disse baixinho.

— Eu não estou subestimando, só... cansaço. Não estou exatamente com vontade de lutar contra mais monstros por hoje. Já que você gosta de detalhes, o que você tem medo nessa torre?

Eleanor não respondeu de imediato. Ela apenas caminhou mais alguns passos, com o rosto impassível.

— Medo é uma coisa que não se costuma carregar. Ficar com medo de algo que não pode controlar é uma fraqueza. — Ela disse com calma, sem nenhum vestígio de emoção. — O que tem a temer, Vance, é o que está em sua mente. O que você teme mais do que qualquer coisa, seja consciente ou não.

Leon franziu a testa, sentindo o peso das palavras de Eleanor. Algo nela parecia saber o que ele pensava, o que o inquietava. Algo que ele ainda não queria admitir para si mesmo.

— Relaxa, não sou tão fraco assim. — Ele murmurou.

Eleanor olhou para ele pela primeira vez desde que começaram a andar. Seus olhos eram frios, mas havia algo ali, um leve brilho de compreensão.

Eles seguiram em silêncio por mais alguns minutos. O corredor parecia mais longo agora, mais sombrio.

Eleanor parou de repente, erguendo a mão em um gesto firme de silêncio. Seus olhos afiados se fixaram na parede à sua esquerda, onde as inscrições douradas pareciam se dissolver diante deles. As palavras antigas, antes brilhantes, agora desapareciam sem deixar vestígios.

Os olhos de Eleanor brilharam em um tom azul intenso, decifrando algo invisível ao olhar comum. Seu semblante se tornou ainda mais rígido, a voz saindo baixa, mas afiada como uma lâmina.

— Algo está errado… — murmurou. — Fique alerta. Tem algo se aproximando.

Leon fez um movimento rápido com a cabeça, observando as rochas. À primeira vista, estavam sólidas. Mas ao olhar mais de perto, ele notou rachaduras estranhas se formando nas paredes. E logo, ele percebeu.

Os olhos.

Pequenos círculos dourados, quase imperceptíveis, começavam a surgir nas pedras. Antes que pudesse reagir, as pedras se moveram, e das rachaduras saíram serpentes de pedra, suas escamas brilhando com um brilho cintilante. Os olhos das criaturas se acenderam com uma luz ameaçadora.

— Serpentes...

As criaturas se ergueram, suas bocas se abrindo, exibindo fileiras de dentes afiados como lâminas. Elas atacaram com uma velocidade surpreendente para seres tão grandes, suas caudas se arrastando como martelos de guerra.

— CUIDADO! — Eleanor gritou, sua voz cortando o silêncio que havia se formado entre os ataques das serpentes.

Leon não teve tempo de pensar. A serpente à sua direita avançou. Suas presas reluziam, preparadas para cravar-se em seu corpo. Ele saltou para o lado, evitando o ataque, mas a outra serpente já estava se enroscando em sua direção, a intenção de esmagá-lo com sua força colossal evidente.

Em um reflexo rápido, Eleanor se moveu. A energia em seu corpo pareceu se concentrar em uma única direção. Ela estendeu a mão.

Uma onda de Espírito concentrado irrompeu da palma de sua mão, em um movimento que fez o chão vibrar sob seus pés.

A serpente, que se aproximava de Leon em velocidade, foi atingida com toda a força do golpe espiritual. Ela se contorceu no ar, um som agudo e torturante antes de ser destruída em uma explosão de pedras quebradas e poeira dourada.

— Vance, hora de provar ser acima de um Umbra.

Leon a observou com um olhar sério, mas as palavras dela não aliviaram a tensão que sentia.

— Deixa comigo... — ele murmurou em confiança.

Eleanor deu um passo à frente, sem vacilar, e se aproximou dele, seus olhos brilhando com uma intensidade quase desconcertante.

— Você não vai morrer. — Sua voz era firme, sem traço de dúvida. Então, após uma breve pausa, um sutil indício de ironia surgiu em seu tom. — Pelo menos, NÃO enquanto eu estiver aqui.

Leon avançou, os olhos fixos nas serpentes de pedra que os cercavam. As criaturas se moviam lentamente, seus corpos se entrelaçando nas paredes e no chão como sombras vivas, esperando o momento certo para atacar.

Respirando fundo, ele ergueu a mão.

— Não preciso da espada que você me deu, já tenho uma melhor.

— Inventário do Governante: Espada.

Em um instante, uma lâmina dourada se materializou em sua palma, irradiando um brilho intenso. O peso familiar da arma trouxe um conforto momentâneo, mas antes que pudesse agir, uma onda de energia varreu o ambiente.

Eleanor deu um passo à frente, e a atmosfera ao redor mudou drasticamente. Seu Espírito se expandiu como uma tempestade invisível, pressionando as serpentes contra o chão. As criaturas hesitaram, seus olhos dourados tremulando entre a fúria e o instinto de sobrevivência.

Ela caminhou até Leon, sua expressão impassível, mas sua voz carregava uma convicção inabalável.

— Me dê essa espada por um segundo.

Leon piscou, confuso. Ainda tentando suportar a pressão espiritual ao redor, ele hesitou por um breve momento antes de entregar a lâmina. Eleanor a pegou sem cerimônia, os olhos analisando sua estrutura.

Então, murmurou algo em um tom firme, quase como se estivesse recitando uma verdade absoluta.

— Dialeto da Matéria.

A espada brilhou por um instante, sua estrutura tremeluzindo como se estivesse sendo redesenhada por forças invisíveis. Eleanor ergueu a lâmina e, com uma voz imbuída de certeza, declarou:

— Constelação Arquimediana: Escorpião.

No mesmo instante, faíscas começaram a dançar ao redor da lâmina, formando um padrão complexo de luz. Relâmpagos, correntes elétricas correndo pela arma.

Leon assistiu, enquanto Eleanor erguia a espada, agora transformada. As serpentes à sua frente se encolheram levemente, sentindo o perigo iminente.

— Agora sim. — Eleanor girou a lâmina em um movimento de teste, satisfeita. — Vamos acabar logo com isso.

Eleanor devolveu a espada para Leon, seus olhos brilhando em tom azul enquanto sussurrava:

— Constelação Arquimediana: Órion.

No instante em que ela ecoou essas palavras, uma onda de energia percorreu corpo de Leon. Seus músculos se tensionaram, seus sentidos se aguçaram—a gravidade parecia mais leve, tornando seus movimentos mais rápidos. A lâmina em sua mão parecia vibrar em sintonia com ele, pronta para o combate como a vez do seu despertar.

Ele girou a espada no ar, sentindo a fluidez de seu poder recém-reforçado.

— Seu Eco é realmente impressionante, Eleanor. — Sua voz carregava um misto de admiração e surpresa.

Mas Eleanor não se deixou levar pelo elogio. Seu olhar permaneceu afiado, analisando cada movimento das serpentes, que pareciam ter percebido a mudança no fluxo de poder ao redor de Leon.

— Se concentre na luta. — Sua voz foi firme, sem hesitação. — Não temos tempo para conversa.

Leon sorriu de canto, apertando a empunhadura da espada.

— Certo. Vamos acabar com isso.

Uma das serpentes avançou como um relâmpago, sua mandíbula se abrindo em um ângulo impossível, pronta para cravar suas presas em Eleanor. No entanto, ela permaneceu imóvel, os olhos frios e calculistas, analisando cada detalhe do movimento da criatura.

Antes que a fera pudesse alcançá-la, um clarão dourado riscou o ar.

Leon se moveu em um instante, sua velocidade ultrapassando qualquer coisa que a serpente pudesse acompanhar. A espada brilhou com a energia elétrica condensada, e, em um único golpe, ele deslizou a lâmina horizontalmente, cortando da boca da criatura até a ponta do rabo.

Rachaduras se espalharam por sua estrutura de pedra, e, com um estrondo, ela se desfez em milhares de fragmentos brilhantes, dissipando-se no chão do labirinto.

Leon exalou lentamente, sentindo a eletricidade ainda crepitando ao redor de sua lâmina. Ele girou a espada entre os dedos, pronto para enfrentar a próxima ameaça.

Eleanor o observou por um instante, seu olhar avaliando cada detalhe.

Leon não hesitou. Com um movimento firme, ele cravou o pé no chão, e o impacto reverberou pelo labirinto. As rachaduras se espalharam sob seus pés, e uma nuvem de poeira ergueu-se ao redor, obscurecendo a visão por um instante.

Então, o mundo pareceu desacelerar.

As serpentes avançaram ao mesmo tempo, suas mandíbulas se abrindo para atacá-lo por todos os lados.

Mas antes que pudessem alcançá-lo, Leon já havia se movido.

Como um trovão, ele disparou para frente, sua silhueta se desfazendo em borrões dourados. A velocidade era absurda, impossível das serpentes o acompanharem.

A primeira serpente mal teve tempo de reagir antes de ser cortada ao meio.

A segunda se lançou contra ele em um bote feroz, mas Leon girou a espada em um arco limpo, dilacerando-a de ponta a ponta.

A terceira tentou enroscá-lo com sua cauda maciça, mas Leon deslizou por baixo, a lâmina traçando um golpe ascendente que dividiu a criatura de baixo para cima.

E então, em um último movimento, ele girou o corpo no ar, desferindo um corte giratório que atingiu as serpentes restantes de uma só vez.

As criaturas congelaram no meio do ataque. Por um breve instante, permaneceram imóveis, como se ainda não tivessem percebido que haviam sido derrotadas.

Então, rachaduras se espalharam por seus corpos novamente.

Com um estalo seco, todas desabaram ao mesmo tempo, transformando-se em poeira cintilante que se misturou à névoa de pedras quebradas ao redor.

Os olhos de Eleanor brilharam com um tom azul intenso, uma energia crescente se formando ao seu redor. Antes que a serpente oculta nas paredes pudesse atacar por trás, ela agiu com uma precisão impressionante.

Em um movimento rápido, sua mão se estendeu para trás, invocando uma lâmina de Espírito com um gesto fluido. A lâmina brilhou com uma luz azul etérea. Em um único golpe, a lâmina atravessou a serpente de pedra, perfurando-a com facilidade.

A criatura, surpreendida e sem tempo para reagir, se desfez em pedaços de pedra que caíram no chão com um som abafado.

Eleanor permaneceu em silêncio, a lâmina de Espírito desaparecendo gradualmente e caminhou até ele.

— Nada mal, Vance. — Sua voz era neutra, mas havia uma leve satisfação em seu tom.

Leon soltou uma risada cansada.

— Nada mal? Você poderia ter acabado com todas elas na hora que quisesse.

Ela cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha.

— Se você diz...

Leon deu uma olhada em sua espada, sentindo a energia ainda pulsando em suas mãos. A sensação era única — ele se sentia como se estivesse muito além de seus limites nesse momento. Ele olhou para Eleanor com uma expressão de admiração, mas também de curiosidade.

— Seus buffs... Eles foram impressionantes. — Ele fez uma pausa, tentando entender tudo aquilo. Então, como se se lembrasse de algo importante, ele olhou para ela. — Ah, eu acabei esquecendo de perguntar... qual é o seu Eco?

Eleanor, ainda analisando o ambiente ao redor e absorvendo a energia espiritual dissipando-se no ar, finalmente desviou os olhos para ele. Ela não parecia surpresa pela pergunta, como se fosse algo que já estivesse acostumada a responder, mas o tom de sua voz indicava que ela não fazia questão de falar muito sobre isso.

— Meu Eco? — Ela repetiu, com uma leveza que contrastava com a gravidade da conversa. — Galileu Galilei. Cientista, astrônomo. Observador do cosmos.

Ela fez uma breve pausa, antes de continuar, a voz mais firme agora, como se estivesse explicando o motivo de sua escolha com clareza.

— Meu poder vem da busca incessante por entender o que está além do visível, da lógica que rege o universo e das leis que controlam tudo à nossa volta. A verdadeira força está em perceber padrões, em ver o que outros não conseguem.

Leon, absorvendo suas palavras, deu um leve sorriso, como se finalmente algo tivesse se encaixado em sua mente.

— Isso foi desnecessário... mas faz sentido. — ele olhou para sua espada e depois para Eleanor, compreendendo o seu poder.

Enquanto avançavam pelos corredores da torre, o tempo parecia se curvar ao seu redor, tornando-se uma ilusão. Cada passo os levava mais fundo em um labirinto de enigmas e armadilhas, desafiando qualquer senso de lógica. Espíritos errantes surgiam do nada, oferecendo promessas de glória e riquezas ou, por outro lado, guiando-os diretamente para a morte.

As paredes, já marcadas pelo desgaste do tempo, mudavam de lugar à medida que passavam, criando corredores que levavam a destinos diferentes a cada hora. Salas sem sentido, com dimensões impossíveis, se alternavam, misturando realidade e ilusão de uma forma desconcertante.

Seres estranhos, camuflados sob formas familiarmente humanas, se aproximavam, tentando enganá-los, ou talvez apenas observando. O peso da dúvida pairava sobre eles a cada canto, como se a torre estivesse reagindo a cada movimento que faziam.

A noção de tempo se perdeu, fazendo com que eles esquecessem até mesmo quanto tempo haviam passado ali, ou quantos andares haviam passado. Não sabiam mais se estavam na metade ou no fim de sua jornada, se haviam perdido a noção do espaço ou se a própria torre os manipulava para fazê-los acreditar em sua impotência. Tudo parecia distorcido, uma trama de segundos e horas se desvanecendo no vazio.

Finalmente, depois de o que pareceu uma eternidade, eles chegaram a uma área diferente da torre, uma plataforma elevada. Ali, diante deles, se erguia uma porta colossal, imensa e ameaçadora, com inscrições antigas, desafiando-os a dar o próximo passo.

Eleanor parou, observando a porta. Sua postura era firme, mas seus olhos traiçoeiramente atentos.

— Parece que esse é o fim.

— Sim, vamos sair dessa torre logo — Leon respondeu em êxtase.

Eleanor concentrou o Espírito em sua mão, sentindo a energia vibrar em seus dedos antes de direcioná-la para as imensas portas à sua frente. Com um movimento firme, ela empurrou as portas colossais, que cederam com um estrondo, revelando o interior da sala...