📘 Episódio 13 – Mentiras Têm Pernas Curtas
Narrado por Isadora Mendes
Eu não dormi aquela noite.
As palavras de Leonel ecoavam como um veneno na minha cabeça, mas algo dentro de mim não se encaixava. Quanto mais eu pensava, mais parecia um quebra-cabeça com peças forçadas.
Arthur, mesmo com todos os defeitos, nunca foi um bom mentiroso. E o olhar dele... quando confessou, não havia arrogância, nem orgulho. Só arrependimento e dor. Uma dor que não se inventa.
Na manhã seguinte, fui até o campus. Eu precisava de respostas. E dessa vez, eu ia cavar até o fundo.
— "Jéssica!" — chamei minha colega de turma, que conhecia todos os boatos e segredos de todo mundo. — "Você conhece um tal de Leonel Duarte?"
Ela arqueou a sobrancelha, surpresa.
— "Conheço sim. Estudou aqui no curso de Teatro até o semestre passado. Foi expulso depois de inventar umas histórias bizarras sobre um professor. Era meio... perturbado. Um charme de primeira, mas louco de segunda."
Meu estômago virou.
— "Ele disse que teve um relacionamento com meu namorado... quando Arthur estava fora da cidade."
Jéssica fez uma careta.
— "Leonel? Com um tal de Arthur? Nunca ouvi isso. E olha que ele gostava de se gabar. Mas só falava de um ex imaginário que 'destruiu o coração dele'. Nunca deu nomes. Sempre pareceu... mais invenção do que verdade."
Minhas mãos tremeram.
Leonel mentiu.
Ele mentiu pra me afastar do Arthur.
Meu peito se encheu de raiva — não só por mim, mas por tudo que ele tentou destruir.
Eu não ia deixar barato.
Esperei até o fim da tarde. Sabia onde ele costumava caminhar no campus, e fiquei ali, fingindo estar distraída no banco, até vê-lo surgir com o mesmo ar de superioridade de sempre.
Me levantei com calma. Ele sorriu ao me ver — cínico, convencido.
— "Isadora. Veio admitir que está melhor sem ele?"
— "Não." — respondi, firme. — "Vim te dizer que você é um mentiroso. E que eu descobri tudo."
Ele parou. A expressão dele mudou por um segundo. Um vacilo.
— "Do que está falando?" — tentou disfarçar.
— "Você nunca teve nada com o Arthur. Nunca dormiram juntos. Você inventou tudo. Porque é obcecado por ele."
Ele riu. Um riso vazio.
— "Você não tem como provar isso."
— "Não preciso. A verdade já está vindo à tona. Você já fez isso com outras pessoas, Leonel. Já espalhou mentiras, já manipulou. E agora tentou me destruir."
Leonel se aproximou, mas seus olhos já não tinham mais controle. Tinham fúria.
— "Ele devia ser meu!" — rosnou. — "Eu estive com ele nos piores momentos. Eu era quem o segurava quando ele tremia de medo. Era eu quem o fazia sorrir. Ele me devia amor."
— "Ninguém deve amor a ninguém." — retruquei. — "Você confundiu compaixão com paixão. E usou isso pra alimentar sua ilusão."
Ele cerrou os punhos. Por um segundo, temi por mim. Mas então, ele se afastou, rindo como um vilão que perdeu o controle.
— "Isso ainda não acabou, Isadora. Você não sabe com quem está brincando."
— "Sei sim. Com alguém que tem medo de ser esquecido. E faz qualquer coisa pra ser lembrado."
Ele sumiu entre os corredores do campus.
E naquele momento, algo dentro de mim se libertou.
No mesmo dia, fui ao encontro de Arthur. Ele estava sentado no parapeito do terraço do prédio antigo da faculdade, olhando o pôr do sol como se quisesse desaparecer com ele.
— "Você estava dizendo a verdade." — anunciei, me aproximando devagar.
Ele me olhou. Triste, mas sereno.
— "Mesmo que eu não estivesse... você merece a verdade. Sempre."
Me sentei ao lado dele.
— "Eu fui atrás. Descobri tudo. O Leonel... nunca foi seu amor. Foi sua sombra. E quase se tornou a minha escuridão também."
Arthur passou a mão pelos cabelos, aliviado.
— "Eu te amo, Isadora. Eu sei que parece cedo, parece maluco, parece tudo o que não é lógico. Mas é a única certeza que eu tenho."
Virei para ele. Segurei seu rosto com minhas mãos.
— "E eu escolho acreditar. Mesmo com tudo. Mesmo com os fantasmas."
Ele sorriu. Pela primeira vez em dias, sorrimos juntos.
— "A gente vai conseguir."
— "Se for com você, eu sei que sim."
Mas do outro lado do campus, em um quarto escuro, Leonel olhava uma foto antiga de Arthur no celular.
Seu rosto manchado de lágrimas, e seus olhos… ardiam.
— "Se você não pode ser meu, não será de mais ninguém." — murmurou.
Porque obsessões… não morrem fácil.