Episódio 12

📘 Episódio 12 – O Ex Que Nunca Foi Embora

Narrado por Isadora Mendes

Era uma tarde abafada, o céu coberto de nuvens ameaçava chuva, e eu só queria um minuto de paz. Mas paz, desde que me envolvi com Arthur, parecia uma palavra extinta no meu dicionário.

Eu estava saindo da biblioteca da faculdade, livros de Psicologia nos braços, quando ouvi alguém me chamar pelo nome — com uma voz doce, mas estranhamente afiada.

"Isadora Mendes?"

Virei devagar, e dei de cara com um rapaz que eu nunca tinha visto antes. Devia ter uns 21 anos, mas seu olhar carregava uma intensidade desconfortável. Alto, moreno claro, olhos verdes profundos e um sorriso enviesado.

"Sou eu. Quem é você?" — perguntei, tentando soar educada, mas já em alerta.

Ele deu dois passos à frente e me estendeu a mão com firmeza, os olhos fixos nos meus como se quisesse atravessar minha alma.

"Leonel Duarte. Acho que temos alguém em comum."

Soltei um riso confuso.

"Desculpa, mas não me lembro de você."

Ele inclinou a cabeça com um sorrisinho carregado de veneno.

"Não lembra porque Arthur nunca falou de mim. Ele é bom em apagar o passado, não é?"

Senti meu estômago revirar. Ele sabia o nome do Arthur. E o jeito como pronunciou não era de amigo. Era de algo mais... íntimo.

"O que você quer comigo?"

Ele deu mais um passo. Estávamos perigosamente próximos agora. Ele era confiante demais. O tipo de pessoa que sabia exatamente o impacto que causava.

"Quero que você saiba com quem está se metendo. Antes que se iluda demais. Você conhece o Arthur de agora. Mas eu conheci o Arthur que chorava à noite, que tremia ao lembrar da Cléo, que se jogava nos meus braços pedindo pra esquecer o passado."

Travei.

"Você e ele...?" — minha voz falhou.

Leonel sorriu, dessa vez sem disfarçar a crueldade.

"Dormimos juntos. Mais de uma vez. Durante quase um ano, fomos... algo. Talvez tudo, talvez nada. Mas foi real pra mim. E ele sumiu. Desapareceu sem dizer adeus."

Meu peito queimava.

Cada palavra dele era uma punhalada inesperada.

Leonel deu uma volta lenta ao meu redor, como se estivesse me estudando. Parou atrás de mim e sussurrou no meu ouvido:

"Você acha que é especial? Ele me disse as mesmas coisas. Que me queria. Que eu era a luz depois da escuridão. E depois… puff… virou fumaça."

Me afastei, virei de frente, indignada.

"Se o que você teve com ele foi real, por que está aqui tentando me ferir? Quer vingança, é isso?"

"Não quero vingança, Isadora. Quero ele de volta. E você é só uma fase. Como eu fui."

"Não, Leonel. Você não foi uma fase. Você foi a fuga dele. E eu sou o lar."

Ele estalou a língua, debochado.

"Veremos. O Arthur não resiste ao passado. Especialmente quando ele bate na porta."

Naquela noite, esperei Arthur na frente da minha casa.

A cabeça girava com perguntas, dúvidas, raiva, e uma pontada de medo.

Quando ele chegou, notei o olhar cansado. Mas ainda assim... honesto.

"Isadora, o que foi? Sua mensagem me assustou."

"Quem é Leonel Duarte?" — disparei, seca.

Arthur parou.

O corpo dele congelou.

"Onde você ouviu esse nome?"

"Ele me encontrou. Me contou tudo. Que vocês se envolveram. Que você sumiu. Que ele ainda te ama."

Arthur fechou os olhos e respirou fundo, como se aquilo doesse mais do que um soco.

"Eu ia te contar. Eu juro. Mas eu não sabia como. Aquela fase da minha vida foi confusa. Eu tava quebrado, Isadora. Eu não sabia quem eu era. Leonel foi bom pra mim, no início. Mas depois... virou obsessão. Eu precisei fugir."

"Ele te amava?"

"Sim. Mas eu não podia retribuir. Eu estava tentando me reconstruir. Só que fugir foi covarde, eu sei."

Meus olhos marejaram. A verdade era um alívio... e uma tortura ao mesmo tempo.

"Você sente algo por ele ainda?"

Arthur deu um passo e segurou minhas mãos.

"Não. Eu sinto por você. Só por você. Mas entendo se isso for demais pra aceitar."

"Não é sobre aceitar, Arthur. É sobre confiar. E eu… eu preciso de tempo."

Ele assentiu, com os olhos brilhando de angústia.

"Eu vou esperar. Pelo tempo que for."

Enquanto ele se afastava, eu olhei para o céu.

A chuva finalmente começou a cair.

E com ela, percebi que a guerra que eu achava estar vencendo…

…estava apenas começando.