O amanhecer rompeu sobre Chang'an, banhando a cidade com uma luz dourada que contrastava com a atmosfera sombria da noite anterior. No Templo da Lua Prateada, Wey Zong despertou com a leveza de um felino, seus sentidos em alerta, como se a qualquer momento pudesse ser chamado de volta à caçada. A lembrança da luta no armazém, da dança mortal sob a lua carmesim, ainda estava vívida em sua memória, uma adrenalina residual percorrendo suas veias.
Ele se levantou, seus músculos ainda doloridos pelos ferimentos, e vestiu suas roupas escuras, a seda fria contra sua pele. Ao sair para o corredor, encontrou Xu Zao meditando no jardim, a espada apoiada ao lado do corpo, o rosto voltado para o sol nascente.A figura imponente do Leão, banhada pela luz dourada, contrastava com a aura sombria que geralmente o envolvia. Por um breve instante, Wey Zong vislumbrou uma vulnerabilidade inesperada, uma serenidade que não condizia com a imagem do general implacável."Bom dia, Leão," disse Wey Zong, sua voz baixa e rouca, quebrando o silêncio do jardim.Xu Zao abriu os olhos, seu olhar encontrando o do Lobo. "Lobo," respondeu ele com um aceno de cabeça, a expressão voltando à habitual frieza. "Dormiu bem?""O suficiente", respondeu Wey Zong, dando de ombros. "E você, conseguiu encontrar alguma paz em meio a todo esse caos?"Um leve sorriso curvou os lábios de Xu Zao. "A paz é um luxo que não podemos nos dar, Lobo. Não enquanto Zhao Lin estiver à solta.""Ele não ficará impune", disse Wey Zong, seus olhos brilhando com uma intensidade fria. "Nós o levaremos à justiça."A conversa foi interrompida pela chegada do Abade Hong, que trazia consigo uma bandeja com chá e pães. "Espero que tenham descansado bem, meus filhos," disse ele, depositando a bandeja sobre uma pequena mesa de pedra. "Precisamos discutir nosso próximo passo."Os três se sentaram ao redor da mesa, o aroma do chá perfumando o ar da manhã."O Imperador realizará uma audiência amanhã," disse o Abade Hong, seu olhar sério. "É a nossa oportunidade de apresentar as provas contra Zhao Lin.""Mas como faremos para chegar até o Imperador sem despertar as suspeitas do conselheiro?", perguntou Xu Zao. "Ele certamente terá seus informantes de olho em nós."Wey Zong tomou um gole de chá, seus olhos fixos em algum ponto distante, como se estivesse traçando um plano em sua mente. "Eu tenho uma ideia," disse ele, finalmente. "Mas é arriscada."Ele então detalhou um plano audacioso, que envolvia disfarces, distrações e uma boa dose de teatralidade. Xu Zao e o Abade Hong ouviram atentamente, suas expressões alternando entre a apreensão e a admiração."É ousado," disse Xu Zao, após um longo silêncio. "Mas pode funcionar.""Teremos que ser rápidos e precisos," acrescentou o Abade Hong. "Um passo em falso e estaremos entregues à fúria do dragão."Nos preparativos para a audiência, a tensão aumentava a cada minuto. Wey Zong, com sua habilidade inata para disfarces, transformou Xu Zao em um comerciante itinerante, enquanto ele próprio assumia a identidade de um humilde escriba. O Abade Hong, com seus contatos na corte, providenciou os documentos necessários para que eles pudessem entrar no palácio sem levantar suspeitas.A audiência com o Imperador foi um espetáculo de pompa e circunstância. Nobres ricamente vestidos, oficiais da corte com suas vestes cerimoniais, eunucos silenciosos deslizando pelos corredores...Wey Zong e Xu Zao, em seus disfarces, misturaram-se à multidão, seus corações batendo forte no peito. A cada passo que davam em direção ao trono imperial, sentiam o olhar invisível de Zhao Lin sobre eles, como um predador à espreita.Quando finalmente chegaram à presença do Imperador, Wey Zong apresentou os rolos de seda, explicando com calma e precisão as evidências que incriminavam o conselheiro imperial. A cada palavra que pronunciava, a atmosfera na sala se tornava mais tensa, o silêncio repleto de expectativa.Zhao Lin, pálido e visivelmente abalado, tentava se defender, mas suas palavras soavam vazias e sem convicção diante das provas irrefutáveis apresentadas pelo Lobo.O Imperador, com uma expressão de fúria contida, ordenou a prisão imediata de Zhao Lin, encerrando a audiência com um golpe seco de seu cetro imperial.Enquanto eram conduzidos para fora do palácio, Wey Zong e Xu Zao trocaram um olhar rápido, um sorriso de triunfo iluminando seus rostos. Eles haviam vencido a primeira batalha, mas a guerra estava longe de terminar. O dragão imperial ainda pairava sobre Chang'an, e eles sabiam que teriam que permanecer vigilantes, preparados para enfrentar as consequências de suas açõese os inimigos que certamente surgiriam das sombras. As imponentes portas do Palácio Imperial se fecharam atrás deles, um ponto final silencioso na estranha aliança entre o Lobo e o Leão. A tensão que os unira durante a investigação da traição de Zhao Lin se dissipou como fumaça ao vento, deixando para trás um vazio silencioso. Sem palavras, sem promessas, Wey Zong e Xu Zao se separaram. O Lobo desapareceu nas vielas labirínticas de Chang’an, sua figura esguia engolfada pelas sombras. Xu Zao, montando seu garanhão negro, rumou para o quartel-general da guarda imperial, a mente ainda reverberando com os ecos da recente vitória.