O refeitório da Academia Arcadia estava quase vazio após o almoço. A maioria dos alunos havia seguido para os dormitórios ou bibliotecas, mas Yumi Kazehara permanecia sentada em um canto do jardim interno, anexo ao refeitório, sob a sombra suave de uma árvore de folhas douradas.
Em suas mãos, repousava um pequeno passarinho de penas cinzentas, as asas quebradas e o peito arfando de dor.
— Coitadinho....vai ficar tudo bem… — ela sussurrou, com a voz trêmula.
Uma luz suave e esverdeada envolveu suas mãos enquanto a magia de cura fluía. O som do vento e dos pássaros ao redor parecia se calar diante daquela cena. A cada osso se realinhando, o corpo de Yumi se contraía discretamente.
As asas do pássaro se regeneraram com perfeição.
Mas… a dor veio.
Uma pontada aguda atravessou os ombros da garota, descendo pela coluna como se fossem as próprias asas dela sendo arrancadas e costuradas de novo. Ela cerrou os dentes, tentando esconder o tremor.
— Não deveria fazer isso sozinha. — disse uma voz calma.
Yumi se virou bruscamente. O pássaro, agora curado, alçou voo.
Hiro Tanaka estava parado ao lado dela, oferecendo água. Seus olhos estavam fixos nos dela, sem julgamentos. Apenas… atenção.
— Você sente dor ao curar, não é?
Yumi congelou.
Ninguém nunca havia dito isso em voz alta.
Ninguém nunca havia perguntado.
Só esperavam o milagre.
Não se importavam com o preço.
Ela pegou a água com as mãos tremendo levemente.
— Como… você sabe?
Hiro se sentou ao lado, sem tirar os olhos do céu onde o pássaro desaparecia.
— Eu observo. E você faz caretas quando cura. Não são de esforço. São de dor.
Yumi baixou a cabeça, envergonhada. Mas, dentro dela, algo quente se agitava.
— Obrigada… por notar.
Sua voz saiu quase como um sussurro.
Ela tentou se levantar, mas vacilou. A dor ainda latejava em seu corpo.
— Espera. — Hiro disse.
E, sem mais palavras, a carregou no colo.
— H-Hiro!? — ela arregalou os olhos, o rosto tingido de escarlate. — P-por favor, não precisa… eu consigo…!
— Consegue, mas não precisa se forçar. Só fique quieta um pouco.
Yumi escondeu o rosto no peito dele, o coração disparado, o calor tomando conta. O caminho até os dormitórios pareceu eterno.
Chegando ao quarto dela, Hiro a colocou suavemente sobre a cama. Antes de sair, apenas disse:
— Cuide-se, Kazehara.
Quando a porta se fechou, Yumi mal conseguia respirar.
— M-meu coração…
A porta lateral se abriu de repente. Uma garota de cabelos castanhos escuros, olhos vivos e bochechas sempre coradas entrou, carregando uma bandeja com chá.
— Yumi-chan!? O que houve!? Você tá vermelha!
— Mari… e-ele me carregou…
Mari, a empregada e amiga de infância de Yumi, arregalou os olhos como se tivesse recebido uma revelação divina.
— “Ele”…? O Hiro Tanaka!?
Yumi se encolheu, abraçando um travesseiro.
— Eu não sei o que tá acontecendo… Mas quando ele olha pra mim, eu fico nervosa. Quando ele me tocou, parecia que eu ia… desmaiar. Isso não é normal, né…?
Mari sentou-se ao lado da cama, os olhos brilhando.
— Yumi-chan… Isso é amor! Amor à primeira vista!
— N-não pode ser! Eu nem conheço ele direito! E ele parece frio, assustador até…!
Mari, empolgadíssima, apontou para a estante repleta de livros.
— Olha só! Volume 3, capítulo 10 de "O Romance da Donzela de Gelo"! A heroína fez exatamente as mesmas coisas que você e percebeu que estava apaixonada!
Yumi gaguejou, caiu da cama, e cobriu o rosto com as mãos.
— I-i-isso é ridículo… Não pode ser verdade… certo!?
Mari já folheava o livro, rindo.
— Só falta ele te chamar de "preciosa" e pronto, fim do jogo!
Yumi enterrou o rosto no travesseiro, o coração ainda acelerado, sem saber se ria, chorava ou fugia para sempre.
Mas no fundo… uma parte dela esperava ver Hiro de novo. Logo.