O sol ainda dormia.
A luz azulada da madrugada envolvia os campos da Academia Arcadia como um véu silencioso. O vento era frio, cortante. Mas Hiro Tanaka já estava ali, no bosque atrás do dormitório masculino, socando o tronco de uma árvore grossa com as mãos nuas.
THUMP
THUMP
THUMP
Seus punhos sangravam, mas ele não parava.
— A dor… — murmurou entre os dentes — …me permite saber que estou vivo. Que isso não é um sonho.
Cada soco ecoava como um lembrete. Cada gota de sangue era uma afirmação. Ele não estava mais preso naquele futuro destruído. Mas também não podia se permitir esquecer o que perdeu.
Não pode haver paz para alguém que falhou com todos.
Sentou-se logo depois, pernas cruzadas, as mãos em posição de meditação. O silêncio ao redor foi preenchido por sua respiração controlada. Um fino fio de mana começou a fluir de seu peito, espiralando à sua volta.
Ele estava treinando manipulação de mana e círculos mágicos, passos fundamentais para se tornar um mago completo. Dois círculos já estavam formados, levemente visíveis como tatuagens flutuantes em seu entorno.
Agora, o terceiro… estava perto.
Inalação. Visualização. Expansão.
Como ela ensinou.
— Concentre a mana no núcleo do estômago, depois respire devagar até que o corpo inteiro pulse junto com o fluxo… Idiota. — ecoou a voz irritada na mente dele.
No futuro em Ruínas.....
Saori Kurosawa, do futuro, o fitando com as mãos na cintura e sobrancelhas arqueadas.
— Se você errar de novo, vou jogar uma bola de fogo na sua cabeça, entendeu!? Você é tipo… resistente, mas não é burro, né!?
— Não tenho certeza — ele riu no passado, e riu de novo agora, sozinho.
O Hiro do presente abriu os olhos lentamente.
Três círculos mágicos.
Estavam ali. Girando suavemente ao redor dele.
— Obrigado, Saori…
E pela primeira vez em dias, ele sorriu de verdade.
A luz do dia já invadia os corredores da Arcadia quando Hiro entrou na sala de aula teórica de magia.
Professores e alunos conversavam enquanto símbolos flutuavam no quadro negro, explicando a diferença entre mana bruta e catalisada.
Hiro sentou-se em seu lugar habitual.
Ao lado dele, Yumi Kazehara.
Ela já estava ali, o rosto sereno, os olhos fixos no caderno.
Ou fingindo estar.
Na verdade, ela desviava o olhar a cada três segundos. E seu coração batia como se quisesse fugir pela garganta.
Eu gosto dele.
Não tem mais como negar.
Quando Hiro colocou o caderno sobre a mesa, ela corou. Quando ele esticou os braços para se espreguiçar, ela quase caiu da cadeira.
Por que ele é assim!? Por que ele tem que parecer tão... tão... sério e legal ao mesmo tempo!?
— Kazehara. — Hiro disse de repente.
Yumi travou.
— S-sim!?
— Você tá... bem?
Ela piscou, completamente paralisada. Só conseguiu balançar a cabeça rapidamente.
"Não, eu não tô bem, tô apaixonada!"
— Tá com febre? — ele perguntou, levantando levemente a sobrancelha.
— S-só um pouco de sono! — respondeu, quase engasgando com as próprias palavras.
Enquanto isso, do fundo da sala, Hikari von Richter observava tudo, os olhos estreitados.
— Hmph… casalzinho irritante. — murmurou.
Ainda assim, havia um leve brilho curioso em seus olhos.
Talvez… nem ela soubesse o que aquilo significava.