Capítulo 65 – Silêncios e Espadas

A floresta de Brelh se estendia como uma tapeçaria viva de verdes escuros e sombras dançantes. O solo úmido abafava os passos, e o vento sussurrava por entre as folhas altas — carregando o cheiro de madeira, névoa e mana antiga.

Sakura Minazuki caminhava na frente, postura reta, mão próxima ao cabo da odachi Nozarashi. Seu andar era firme. O silêncio entre ela e Hiro era quase palpável.

Ele, como sempre, seguia em silêncio, apenas observando o terreno, atento a cada movimento ao redor. Nenhuma palavra desde que partiram da Academia.

Um homem de poucas palavras, pensava Sakura, mordendo discretamente a parte de dentro da bochecha. Por que isso me irrita tanto hoje...?

Ela tentou ignorar. Focar na missão. Na posição dos ferais. No mapa mágico preso à sua braçadeira.

Mas então ouviu.

— O barulho da relva à esquerda. Dois passos leves. Provavelmente um felino-férico. A cauda passou entre as ervas há exatos 4,6 segundos.

A voz dele. Neutra. Quase mecânica.

Sakura travou um instante.

— ...Você decorou os sons dos passos desses bichos? — perguntou, virando levemente o rosto.

— Sim.

— Por quê?

— Eficiência.

Sakura franziu o cenho.

— Você não responde com frases completas, não?

— Quando necessário.

Ela bufou e voltou a andar. O silêncio retornou.

Mas seu coração batia mais rápido. E não era por causa da missão.

“Por que você, Hiro Tanaka... por que você me faz ficar assim?”

Ela se lembrava da Professora Celine, Dizendo: "É amor, Minazuki".

Sakura havia negado. Claro que havia.

Mas agora, sozinha com ele no meio da floresta, sem ninguém para assistir ou julgar... era impossível mentir para si mesma.

“Meu rosto queimou. Minhas mãos suaram. Eu não consegui olhar nos olhos dele.”

Ela tentou se concentrar.

— A missão é simples. Checar os pontos de mana. Investigar as pegadas. Voltar. Sem distrações.

Hiro parou.

Sakura virou-se de novo.

— O quê?

— Sua postura mudou.

— Como assim?

— Está tensa. Forçando os ombros. A aura está contraída, não fluída.

Ela se sentiu atingida.

— E desde quando você analisa a minha postura?

— Desde sempre. Você teve o mesmo padrão quando hesitou no quarto golpe.

Sakura corou.

— Você me observa?!

— Observo todos. É parte da minha rotina.

— Você é impossível!

Ela se virou de novo, visivelmente desconcertada.

Hiro não entendeu o motivo da raiva. Mas notou algo: a oscilação na aura dela se intensificava sempre que ele falava diretamente com ela.

"Estranho."

“Isso... não acontecia na minha linha do tempo passada.”

Por algum motivo, isso o incomodava. Uma pequena, incômoda variável.

Sakura, por sua vez, queria socar uma árvore.

"Eu sou uma Minazuki! Eu não fico nervosa por causa de... de... de um cara calado!"

E no fundo, sabia que estava mentindo.

Porque cada vez que ele dizia algo, mesmo com aquele tom sem emoção, seu coração respondia como se estivesse lutando contra cem guerreiros ao mesmo tempo.

Ela estava apaixonada.

E não sabia lidar com isso.