Capítulo 64 – Terreno Instável

A sala de coordenação da Academia Arcadia exalava seriedade naquela manhã.

Todos os alunos da Classe Elite estavam enfileirados, atentos ao professor Orlen — um veterano de guerra com voz grave, rosto marcado e paciência zero.

— A missão de hoje é real. Patrulha tática na Floresta de Brelh, ele anunciou, segurando uma prancheta com firmeza. — Área considerada segura, mas com presença de monstros Rank E e D, nada muito difícil pra alguém da classe elite, recolher, patrulhar, retornar. E, principalmente, cooperar com a dupla.

As atenções se voltaram para a lista de nomes.

Mari, sentada discretamente no fundo, soltou um suspiro aliviado. Mesmo com o uniforme da Academia, ela não era aluna — apenas a criada infiltrada mais teimosa da história.

Ao seu lado, Yumi Kazehara apenas observava com um sorriso sereno. Ela já sabia que não participaria, estava isenta de qualquer missão de risco. Mas, ainda assim, seu olhar se prendia... a um certo aluno.

Hiro Tanaka, como sempre, parecia alheio à comoção ao redor.

— Duplas formadas com base em desempenho, compatibilidade de combate e afinidade elemental. Reclamem e ganham vinte flexões.

Silêncio respeitoso.

Orlen começou:

— Kurosawa e Tohma.

— O QUÊ?! — Saori explodiu na hora, apontando para o garoto alto e desajeitado ao lado. — EU?! Com ESSE... poste?!

— Sim, disse Orlen sem levantar os olhos da prancheta. — Ele domina o elemento terra, você domina quatro. Ele defende, você ataca. Equilíbrio.

— Grr.....

— Trinta flexões, respondeu o professor.

Tohma apenas sorriu, levantando a mão.

— Eu trouxe biscoitos, se ajudar.

— Não ajuda! gritou Saori, em puro desespero.

Yumi quase riu. Quase.

Orlen continuou:

— Von Richter e Helian.

Hikari, encostada na parede, abriu um olho pela primeira vez.

Ela olhou para Helian — um mago de suporte de cabelo loiro arrumado e olhos inseguros.

Não disse uma palavra. Apenas bufou, lenta.

— Inútil, murmurou.

— Se matarem o parceiro, perdem pontos, Orlen avisou antes que algo pior acontecesse.

Hikari apenas girou uma adaga no dedo, entediada. Mas seu olhar foi direto até Hiro. Frio. Afiado. Como quem já decidira que ele era uma variável que precisava ser vigiada.

Então veio o anúncio.

— Minazuki e Tanaka.

Sakura travou.

Seu nome ecoou na sala como um golpe de espada. Ela, sempre composta, sentiu o rosto corar.

— C-com licença... — tentou manter a postura. —

Confirmação: Hiro Tanaka, senhor

— Confirmação dada. Par de combate. Algum problema?

— N-não, senhor, disse ela, mesmo que seu coração estivesse batendo mais alto que qualquer grito.

Yumi, ao lado de Mari, arregalou os olhos.

— Ela ficou... vermelha? murmurou.

Mari sorriu com o canto dos lábios.

— Hmm. Alguém aí também gosta do Tanaka, Yumi-chan.

— Q-quem?! — Yumi fingiu naturalidade.

— Minazuki. Olha como ela não consegue nem encarar ele direto.

Yumi observou. Era verdade. Sakura mantinha a cabeça erguida, mas seus olhos evitavam o contato com Hiro. E quando ele disse apenas um “Entendido.” com seu tom calmo e direto, a espadachim pareceu congelar.

A Santa não disse nada. Mas sentiu algo no peito que não tinha nada a ver com magia. Um incômodo discreto. Quente. Confuso.

Ciúmes.

Ela não sabia nomear ainda. Mas sentiu.

Orlen então finalizou:

— As duplas partem às 10h. Equipem-se. E lembrem-se: a missão é simples. Mas a avaliação é total.

Os alunos começaram a se dispersar.

Sakura ajeitou sua odachi nas costas e saiu quase marchando, rígida, fugindo do próprio rubor.

Hiro caminhava logo atrás, indiferente ao furacão emocional que havia causado em silêncio.

Yumi observou até que ele desaparecesse pela porta.

Mari se aproximou e sussurrou:

— Vai deixar ele ir sozinho com outra garota? Hm?

— Não posso sair em missão, Mari.

— Mas seu coração já foi.

Yumi mordeu o lábio inferior e baixou os olhos.

Talvez tivesse razão.