O sol já havia começado a cair no horizonte quando Hiro Tanaka e Sakura Minazuki iniciaram a longa jornada de volta à Academia Arcadia. A floresta de Brelh, antes ameaçadora, agora parecia quieta demais — como se estivesse observando os dois de longe, em silêncio.
E falando em silêncio...
Hiro seguia na frente, passos ritmados, a aura desativada, a espada embainhada. Os olhos focados, a expressão imutável, como se nada da luta anterior tivesse abalado seu corpo — ou sua alma.
Sakura vinha no colo dele
Ou, pelo menos, tentava.
A torção leve no tornozelo ainda doía, mas não era o pé o problema agora. Era o coração. E a garganta. E o maldito rosto que teimava em continuar quente.
Ela estava sendo carregada. Estava nos braços dele.
E ele nem pareceu notar a gravidade do momento.
"Ele me segura como se eu fosse uma mochila."
Ela apertou as bochechas com as duas mãos, em puro desespero interno.
"E eu ainda não consegui dizer nada decente desde então!"
O som das folhas sob os pés de Hiro era a única trilha sonora.
Finalmente, ela decidiu quebrar o gelo.
— A-aquela coisa... o monstro... você, ahm... você lutou bem.
Hiro respondeu sem olhar pra ela.
— Você se expôs sem planejamento.
Ela travou.
— E-eu sei! Eu... eu só fiquei irritada comigo mesma, foi impulsivo, eu admito.
Silêncio.
Sakura tentou outra vez.
— Você... usou magia e aura ao mesmo tempo. Isso... é impossível...
— Treinei pra isso.
— Quanto tempo?
— Tempo suficiente.
— Você sempre responde assim?!
Hiro parou de andar. olhou nos olhos dela.
— Você sempre gagueja tanto?
Sakura congelou.
— Eu?! E-eu não estou... gaguejando!
Ele encarou por um segundo a mais do que o necessário.
Depois, olhou pra frente novamente e seguiu em frente.
Sakura bufou, braços cruzados, o rosto mais vermelho do que quando invocava aura.
"Esse maldito... sério, o que tem de errado com ele?!"
Mas seus olhos voltaram a observá-lo.
O caminhar firme. O corpo como pedra e disciplina.
E ainda assim…
Foi ele quem a segurou com cuidado.
Ele quem a protegeu.
Ele quem viu o erro antes dela cometê-lo.
E naquele silêncio sufocante da floresta, Sakura finalmente admitiu para si mesma:
"Eu tô perdida."
Horas depois, com Sakura já andando, ao saírem da mata e avistarem os portões da Academia Arcadia ao longe, a tensão no corpo de Sakura era menos do combate e mais da confusão emocional.
Ela sabia que o caminho de volta até lá seria curto demais.
Porque logo ele voltaria a ser apenas Hiro Tanaka — o aluno quieto, o enigma da classe.
E ela voltaria a fingir que não sentia nada.
Mesmo que já sentisse.. até o pescoço.