O céu já se tingia de tons dourados e alaranjados quando Hiro e Sakura atravessaram os portões da Academia.
Sakura ainda caminhava com leve rigidez — a dor física havia passado, mas o embaraço emocional... esse continuava latente. Ela mantinha os olhos fixos no chão, as mãos cruzadas atrás do corpo. O tempo todo tentando parecer natural.
Hiro, como sempre, seguia à frente, com passos firmes, sem dizer uma palavra, sem parecer notar a tensão que pairava entre os dois.
Mas alguém notou.
Duas pessoas, na verdade.
Yumi Kazehara estava sentada num banco do jardim frontal da torre leste, com uma xícara de chá fumegante nas mãos.
E Mari, sua inseparável empregada-disfarçada-de-aluna, ao seu lado, com um livro de capa rosa escandalosa intitulado: “Quando Ele Não Diz Nada, Mas Diz Tudo”.
Yumi levantou os olhos... e viu.
Sakura e Hiro. Voltando juntos.
Sakura com as bochechas levemente vermelhas, e Hiro com aquela expressão... de sempre.
— Ah... — Foi tudo o que conseguiu murmurar, abaixando a xícara.
Mari ergueu os olhos do livro, percebeu o olhar da Santa e abriu um sorrisinho.
— Eles voltaram vivos. Isso é bom, né?
— Sim... respondeu Yumi, forçando um sorriso. — Missão concluída. Isso que importa.
Mas o aperto no peito não queria ser ignorado.
Mari fechou o livro com um clack, sentando-se ereta como se estivesse prestes a dar um sermão.
— Yumi-chan.
— O que foi...?
— Você está com ciúmes.
— N-não estou!
— Está. E tudo bem. Eu li ontem que os sintomas são exatamente esses: olhar baixo, suspiro disfarçado e tentativa fracassada de parecer desinteressada.
— Você tirou isso de onde?!
— “Capítulo 6 de Romances Imortais – Quando o Coração Arde em Silêncio.”
Yumi enterrou o rosto nas mãos.
— Mari... agora não...
Mari suspirou.
Mas, pela primeira vez, sua voz ficou... suave.
— Yumi... você é a Santa. E todo mundo te respeita. Mas você ainda é uma garota. Uma garota que se apaixonou de verdade.
Yumi a olhou, surpresa com o tom sério.
Mari sorriu de leve.
— E isso... não é fraqueza. É coragem.
A Santa piscou.
— Você... você está dando um conselho bom?
— Sim. Peguei emprestado do capítulo 14.
— ...Ah.
Ambas riram.
Mas logo o riso morreu quando Hiro passou por elas, seguido de Sakura.
— Ah. Tanaka. Minazuki, disse Mari, erguendo a mão num cumprimento casual.
Hiro apenas acenou com a cabeça, impassível como sempre. Sakura tentou parecer neutra... mas tropeçou no próprio pé de leve. E ao ver Yumi ali, com Mari, congelou por um instante.
Olhar encontrou olhar.
Sakura desviou primeiro.
Yumi sorriu, doce... mas seus dedos apertaram a alça da xícara com mais força.
— Então... eles estão mesmo próximos agora? murmurou.
Mari respondeu sem hesitar:
— Estão mais próximos, sim. Mas... ele ainda não pertence a ninguém.
Yumi olhou para o chá, agora frio.
— Você acha que eu deveria...?
Mari a encarou.
— Você é a única que pode curar o que ele carrega, Yumi-chan. Só não espera que ele vá dizer isso em voz alta. Porque ele é burro.
Yumi soltou um riso tímido.
— Obrigada... eu acho.
Do outro lado do jardim, Hiro parou por um instante, sentindo um olhar pesado sobre ele. Ele virou o rosto discretamente... e viu.
Yumi. Com os olhos em sua direção.
Eles se encararam por um segundo.
Yumi desviou no mesmo instante, fingindo estar mexendo no chá.
Sakura também viu.
E sentiu o coração bater mais forte — de novo.
Silêncios. Olhares. Confissões não ditas.
A guerra mais perigosa... não estava nos campos de batalha.
Estava no coração.