A manhã seguinte chegou com céu limpo e brisa suave atravessando os corredores de pedra da Academia Arcadia. Alunos iam e vinham com suas tarefas, e a rotina parecia como sempre.
Mas para Yumi Kazehara, nada estava igual.
Ela caminhava pelos jardins internos com passos leves e postura impecável, mas por dentro, o coração martelava. As imagens do dia anterior não saíam da cabeça — Hiro e Sakura voltando da missão, o jeito hesitante da espadachim, o olhar rápido que desviou quando a viu. E o mais inquietante de tudo: o silêncio de Hiro. Sempre o mesmo silêncio. Sempre impossível de decifrar.
Na curva de um dos corredores, o destino decidiu ser direto.
Sakura Minazuki apareceu do lado oposto, também sozinha, com a Nozarashi pendendo nas costas e a expressão... contida.
Ambas pararam ao mesmo tempo.
A tensão no ar era invisível, mas qualquer um que passasse sentiria a densidade.
Yumi curvou levemente a cabeça.
— Minazuki-san. Bom dia.
Sakura fez o mesmo.
— Bom dia, Santa.
Silêncio.
O som de folhas balançando ao vento preencheu o vazio entre elas.
Yumi ajeitou a manga do uniforme, fingindo distração.
— Soube que a missão foi concluída com êxito. Fico aliviada.
— Sim... nada fora do previsto. Sakura respondeu, mas o olhar escapou para longe por um instante.
— Que bom... imagino que tenha sido uma experiência... intensa, disse Yumi, tentando não deixar o ciúmes vazar pela voz.
Sakura hesitou.
— Foi apenas uma patrulha.
Yumi assentiu, mas sentiu o peito apertar. O jeito como Sakura evitava detalhes dizia mais do que qualquer relatório.
— Tanaka-san também retornou sem ferimentos? — perguntou, tentando soar natural.
— Sim. Como sempre... preciso. Letal. — Sakura respondeu sem perceber que sorria, mesmo que discretamente.
Yumi percebeu. E o coração doeu.
— Ele é... assim mesmo, murmurou.
Outro silêncio.
Sakura finalmente olhou diretamente nos olhos da Santa. Aquele verde límpido, sereno, mas naquele instante... perturbado.
— Santa... posso perguntar uma coisa?
— Claro, Minazuki-san.
— Você gosta dele, não é?
Yumi arregalou os olhos. Por um momento, esqueceu até de respirar.
Mas logo recompôs a postura. Como se ativasse um feitiço de contenção emocional.
— ...Sim.
Sakura assentiu. Sem raiva. Sem surpresa.
— Imaginei. A classe toda sabe, afinal.
Yumi tentou sorrir. Mas foi triste. Contido.
— E você?
Sakura apertou os dedos da mão direita.
— Não sei responder.
— Mas sente algo.
— ...Sim.
Nenhuma das duas abaixou o olhar.
Não houve rivalidade. Nem hostilidade.
Apenas duas garotas... de mundos diferentes... em silêncio.
Yumi baixou os olhos por um instante.
— Ele não percebe nada disso.
— Eu sei, disse Sakura. — E talvez nunca perceba.
— Mesmo assim... Yumi inspirou devagar. — Eu ainda quero tentar.
Sakura assentiu, com um olhar tranquilo... e melancólico.
— Então boa sorte, Santa.
— Boa sorte, Minazuki-san.
Elas se curvaram levemente, como duas nobres em duelo — não com espadas, mas com sentimentos.
E seguiram por caminhos opostos.
Mas com o mesmo destino no coração.