Capítulo 69 – Cordialidade Tensa

A manhã seguinte chegou com céu limpo e brisa suave atravessando os corredores de pedra da Academia Arcadia. Alunos iam e vinham com suas tarefas, e a rotina parecia como sempre.

Mas para Yumi Kazehara, nada estava igual.

Ela caminhava pelos jardins internos com passos leves e postura impecável, mas por dentro, o coração martelava. As imagens do dia anterior não saíam da cabeça — Hiro e Sakura voltando da missão, o jeito hesitante da espadachim, o olhar rápido que desviou quando a viu. E o mais inquietante de tudo: o silêncio de Hiro. Sempre o mesmo silêncio. Sempre impossível de decifrar.

Na curva de um dos corredores, o destino decidiu ser direto.

Sakura Minazuki apareceu do lado oposto, também sozinha, com a Nozarashi pendendo nas costas e a expressão... contida.

Ambas pararam ao mesmo tempo.

A tensão no ar era invisível, mas qualquer um que passasse sentiria a densidade.

Yumi curvou levemente a cabeça.

— Minazuki-san. Bom dia.

Sakura fez o mesmo.

— Bom dia, Santa.

Silêncio.

O som de folhas balançando ao vento preencheu o vazio entre elas.

Yumi ajeitou a manga do uniforme, fingindo distração.

— Soube que a missão foi concluída com êxito. Fico aliviada.

— Sim... nada fora do previsto. Sakura respondeu, mas o olhar escapou para longe por um instante.

— Que bom... imagino que tenha sido uma experiência... intensa, disse Yumi, tentando não deixar o ciúmes vazar pela voz.

Sakura hesitou.

— Foi apenas uma patrulha.

Yumi assentiu, mas sentiu o peito apertar. O jeito como Sakura evitava detalhes dizia mais do que qualquer relatório.

— Tanaka-san também retornou sem ferimentos? — perguntou, tentando soar natural.

— Sim. Como sempre... preciso. Letal. — Sakura respondeu sem perceber que sorria, mesmo que discretamente.

Yumi percebeu. E o coração doeu.

— Ele é... assim mesmo, murmurou.

Outro silêncio.

Sakura finalmente olhou diretamente nos olhos da Santa. Aquele verde límpido, sereno, mas naquele instante... perturbado.

— Santa... posso perguntar uma coisa?

— Claro, Minazuki-san.

— Você gosta dele, não é?

Yumi arregalou os olhos. Por um momento, esqueceu até de respirar.

Mas logo recompôs a postura. Como se ativasse um feitiço de contenção emocional.

— ...Sim.

Sakura assentiu. Sem raiva. Sem surpresa.

— Imaginei. A classe toda sabe, afinal.

Yumi tentou sorrir. Mas foi triste. Contido.

— E você?

Sakura apertou os dedos da mão direita.

— Não sei responder.

— Mas sente algo.

— ...Sim.

Nenhuma das duas abaixou o olhar.

Não houve rivalidade. Nem hostilidade.

Apenas duas garotas... de mundos diferentes... em silêncio.

Yumi baixou os olhos por um instante.

— Ele não percebe nada disso.

— Eu sei, disse Sakura. — E talvez nunca perceba.

— Mesmo assim... Yumi inspirou devagar. — Eu ainda quero tentar.

Sakura assentiu, com um olhar tranquilo... e melancólico.

— Então boa sorte, Santa.

— Boa sorte, Minazuki-san.

Elas se curvaram levemente, como duas nobres em duelo — não com espadas, mas com sentimentos.

E seguiram por caminhos opostos.

Mas com o mesmo destino no coração.