Capítulo 70 – Instruções e Intenções

O campo de treino da ala de combate estava quase vazio naquela tarde.

A luz dourada do sol filtrava-se entre as folhas, criando sombras longas sobre a arena de terra batida. O som de lâminas de treino cortando o ar ecoava entre os pilares de pedra, ritmado, quase como uma dança.

No centro do campo, Hiro Tanaka estava de pé, com a espada curta em mãos, observando atentamente a postura da garota à sua frente.

Sakura Minazuki empunhava sua odachi com precisão, executando uma sequência rápida de cortes. O suor escorria pela lateral do rosto, mas o brilho nos olhos vermelhos não vinha apenas do esforço físico.

Vinha da atenção dele.

— Corte lateral. Peso muito à frente, murmurou Hiro.

Sakura corrigiu.

— Recuo defensivo. Dois décimos de segundo atrasada.

Ela assentiu, e girou.

— Terceiro golpe... hesitou, ele comentou.

Sakura sorriu de leve. Um sorriso tímido, contido.

E errava de novo.

De propósito.

Não porque quisesse parecer fraca, mas... porque gostava de ouvir ele corrigir. Da maneira como ele observava tudo. Como ele notava cada detalhe, até os que ela não percebia em si mesma.

Ela sabia que era tolo.

Mas quando Hiro dizia:

— Você consegue melhor que isso, Sakura,

...era como se o coração dela pulasse dentro do peito.

Na arquibancada de pedra, entre os alunos que assistiam, Yumi Kazehara estava sentada ao lado de Mari, com o grimório no colo... fechado há vinte minutos.

Ela mal piscava.

Seus olhos verdes estavam fixos no centro do campo, onde Hiro e Sakura treinavam. Ou melhor, onde Sakura sorria cada vez que Hiro corrigia algo. E Hiro — mesmo sem parecer — dedicava uma atenção constante e detalhada a cada movimento dela.

Mari percebeu, óbvio.

— O grimório vai começar a te perguntar por que você não abre ele, sussurrou.

— ...Eu só estava observando, murmurou Yumi, desviando o olhar. Tarde demais. O rubor já havia subido até as orelhas.

— Claro. Observando a técnica da Minazuki, né?

Yumi mordeu o lábio inferior, apertando as mãos no colo.

— Ela está sorrindo.

— Você também sorriria se o cara por quem você tem uma quedinha vivesse corrigindo sua postura com frases frias e olhos de assassino.

— Mari...

— É só uma observação educacional.

Yumi não respondeu. Apenas olhou de novo.

No campo, Hiro parou.

Ele estreitou os olhos por um instante e disse:

— Você está errando de propósito.

Sakura congelou.

— O quê?

— A sequência da sua espada está intencionalmente atrasada em 0.2 segundos. Você nunca hesita na parte do contra-golpe. Está criando brechas para que eu corrija.

A espadachim tentou manter a compostura... mas corou.

— Q-quê?! Isso é só impressão sua!

— Não sou impressionável.

Ele abaixou a espada.

— Está sendo ineficiente. Corrija ou encerre o treino.

Sakura mordeu o lábio e olhou para o lado. Mas em vez de irritação, havia algo estranho nos olhos dela.

"Mesmo quando me rejeita... ele me faz querer melhorar."

Na arquibancada, Yumi sentiu o estômago apertar.

Não era raiva.

Era... medo. Medo de não conseguir alcançar ele do mesmo jeito.

Mari colocou a mão no ombro da Santa.

— Você ainda tem vantagem.

— Qual?

— Você cura. Ela corta.

— Isso não faz sentido.

— O amor também não faz.

Yumi baixou o olhar.

No campo, Hiro voltou à posição de treino.

Sakura levantou a odachi de novo, agora séria.

Mas o coração dela... estava batendo rápido demais.

E na arquibancada, outro coração também.

Dois sentimentos crescendo.

Por um garoto que não sorria.

E ainda assim, era impossível ignorar.