A tarde avançava, tingindo os céus da Arcadia com tons de âmbar e lilás.
O campo de treino ainda pulsava com energia residual. Alunos vinham e iam, mas no centro, ele continuava lá.
Hiro Tanaka, espada embainhada, sentado sob uma árvore, olhos fechados — como se descansasse. Mas quem o conhecia (ou ao menos tentava) sabia: ele estava meditando. Ou analisando.
Na arquibancada, Yumi permanecia quieta, fingindo ler o grimório (de novo). Ao seu lado, Mari comia uma maçã verde, observando tudo com olhos de águia disfarçada de coruja fofa.
— Yumi-chaaaan... cantarolou Mari com a boca cheia.
— Agora não.
— Lembra quando eu disse que outras garotas poderiam gostar dele?
— ...Sim.
— E você disse que era só impressão minha?
Yumi virou o rosto, confusa.
— O que você tá insinuando agor—
Mari apontou com a mordida da maçã.
— Ali. Quatro fileiras abaixo. Blusa azul. Cara de tédio forçado.
Yumi acompanhou o olhar. Arqueou uma sobrancelha.
Saori Kurosawa.
Sentada casualmente, com o bastão mágico apoiado no ombro e a perna balançando no ar. O olhar? Fixado em Hiro. Não por um segundo. Nem dois. Mas... tempo demais.
Yumi arregalou os olhos, murmurando:
— Ela está... vigiando ele?
— “Investigando" é a palavra que ela usaria. Mas... olha a mordida no lábio inferior. Isso é código para "por que você é tão calado e interessante ao mesmo tempo, seu idiota bonito".
— Mari...
— Não fui eu que escrevi o manual do flerte mágico silencioso. Foi o Capítulo 9 do Magia, Mistérios e Amores que Dão Errado.
Yumi desviou o olhar. Mas o coração... já tinha ficado pesado.
Na mesma arquibancada, só que mais à esquerda, Sakura também viu.
Ela estava prestando atenção em Hiro ainda, mas o movimento repetido dos olhos de Saori chamou sua atenção. O modo como ela apertava o bastão mágico, como fingia desviar o olhar quando Hiro se mexia. Mas sempre voltava. Sempre.
Sakura estreitou os olhos.
— Hmph.
Ela se levantou, caminhando em direção à saída com a espada nas costas. Mas antes de virar o corredor, olhou por cima do ombro — direto para Saori — e disse, em tom baixo, mas firme:
— Você está encarando ele demais, Kurosawa.
Saori piscou.
— É parte da minha observação. Tenho meus motivos.
— Claro. Sakura virou o rosto. — “Motivos... sentimentais"?
Saori travou por um segundo.
— O que você está insinuando?
— Nada, respondeu Sakura, fria. — Mas se continuar encarando, vai atrair mais do que atenção.
E saiu.
Saori ficou sentada, agora... visivelmente desconfortável.
Yumi, ainda de longe, observava tudo.
E sentia o coração bater mais rápido.
— Eu... pensei que estivesse sozinha nisso, murmurou.
Mari cruzou os braços, com um meio sorriso.
— Hiro Tanaka. O monolito emocional que não percebe nada, mas atrai tudo.
— Isso não é justo...
— Amor nunca é.
No centro do campo, Hiro abriu os olhos.
Não olhou para ninguém. Mas por um segundo... pareceu pensar:
Por que todo mundo me encara ultimamente?
E voltou a fechar os olhos.