A aula prática de conjuração elemental estava em andamento na Ala de Treino. Runas brilhavam nas paredes, e círculos mágicos flutuavam acima das mesas, interligados por fluxos de mana ativa.
O professor explicava sobre estabilidade de conjuração em combate, mas boa parte da Classe Elite parecia mais interessada na movimentação de certos alunos específicos.
Hiro escrevia com a mão direita, como sempre: preciso, metódico, como se estivesse transcrevendo uma fórmula matemática e não encantamentos mágicos.
Mas, de vez em quando, seus olhos desviavam discretamente para o lado.
Saori Kurosawa, duas fileiras adiante, fingia que não notava. Mas ele sabia que ela olhava. Sempre. Nas aulas. No pátio. Durante os treinos.
Ela nunca se aproximava demais. Nunca perguntava diretamente. Mas tudo nela era... cuidadoso demais.
Hiro observou mais um momento. E anotou mentalmente:
“Kurosawa. Observação constante. Frequência aumentada. Tom de voz levemente forçado."
“Ela está investigando. Ou....."
“…”
Ele descartou a segunda hipótese. Ainda.
— Hora da prática, anunciou o professor. Conjuração de precisão. Cada aluno usará o feitiço de seu elemento principal. Vamos avaliar eficiência, estabilidade e controle.
Um a um, os alunos começaram.
Chamas, água, pedras, rajadas de vento — tudo em sincronia, alguns melhores que outros.
Chegou a vez de Yumi Kazehara. Ela respirou fundo, fechou os olhos, e desenhou um círculo de cura avançado, estável, perfeito — como sempre. A luz esverdeada brilhou suave, pura, gentil. Um silêncio respeitoso tomou a sala.
— Impecável, comentou o professor.
Hiro, sem olhar diretamente, murmurou:
— Delicado, mas funcional. A mana fluiu de forma controlada.
Yumi ficou estática.
Ela ouviu.
O elogio era seco. Técnico. Mas ele tinha notado.
O rosto da Santa corou como se tivesse lançado uma magia de fogo em si mesma. Mari, do lado, bateu o cotovelo nela e sussurrou:
— TÁ VERMELHA.
— C-cala a boca!
Logo depois, foi a vez de Sakura Minazuki.
Ela avançou com passos determinados, mas a expressão carregava tensão. Levantou a palma e conjurou um círculo de vento simples — não seu elemento principal, mas um que vinha treinando. O fluxo oscilou, quase escapou… mas se estabilizou.
O redemoinho atingiu o alvo com precisão moderada.
— Razoável, disse o professor.
E então Hiro completou:
— Você hesitou no início, mas ajustou bem no segundo fluxo. Controle adaptativo.
Sakura travou por meio segundo.
Respirou fundo.
Ergueu a cabeça.
— Obrigada, disse baixo.
Mari, do fundo, acompanhava tudo como quem assistia a um romance em tempo real.
— E agora... — sussurrou. — Entra a Kurosawa. Vai se fazer de difícil.
Saori avançou com passos elegantes. Ela invocou duplo círculo de vento com camada de fogo — uma fusão avançada, estável, poderosa.
Chamas entrelaçadas com redemoinhos — girando, se comprimindo — e então explodindo em uma rajada direcionada que acertou o alvo com precisão brutal.
Impacto limpo.
A sala aplaudiu.
Hiro cruzou os braços.
— Bom uso do entrelaçamento. Mas os círculos colapsaram por 0.4 segundos antes do final.
Saori se virou.
— Você mediu isso no olho?
— Sim.
Ela bufou, tentando parecer indiferente.
— Você sempre tem que achar um defeito?
— Só com quem tem potencial.
A classe fez um “oooh” abafado.
Saori desviou o olhar. Os olhos arregalados. As bochechas... vermelhas.
Mari se virou pra Yumi e sussurrou:
— Ela tá caindo também.
Yumi mordeu o lábio inferior.
Sakura cruzou os braços com mais força.
E Hiro… se sentou na arquibancada.
Como se não tivesse deixado três corações descompassados em meia aula.