O sol mal havia surgido quando Hiro Tanaka deixou os portões da Academia Arcadia. Com uma mochila leve nas costas e a espada embainhada, ele seguia pelas ruelas da capital, atravessando os mercados ainda despertando, os becos esquecidos e os becos mais ainda.
Valkrim estava viva.
Mas ele a conhecia melhor morta.
As luzes da cidade não o impressionavam. Nem os bardos, nem os aromas das barracas, nem os encantos de luz dançando acima de tendas. Tudo aquilo, em outra vida, havia sido coberto por cinzas, sangue e gritos.
Agora, parecia normal.
Mentira.
— Dois anos, três meses e oito dias… — sussurrou. — Ainda está cedo.
Ele seguiu direto para o Bairro Norte, onde sua família o esperava. Mas Hiro não sabia que três sombras o seguiam discretamente pelas veias pulsantes da cidade.
Sakura Minazuki andava entre os telhados com leveza e precisão militar. Usava roupas simples, mas ainda carregava a odachi nas costas.
"Ele é forte demais. Preciso entender por quê. Talvez observar onde ele cresceu me ajude a entender a base dessa força..."
Sakura acreditava estar sozinha nessa missão. Mas ela estava enganada.
Yumi Kazehara, com o capuz da túnica puxado até a ponta do nariz, seguia a uma boa distância pelas calçadas, tentando não se perder na multidão.
"Isso é loucura... O que estou fazendo? — pensava, o rosto queimando de vergonha. Mas... eu queria saber mais. Saber quem ele é fora da Academia..."
Ela desviava o olhar toda vez que alguém a reconhecia como Santa, apertando o passo discretamente.
"Hiro… por que me deixa tão confusa assim?"
E muito acima, sobre uma torre de sino abandonada, estava Hikari von Richter.
Deitada, binóculo mágico em mãos, ela observava tudo com um sorrisinho felino no canto dos lábios.
— Então vocês duas também estão seguindo ele… — murmurou, divertida. — Inocentes.
Ela sabia. Ela sempre sabia. Já havia identificado a presença de Sakura e Yumi. Sabia suas rotas, sabia seus padrões. Mas elas não sabiam uma da outra.
Só ela caçava com olhos abertos.
— Vai ser divertido.
Enquanto isso, Hiro chegava ao portão da casa onde sua família agora vivia. Uma construção firme, discreta, de dois andares. Uma lareira acesa já deixava o cheiro de carvão no ar.
Ele bateu de leve.
A porta se abriu.
— HIRO! — gritou uma voz feliz, e a irmã mais nova correu e pulou nos braços dele, rindo.
— Você voltou!
Ayame apareceu logo atrás, sorrindo emocionada, e Hayato desceu as escadas com um aceno firme de cabeça. A casa ganhou vida. Risos, cheiros de comida, calor de lar.
Hiro sentiu o peito apertar.
"Mesmo que tudo desabe depois... ainda tenho isso."
Longe dali, nas sombras, três figuras observavam.
Sakura, em um telhado próximo, via tudo com olhos analíticos. O comportamento do pai, da mãe, da irmã... a estrutura da casa... o ambiente de disciplina velada.
"Ele vive como um guerreiro."
Yumi, escondida atrás de um balcão de flores, olhava a cena com um sorriso pequeno nos lábios. Quando viu Hiro rindo com a irmã, o coração dela quase explodiu.
"Ele... parece tão diferente. Tão humano."
E Hikari, de um beiral acima, observava tudo com olhos de predador.
— Família, hein… — ela sussurrou, os olhos escurecendo. — Vamos ver quanto tempo você consegue mantê-los vivos... Hiro Tanaka.