Capítulo 37 — As Sombras de Valkrim

O sol mal havia surgido quando Hiro Tanaka deixou os portões da Academia Arcadia. Com uma mochila leve nas costas e a espada embainhada, ele seguia pelas ruelas da capital, atravessando os mercados ainda despertando, os becos esquecidos e os becos mais ainda.

Valkrim estava viva.

Mas ele a conhecia melhor morta.

As luzes da cidade não o impressionavam. Nem os bardos, nem os aromas das barracas, nem os encantos de luz dançando acima de tendas. Tudo aquilo, em outra vida, havia sido coberto por cinzas, sangue e gritos.

Agora, parecia normal.

Mentira.

— Dois anos, três meses e oito dias… — sussurrou. — Ainda está cedo.

Ele seguiu direto para o Bairro Norte, onde sua família o esperava. Mas Hiro não sabia que três sombras o seguiam discretamente pelas veias pulsantes da cidade.

Sakura Minazuki andava entre os telhados com leveza e precisão militar. Usava roupas simples, mas ainda carregava a odachi nas costas.

"Ele é forte demais. Preciso entender por quê. Talvez observar onde ele cresceu me ajude a entender a base dessa força..."

Sakura acreditava estar sozinha nessa missão. Mas ela estava enganada.

Yumi Kazehara, com o capuz da túnica puxado até a ponta do nariz, seguia a uma boa distância pelas calçadas, tentando não se perder na multidão.

"Isso é loucura... O que estou fazendo? — pensava, o rosto queimando de vergonha. Mas... eu queria saber mais. Saber quem ele é fora da Academia..."

Ela desviava o olhar toda vez que alguém a reconhecia como Santa, apertando o passo discretamente.

"Hiro… por que me deixa tão confusa assim?"

E muito acima, sobre uma torre de sino abandonada, estava Hikari von Richter.

Deitada, binóculo mágico em mãos, ela observava tudo com um sorrisinho felino no canto dos lábios.

— Então vocês duas também estão seguindo ele… — murmurou, divertida. — Inocentes.

Ela sabia. Ela sempre sabia. Já havia identificado a presença de Sakura e Yumi. Sabia suas rotas, sabia seus padrões. Mas elas não sabiam uma da outra.

Só ela caçava com olhos abertos.

— Vai ser divertido.

Enquanto isso, Hiro chegava ao portão da casa onde sua família agora vivia. Uma construção firme, discreta, de dois andares. Uma lareira acesa já deixava o cheiro de carvão no ar.

Ele bateu de leve.

A porta se abriu.

— HIRO! — gritou uma voz feliz, e a irmã mais nova correu e pulou nos braços dele, rindo.

— Você voltou!

Ayame apareceu logo atrás, sorrindo emocionada, e Hayato desceu as escadas com um aceno firme de cabeça. A casa ganhou vida. Risos, cheiros de comida, calor de lar.

Hiro sentiu o peito apertar.

"Mesmo que tudo desabe depois... ainda tenho isso."

Longe dali, nas sombras, três figuras observavam.

Sakura, em um telhado próximo, via tudo com olhos analíticos. O comportamento do pai, da mãe, da irmã... a estrutura da casa... o ambiente de disciplina velada.

"Ele vive como um guerreiro."

Yumi, escondida atrás de um balcão de flores, olhava a cena com um sorriso pequeno nos lábios. Quando viu Hiro rindo com a irmã, o coração dela quase explodiu.

"Ele... parece tão diferente. Tão humano."

E Hikari, de um beiral acima, observava tudo com olhos de predador.

— Família, hein… — ela sussurrou, os olhos escurecendo. — Vamos ver quanto tempo você consegue mantê-los vivos... Hiro Tanaka.