A mesa estava posta com uma simplicidade calorosa: arroz recém-preparado, carne bem passada, legumes temperados com ervas locais. Um lar. Um cheiro que Hiro Tanaka havia esquecido.
Mio já se servia com entusiasmo.
— Então, então, então! — ela falava com a boca cheia. — Como foi?! A Academia é gigante? Os professores gritam? Tem gente voando pelos corredores?!
Ayame riu, sentando-se.
— Mio, calma... deixa seu irmão respirar.
Hayato apenas observava. Sempre silencioso, sempre atento.
Hiro pegou os talheres com tranquilidade. A comida estava ótima. Quente. Viva.
— Foi tranquilo.
— Tranquilo? — Mio fez careta. — Você tá na classe elite, Hiro! Fala sério! Como isso aconteceu?
Ayame se inclinou para frente, os olhos curiosos.
— É, estamos esperando essa parte desde que você mandou a carta. Como entrou? Fez amigos?
Hiro mastigou lentamente, depois respondeu com a voz calma de sempre:
— Fiz alguns contatos. Fiz uma pesquisa em dupla, por exemplo…
— Com quem? — Mio perguntou, chutando levemente a perna dele. — É alguém forte? Um general disfarçado?
Hiro olhou para o prato, então disse:
— Yumi Kazehara.
Silêncio.
— A... A SANTA?! — Ayame, Mio e Hayato gritaram ao mesmo tempo, fazendo os talheres tremerem.
Yumi Kazehara, do lado de fora da casa, agachada atrás de uma cerca, não escutou uma única palavra disso.
Ela havia travado... completamente.
"Ele falou.. meu nome..."
E então, sua mente começou a criar imagens por conta própria.
Yumi, sentada com Hiro na biblioteca, rindo suavemente enquanto trocam ideias sobre magia avançada.
Hiro estendendo a mão para afastar uma mecha de cabelo do rosto dela.
Ela derrubando um livro e os dois se abaixando ao mesmo tempo, suas mãos se tocando.
"Ele diz que conversa comigo... como se fosse normal..."
Seus dedos apertaram o tecido da saia com força.
O rosto vermelho. O coração acelerado.
Ela quase esqueceu que estava ali como uma espiã improvisada.
— Será que ele gosta de conversar comigo? Será que ele... me acha legal? — ela murmurou baixinho.
Do alto de uma torre abandonada próxima, Hikari von Richter observava com um meio sorriso.
— Tão previsível, bonequinha. Se perdeu nos próprios sonhos....
Dentro da casa, Hiro continuava comendo, enquanto Ayame e Mio quase gritavam em uníssono.
— Você tem que trazer ela aqui!
— ELA PODE CURAR QUALQUER COISA?!
— Quantas asas ela tem?!
— Ela brilha?!
— Ela é bonita, Hiro?
Hiro suspirou.
— Ela... é só uma garota normal.
Lá fora, Yumi se afundava ainda mais nos devaneios, sem saber que ele havia acabado de dizer exatamente aquilo.
"Uma garota normal..."
Ela sorriu baixinho.
Talvez... talvez um dia ela realmente pudesse ser.