Capítulo 39 – A Filha do Santo da Espada

O jantar seguia tranquilo — ou pelo menos tão tranquilo quanto podia ser com Ayame ainda processando o fato de que seu filho dividia tarefas escolares com a Santa. Mio não parava de fazer perguntas bobas, e Hayato ouvia tudo com a calma habitual, mas com um olhar cada vez mais estreito.

Foi quando Hiro comentou, do nada:

— Ah. Também lutei com alguém interessante na academia.

— Alguém forte? Hayato perguntou, com aquele tom de veterano avaliando discretamente.

— Uhum, Hiro respondeu, pegando mais um pedaço de carne. Tem base sólida, técnica real. Só falta polimento.

Ayame inclinou o corpo para frente.

— E quem é?

— Sakura Minazuki.

— A FILHA DO SANTO DA ESPADA?! — gritaram Ayame, Mio e Hayato ao mesmo tempo.

Mio quase caiu da cadeira. Ayame derrubou o garfo no chão. E Hayato? Ele simplesmente ficou em silêncio... mas o olhar dele perfurava a alma.

Hiro, impassível como sempre, mastigava como se tivesse falado o nome de uma estudante qualquer.

— Sim. Ela mesma.

— Você... Lutou com ela? Ayame perguntou, a voz ainda um pouco trêmula.

— Foi um duelo. Aula prática. Nada demais.

— E como foi? Hayato perguntou, sem piscar.

Hiro hesitou por meio segundo.

Depois, deu de ombros.

— Acho que exagerei um pouco. Acabei batendo demais. Corrigi cada erro no estilo dela e... bom, derrotei ela.

— VOCÊ DERROTOU A FILHA DO SANTO DA ESPADA?! — gritaram os três em uníssono, ainda mais alto do que antes.

— Ela levantou no fim e me agradeceu pelas correções, Hiro acrescentou com tranquilidade, como se tivesse corrigido o dever de matemática de uma colega. — Disse que eu a ajudei a enxergar os pontos cegos da técnica dela.

Hayato o encarou como se ele fosse um personagem de lenda.

— Hiro....Você... derrotou a menina que dizem que partiu uma árvore no meio com um único golpe aos doze anos...?

— Ela usa uma odachi muito pesada e centraliza força demais no quadril. Isso a deixa vulnerável a contra-ataques rápidos. Eu só... aproveitei.

— Só aproveitou, Ayame repetiu em estado de choque.

— Mas com todo respeito, Hiro completou. — Ela tem talento. Vai ser perigosa no futuro. Eu só conheço o estilo dela porque... bom, lutei contra ela muitas vezes na outra vida.

— Na o quê? Hayato franziu o cenho.

— Nada. Hiro se levantou. — vou dar uma olhada no telhado.

Sakura, ouvindo tudo da esquina, sentiu as bochechas queimarem.

"Ele... contou pra família dele."

"Disse que tenho talento..."

Ela apertou os pães no colo e olhou para o céu escurecendo.

— É só respeito de guerreiro pra guerreiro... nada além disso

Ela não sabia o que sentia, mas sabia que queria lutar com ele de novo.

E de novo.

Até estar à altura.

Yumi, escondida atrás do arbusto, nem escutou nada disso.

Ela ainda estava presa na fantasia mental de “conversas diárias com Hiro”.

"Será que ele gosta do meu jeito quieto? Ou será que... eu deveria ser mais direta?"

"Não... direta não. Isso seria escandaloso..."

Ela ficou vermelha só de imaginar.

E no telhado mais alto da rua, Hikari, comendo morangos roubados, bufou:

— Agora essa espadachim idiota também tá sonhando.

Ela lambeu os dedos e focou os olhos em Hiro.

— Mas tudo bem... deixem ele brincar de tutor.

— Quando ele cair... vai ser só meu.