Faltavam três dias para o início do Torneio Interno da Academia Arcadia.
E a ansiedade pairava sobre a Classe Elite como uma névoa invisível, densa, quase mágica.
Até os instrutores, sempre exigentes, haviam suspendido os treinos físicos — qualquer ferimento agora podia custar mais do que uma derrota.
A semana foi dedicada à teoria:
Estratégia mágica.
Análise de batalhas históricas.
Tática de movimentação arcana.
Confrontos clássicos entre escolas de combate.
Naquela manhã, os alunos estavam espalhados pela grande sala semicircular.
Grimórios flutuavam abertos, e hologramas de duelos dançavam no ar sobre telas mágicas. Os instrutores circulavam, anotando detalhes com gestos silenciosos.
— Com base na formação de círculo quádruplo, qual é a melhor resposta para interromper uma invocação de tipo água em campo aberto? — perguntou o Professor de Teoria Arcana.
— Fogo de dispersão lateral. — respondeu Hiro, sem erguer os olhos da imagem mágica suspensa à sua frente.
— Correto, Tanaka, disse o professor, registrando a resposta com um gesto.
Saori, a poucas mesas de distância, fechou o grimório com força, os olhos semicerrados.
"Idiota… sempre respondendo certo… sempre com essa cara de mármore…"
Mas o rubor teimava em permanecer em suas bochechas. Ela virou o rosto, apoiando o queixo na mão, tentando parecer desinteressada.
“Não é gratidão. É protocolo. Devolver um favor. Um gesto nobre, só isso.”
"Então porque esse maldito coração acelera quando ele fala?! Urgh!"
Na fileira da frente, Yumi lutava contra o próprio autocontrole. Sua caneta mágica tremia entre os dedos enquanto ela tentava focar na lição.
— Yumi-chaaaan…, veio o sussurro venenoso de Mari, que surgia ao seu lado com um sorriso de quem já tinha visto demais.
— O quê agora…?
— Você já olhou pro Tanaka oito vezes só nessa aula.
— N-não foi tudo isso! E por que você tá contando?!
— “Porque ele também olhou pra você. Uma vez. Por meio segundo. E você quase caiu da cadeira.”
Yumi enfiou o rosto nos braços.
— Você acha que esconde bem, mas... a sala inteira sabe. Desde a carta. Só ele que não percebe.
— Mari, eu vou... evaporar.
— Não sem antes se declarar.
Yumi apenas gemeu baixinho.
No fundo da sala, Sakura Minazuki sentava-se com a coluna reta, os olhos atentos ao holograma de um combate entre dois mestres do Iaijutsu.
Mas, de tempos em tempos… desviava os olhos.
Para ele.
"Eu já sei o que sinto. Mas por que... por que é tão difícil agir normalmente?"
Hiro corrigira sua técnica duas vezes na última semana.
“Pés fora do eixo.”
“Corte alto demais.”
Era irritante.
E reconfortante.
"Droga. Não é hora pra isso. Tenho que focar. Treinar. Vencer…"
Mas o calor no rosto negava qualquer disciplina.
Do outro lado da sala, sentada com a perna cruzada e entediada, Hikari von Richter girava distraidamente uma caneta entre os dedos.
Ela observava tudo com aquele sorriso indecifrável.
"Todos esses prodígios… nervosos, tensos… apaixonados."
"Tão frágeis."
Quando os olhos dela cruzaram os de Hiro, ele a encarou por um instante.
Nada foi dito.
Ela riu baixinho, chamando atenção de ninguém.
O professor seguiu a aula. Falava de composições de mana, formações hexacíclicas, estratégias adaptativas.
Mas quase ninguém ouvia.
A mente de todos… já estava no torneio.
A tensão era palpável.
O silêncio entre os alunos não era desinteresse.
Era concentração.
Era o peso da guerra que se aproximava.
Quando o sinal mágico ecoou pela sala, encerrando a aula, os alunos começaram a guardar os materiais com lentidão cuidadosa — como se cada movimento fosse o último antes do combate.
O professor fez apenas um aviso antes da saída:
— Todos devem comparecer ao auditório central amanhã. Sorteio das chaves.
Preparem-se.
Não serão apenas duelos entre colegas. Serão testes de verdade.
O silêncio se adensou.
Hiro fechou o grimório.
Ergueu-se.
Saiu da sala.
Sem olhar para ninguém.
Mas todos olharam para ele.
Porque em três dias…
o caos começaria.