Capítulo 87 – Sinais nas Sombras

O intervalo entre as aulas era breve, mas suficiente para as emoções aflorarem — principalmente em tempos como aquele, com o Torneio Interno da Academia Arcadia se aproximando.

No corredor principal da ala teórica, onde vitrais mágicos filtravam a luz em tons dourados e azuis, Sakura caminhava com passos firmes... mas hesitantes. Em mãos, segurava uma pequena caixa de madeira escura, adornada com o símbolo do clã Minazuki: um pinheiro solitário contra a lua cheia.

Ao avistar Yumi perto de uma das fontes ornamentais, com Mari ao lado tentando equilibrar livros e uma xícara de chá ao mesmo tempo, Sakura respirou fundo.

— Santa.

Yumi se virou de imediato. Estava sorridente, como sempre, mas seus olhos vacilaram levemente ao ver a seriedade de Sakura.

— Minazuki-san...?

Sakura parou diante dela, ereta.

— Eu vim... te agradecer.

Yumi piscou, confusa.

— Pelo quê?

Sakura hesitou um segundo. Seu olhar caiu por um instante para a própria mão, depois voltou aos olhos verdes da santa.

— Pela cura. Ontem.

Mari parou de respirar por dois segundos.

Yumi pareceu ainda mais confusa.

— Mas... era o certo a fazer. Eu não pensei duas vezes.

— E por isso mesmo você merece mais do que palavras, respondeu Sakura, entregando a caixa.

— Aceite isso. É uma peça de proteção da minha família. Rara. Não deixará feridas atingirem sua alma.

Yumi ficou sem saber o que dizer. Olhou para Mari, que só gesticulou com um "aceita logo". Depois, voltou os olhos para Sakura.

— M-mas... eu não faço nada esperando retribuição...

— Eu sei. Sakura deu um meio sorriso. — Mas eu também não dou presentes levianamente. Então aceite.

Yumi, envergonhada, assentiu devagar.

— Obrigada… Minazuki-san.

Sakura virou-se sem dizer mais nada. Mas, conforme se afastava, Mari sussurrou:

— Sabia que você gostava dela.

— Cala a boca, Mari.

Em outro ponto da academia, Saori estava apoiada contra a varanda do segundo andar, olhando para o céu sem realmente enxergá-lo.

Seus dedos brincavam com o medalhão da família Kurosawa. O vento bagunçava seus cabelos dourados.

"Ele me salvou duas vezes..."

"Do raksha, dos meus irmãos...."

Fechou os olhos. Por um momento, sentiu o som abafado do confronto. O olhar de Hiro. Frio. Intenso.

"Tão direto. Sem hesitar. Sem fingir."

"por quê… por que isso me fez... sentir alguma coisa?!

Ela segurou a própria testa com a palma da mão.

— Não, não, não! Ele é um plebeu! Com carisma de uma pedra molhada! Ele nem sorri! Ele... tem um cabelo bonito. E aquele olhar firme... e—AAAAA!

Saori bateu com a cabeça na parede.

Do corredor próximo, um criado da família Kurosawa viu a cena... e simplesmente seguiu em frente sem comentar nada.

Em um dos telhados da torre sul, Hikari von Richter observava tudo de cima.

Ela via a movimentação dos colegas, as expressões, os sorrisos, os olhares.

Patéticos.

"Ah, o amor juvenil... que comédia sem graça."

Ela observou Saori batendo a cabeça na parede e bufou.

Depois seus olhos pousaram em Sakura, que ainda caminhava com aquele andar disciplinado, controlado… mas ela reconhecia o leve tremor nas mãos.

"Minazuki…"

"A honra em pessoa. A guerreira perfeita."

"A minha próxima vítima. De novo"

Um sorriso maníaco nasceu em seu rosto.

"Se o sorteio me colocar contra você… será uma delícia destruir sua honra pela terceira vez."

Ela se recostou no telhado com um suspiro satisfeito, como uma predadora esperando o momento certo para atacar.

No porão lacrado da torre central, Hiro Tanaka estava ajoelhado.

As paredes ao redor estavam cobertas de antigas inscrições e circuitos de dispersão arcana. Era um local onde a mana natural fluía de forma desordenada, perfeito para treinar detecção.

Mas Hiro não estava ali para treinar.

Sua mão estava espalmada no chão, olhos fechados, mana se espalhando pelo ambiente em ondas quase invisíveis.

— … esteve aqui.

Seu tom era seco. Grave.

Sentia ainda a trilha da distorção. Aquela presença.

Voidborn.

"Disfarçado. Escondido. Infiltrado. Um doppelgänger"

"Estão aqui…"

Seus olhos se abriram. Escuros. Fixos.

"Na minha vida passada, eles só atacaram quando a guerra estourou. Mas agora… já estão se movendo."

Levantou-se lentamente.

"Esse torneio… pode ser o palco perfeito pra eles."

Saiu sem fazer barulho. Mas por dentro, já se preparava para mais do que duelos escolares.

Ele se preparava para guerra.