A noite era densa e silenciosa sobre a Academia Arcadia. O céu fechado escondia as estrelas, e uma leve neblina descia pelas árvores do pátio leste. Todos os alunos já estavam recolhidos.
Todos… menos um.
Hiro Tanaka.
A camisa de treino estava pendurada num galho. O tronco nu e firme estava coberto por uma aura azul intensa, que envolvia seu corpo como uma armadura viva.
Estava no estágio 3 de aura. Mas agora... agora ele buscava algo mais.
"O limite está próximo..."
"Mas não é o bastante."
A espada de madeira em suas mãos parecia vibrar junto com o fluxo mágico que escapava de sua pele. O chão sob seus pés já havia afundado levemente, queimado por fricção e mana.
Ele fechou os olhos.
E então, como sempre acontecia nesses momentos limiares… a lembrança veio.
— Mais uma vez, Tanaka! — gritou Sakura, já adulta, com 20 anos, cabelos presos num coque, empunhando Nozarashi como se fosse extensão do braço.
— Tô no meu limite.
— Então quebre ele.
Ela avançou. O golpe dela colidiu com o de Hiro — aura contra aura. A pressão esmagava.
— Você quer salvar alguém? Então não treina como um soldado. Treina como um monstro!
— ...
— Mais uma vez!
De volta ao presente.
A aura azul de Hiro se expandiu, cobrindo todo o corpo como uma segunda pele vibrante, condensada, brilhando em tons vívidos. O pico do terceiro grau.
"Sakura... foi você quem me ensinou isso."
"A dor não é inimiga. É bússola."
Ele não sorriu. Mas os olhos brilharam.
Ele sentou-se devagar, cruzando as pernas.
Colocou a espada no colo.
O ar mudou.
Mana começou a girar ao redor de seu corpo. Três círculos mágicos surgiram, translúcidos, rotativos. O terceiro — o mais amplo — começava a ganhar solidez.
A intensidade do fluxo aumentava. Era como um ciclone invisível. As folhas da árvore ao lado tremulavam. Pedras levitavam.
"Ignis. Terrae. Aqua. Ventus. Fulmen."
Cinco forças. Cinquenta variações. Mil combinações.
E outra memória o atravessou como um sussurro malcriado.
Saori, 21 anos, olhos semicerrados e tom impaciente.
— Idiota! Não importa o quanto você seja rápido com a espada, se não souber manipular a mana vai morrer pra um inseto mágico!
— Você ensina pior do que respira!
— Porque eu não tenho paciência pra plebeu burro! Agora cala a boca e escuta.
Ela desenhava um círculo mágico no chão.
— Quer controlar mana? Para de pensar. Sente. Guia com o que sente. A cabeça vem depois.
A respiração de Hiro mudou.
Os três círculos giravam como engrenagens perfeitas. Nenhuma oscilação.
Pico do terceiro círculo mágico.
Ele abriu os olhos.
Levantou-se.
E então, começou o verdadeiro treino.
Um passo — Terrae, o chão sob seus pés se moldou como argila, impulsionando-o para frente.
Corte descendente — Ignis, faíscas flamejantes acompanharam a lâmina.
Giro — Ventus, o ar o empurrou numa curva perfeita, ganhando velocidade.
Salto — Aqua, redemoinhos de água giraram ao redor dos braços, estabilizando o impacto.
Desfecho — Fulmen, um relâmpago azul disparado da ponta da lâmina para o céu.
Tudo em um só movimento fluido.
Magia e esgrima. Pensamento e instinto. Técnica e raiva.
Era… arte.
Nos arbustos da lateral do pátio, quatro figuras observavam.
Sakura, ajoelhada atrás dos arbustos.
Pupilas dilatadas.
Fôlego preso.
“Isso… isso não é normal. Misturar aura e magia assim... nunca vi isso antes!”
Seu coração batia rápido.
Yumi, mais afastada, escondida entre colunas, cobria a boca com a mão. Os olhos estavam marejados.
"Ele tá se machucando. de novo..."
Mari, atrás dela, pela primeira vez sem sarcasmo.
— Ele é feito de cacos… e ainda tenta proteger os outros.
Saori, mais afastada, apoiada numa árvore, olhos semicerrados.
"Controlar cinco elementos… enquanto luta… e ainda não quebra? Nem eu consigo isso!"
"E-eu… eu nem consigo falar com ele direito…!"
O rosto dela avermelhou — e ela virou de costas, bufando.
— Idiota com talento…
Mas não parou de olhar.
Na escuridão, sob a luz fria da lua, Hiro Tanaka ergueu a espada uma última vez.
E cortou o ar.
Um arco de luz azul cruzou o campo, dissipando a neblina.
"Não vou falhar de novo."
"Dessa vez… eu vou vencer."