O campo de combate nº4 foi silenciado por uma runa de barreira — não apenas para proteger os espectadores, mas para garantir que nada interferisse no que estava prestes a acontecer.
No centro da arena, duas figuras de postura nobre se encaravam.
Saori e Ayaka Kurosawa.
Mesma linhagem.
Destinos opostos.
Ambas mantinham a coluna reta. Mas nos olhos… a verdadeira batalha já havia começado.
— Então você realmente vai lutar, irmãzinha bastarda? — disse Ayaka, sorrindo de lado. Sua voz vinha carregada de veneno, e de algo mais cruel: certeza.
— Não sou sua irmã — respondeu Saori. Firme. Gélida.
Ayaka ergueu uma sobrancelha, com desdém.
— Ah, certo. Você é só a lembrança viva do erro da nossa família. A herança de uma empregada que não soube seu lugar.
Saori não reagiu.
Mas seus punhos… fecharam com força.
— Erro… Veremos isso agora.
Ambas desviaram o olhar por um instante.
Acima, na tribuna principal, Daichi Kurosawa — o Duque da Magia — observava com a mesma expressão de gelo. Nem uma sobrancelha se moveu.
Mas sua presença pesava mais que qualquer conjuração.
Ayaka falou primeiro:
— Você acha mesmo que ele está te assistindo? Ele só está aqui por causa dos outros dois Pilares.
— Eu sei — respondeu Saori, sem hesitar. — Mas também sei conjurar feitiços que você nem consegue entender.
— Veremos então se “talento” consegue vencer uma linhagem pura.
— O talento já venceu. Só falta você aceitar isso.
O instrutor ergueu a mão.
— Combatentes, posicionem-se!
As runas começaram a brilhar ao redor das duas.
Elementos rodopiavam no ar.
Ayaka se preparava com Ignis e Terrae — combinação de ataque e blindagem.
Mas Saori…
Estendeu seu bastão mágico.
Quatro círculos surgiram, girando em perfeita sincronia.
Aqua. Ignis. Ventus. Terrae.
As arquibancadas prenderam a respiração.
— Ela está mantendo os quatro elementos ativos?!
— Isso é impossível... a precisão exigida é absurda!
Ayaka rosnou, irritada.
— Você vai se arrepender de me envergonhar diante del!
— Você já se envergonha sozinha.
— Comecem!
Ayaka atacou primeiro.
Uma lança de pedra — Terrae — saiu como um tiro. Saori nem piscou.
Ventus desviou o projétil. Aqua formou um escudo giratório ao redor do corpo.
Ayaka estalou os dedos, invocando chamas em espiral.
— Ignis Orb!
Mas Saori ergueu a mão direita.
Saori nem se mexeu.
Ventus e Aqua rodaram em torno dela, fundindo-se.
— Cryo.
A espiral congelou no ar.
Formas de gelo azulado tilintaram como sinos.
As lanças se quebraram antes mesmo de tocar o chão.
Os murmúrios começaram nas arquibancadas.
— Ela fez fusão elemental?!
— Ela congelou o ataque da irmã com uma combinação mágica!?
Ayaka gritou:
— Você só tem truques de bastarda!
Saltou, combinando Ignis e Ventus. Um redemoinho flamejante desceu sobre Saori.
Ela respondeu com um gesto mínimo:
— Aqua.
Uma muralha líquida emergiu, bloqueando a colisão. O fogo explodiu em vapor.
Mas no meio da névoa…
Ayaka já descia com os punhos revestidos em Terrae.
— Você vai cair aqui!
— Uma maga partindo pro combate físico? Quanto desespero… — disse Saori, com um sorriso arrogante.
Saori ergueu o bastão.
Três feitiços foram conjurados ao mesmo tempo.
Ignis. Ventus. Terrae.
A fusão explodiu.
O chão sob Ayaka se desfez em cinzas e poeira, lançando-a para trás com um impacto surdo.
Uma combinação rara. Criar combustão da própria terra, carregada pelo vento e alimentada com ignis — uma explosão sem chamas, mas com força bruta.
Ayaka caiu ajoelhada, tossindo, o grimório flutuando desestabilizado.
— Como…?
Saori, ainda firme, estendeu o bastão na direção da irmã, com o olhar brilhando com mana.
— Você perdeu.
Ayaka tentou se erguer, mas suas pernas cederam.
O juiz ergueu a mão.
— Vitória de Saori Kurosawa!
As arquibancadas explodiram. O nome “Saori” ecoou alto pela primeira vez — não com escárnio, mas com respeito.
Saori levantou o rosto. E olhou para cima.
Daichi Kurosawa continuava imóvel.
Nada.
Nenhuma reação.
Mas dessa vez… ela não sentiu dor.
Porque, na multidão, Hiro Tanaka a observava.
Um leve aceno de cabeça.
E um pequeno sorriso.
Saori sorriu de volta.
“Eu venci, idiota. Eu venci.”
Ela sorriu.
“Confie em mim,” ele disse.
E ela confiou.
E venceu.