Capítulo 102 – Sangue e Orgulho Partilhado

O campo de combate nº4 foi silenciado por uma runa de barreira — não apenas para proteger os espectadores, mas para garantir que nada interferisse no que estava prestes a acontecer.

No centro da arena, duas figuras de postura nobre se encaravam.

Saori e Ayaka Kurosawa.

Mesma linhagem.

Destinos opostos.

Ambas mantinham a coluna reta. Mas nos olhos… a verdadeira batalha já havia começado.

— Então você realmente vai lutar, irmãzinha bastarda? — disse Ayaka, sorrindo de lado. Sua voz vinha carregada de veneno, e de algo mais cruel: certeza.

— Não sou sua irmã — respondeu Saori. Firme. Gélida.

Ayaka ergueu uma sobrancelha, com desdém.

— Ah, certo. Você é só a lembrança viva do erro da nossa família. A herança de uma empregada que não soube seu lugar.

Saori não reagiu.

Mas seus punhos… fecharam com força.

— Erro… Veremos isso agora.

Ambas desviaram o olhar por um instante.

Acima, na tribuna principal, Daichi Kurosawa — o Duque da Magia — observava com a mesma expressão de gelo. Nem uma sobrancelha se moveu.

Mas sua presença pesava mais que qualquer conjuração.

Ayaka falou primeiro:

— Você acha mesmo que ele está te assistindo? Ele só está aqui por causa dos outros dois Pilares.

— Eu sei — respondeu Saori, sem hesitar. — Mas também sei conjurar feitiços que você nem consegue entender.

— Veremos então se “talento” consegue vencer uma linhagem pura.

— O talento já venceu. Só falta você aceitar isso.

O instrutor ergueu a mão.

— Combatentes, posicionem-se!

As runas começaram a brilhar ao redor das duas.

Elementos rodopiavam no ar.

Ayaka se preparava com Ignis e Terrae — combinação de ataque e blindagem.

Mas Saori…

Estendeu seu bastão mágico.

Quatro círculos surgiram, girando em perfeita sincronia.

Aqua. Ignis. Ventus. Terrae.

As arquibancadas prenderam a respiração.

— Ela está mantendo os quatro elementos ativos?!

— Isso é impossível... a precisão exigida é absurda!

Ayaka rosnou, irritada.

— Você vai se arrepender de me envergonhar diante del!

— Você já se envergonha sozinha.

— Comecem!

Ayaka atacou primeiro.

Uma lança de pedra — Terrae — saiu como um tiro. Saori nem piscou.

Ventus desviou o projétil. Aqua formou um escudo giratório ao redor do corpo.

Ayaka estalou os dedos, invocando chamas em espiral.

— Ignis Orb!

Mas Saori ergueu a mão direita.

Saori nem se mexeu.

Ventus e Aqua rodaram em torno dela, fundindo-se.

— Cryo.

A espiral congelou no ar.

Formas de gelo azulado tilintaram como sinos.

As lanças se quebraram antes mesmo de tocar o chão.

Os murmúrios começaram nas arquibancadas.

— Ela fez fusão elemental?!

— Ela congelou o ataque da irmã com uma combinação mágica!?

Ayaka gritou:

— Você só tem truques de bastarda!

Saltou, combinando Ignis e Ventus. Um redemoinho flamejante desceu sobre Saori.

Ela respondeu com um gesto mínimo:

— Aqua.

Uma muralha líquida emergiu, bloqueando a colisão. O fogo explodiu em vapor.

Mas no meio da névoa…

Ayaka já descia com os punhos revestidos em Terrae.

— Você vai cair aqui!

— Uma maga partindo pro combate físico? Quanto desespero… — disse Saori, com um sorriso arrogante.

Saori ergueu o bastão.

Três feitiços foram conjurados ao mesmo tempo.

Ignis. Ventus. Terrae.

A fusão explodiu.

O chão sob Ayaka se desfez em cinzas e poeira, lançando-a para trás com um impacto surdo.

Uma combinação rara. Criar combustão da própria terra, carregada pelo vento e alimentada com ignis — uma explosão sem chamas, mas com força bruta.

Ayaka caiu ajoelhada, tossindo, o grimório flutuando desestabilizado.

— Como…?

Saori, ainda firme, estendeu o bastão na direção da irmã, com o olhar brilhando com mana.

— Você perdeu.

Ayaka tentou se erguer, mas suas pernas cederam.

O juiz ergueu a mão.

— Vitória de Saori Kurosawa!

As arquibancadas explodiram. O nome “Saori” ecoou alto pela primeira vez — não com escárnio, mas com respeito.

Saori levantou o rosto. E olhou para cima.

Daichi Kurosawa continuava imóvel.

Nada.

Nenhuma reação.

Mas dessa vez… ela não sentiu dor.

Porque, na multidão, Hiro Tanaka a observava.

Um leve aceno de cabeça.

E um pequeno sorriso.

Saori sorriu de volta.

“Eu venci, idiota. Eu venci.”

Ela sorriu.

“Confie em mim,” ele disse.

E ela confiou.

E venceu.